Batalha do 3D se alastra do cinema para a sala de estar

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Audiovisual: Sony, Samsung, LG e Panasonic investem em TVs e outros dispositivos para uso em casa

 

O sucesso do filme Avatar, que já arrecadou mais de US$ 2 bilhões em bilheteria no mundo, acendeu a disputa entre as companhias que produzem equipamentos com tecnologia 3D, como Sony e Panasonic, que participaram de diferentes fases do filme. Mas a guerra das grandes empresas para associar suas tecnologias à produção e transmissão de conteúdo em três dimensões está ultrapassando rapidamente os limites do cinema para chegar à sala de estar dos consumidores, na forma de TVs e outros dispositivos residenciais.

 

Na hora de elaborar suas políticas de aliança, os competidores estão tomando caminhos diferentes. Enquanto Panasonic e Samsung estabelecem acordos com estúdios de cinema e produtoras de vídeo e publicidade, a Sony avança rumo às emissoras de TV. No exterior, a empresa já anunciou uma parceria com a Discovery para criar canais com conteúdo produzido exclusivamente em 3D. Também fechou um acordo com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), para gravar 25 jogos com essa tecnologia, e acertou um contrato com a ESPN para transmitir os jogos em três dimensões.

 

No Brasil, o primeiro acordo da Sony foi fechado com a TV Globo, que fez transmissões de teste do Carnaval em salas especiais no Rio de Janeiro e está usando o 3D em gravações da novela "Viver a Vida". A emissora avalia a criação de um canal pago com conteúdo produzido exclusivamente em 3D, assim como a Discovery e a ESPN.

 

Embora o 3D ainda dê seus primeiros passos na casa do consumidor, já há discussões sobre a fixação de regras para a criação de canais com conteúdo sob essa plataforma tecnológica. O Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, composto por empresas de toda a cadeia televisiva, avalia a criação de um canal aberto em 3D, além de canais pagos.

 

As operadoras de TV a cabo já começaram a reforçar os investimentos em infraestrutura para a transmissão do sinal em 3D. A Net, que no ano passado investiu R$ 1 bilhão na ampliação de sua rede de cabos ópticos e em equipamentos, planeja aplicar mais R$ 200 milhões neste ano para tornar a estrutura apta às transmissões em alta definição e em 3D, afirma o diretor de produtos e serviços, Marcio Carvalho. A empresa abriu um canal para testar a cobertura do Carnaval pela Rede Globo e tem parceria com a ESPN para a transmissão de jogos da Copa do Mundo.

 

A TVA também afirma estar investindo na melhoria de sua infraestrutura para a transmissão do sinal em 3D, embora não revele o valor do investimento. O diretor de tecnologia e estratégia da TVA, Virgílio Amaral, observa que a transmissão em 3D ocupa 30% mais banda que uma transmissão em HD. "O ponto de divergência entre as emissoras hoje é sobre o tipo de imagem a ser transmitida, se será aquela que exigirá o uso de óculos ou não. Acredito que no caso da TV, a tecnologia em 3D ainda vai demorar um pouco para ser incorporada, chegando talvez só em 2011", afirma o executivo.

 

Na experiência da Rede Globo com o Carnaval, as filmagens foram transmitidas em locais escolhidos pela emissora, sob uma tecnologia que exige o uso dos óculos especiais. A gravação foi feita com pequenas câmeras 3D de alta definição da Sony, compostas cada uma por um par de lentes que grava as imagens à semelhança da visão humana, o que dá à transmissão o efeito tridimensional. "Para jogos de futebol, a câmera pode ser de tamanho normal, mas para filmar detalhes foi necessário trazer uma câmera menor", afirma o diretor da divisão profissional da Sony no Brasil, Armando Ishimaru.

 

Fora do circuito televisivo, a Sony também forneceu tecnologia ao estúdio Teleimage para a filmagem de cinco filmes. Em estágio mais avançado está a animação "Brasil Animado", que deve ser concluída até o início de 2011. No segundo semestre, o estúdio também planeja iniciar a gravação dos filmes "Terapia do Medo", "Tainá 3", "A Oitava Princesa" e um projeto de animação no estilo de "Monstros S/A", da Disney.

 

"A empresa se esforça para fechar outras parcerias estratégicas na área de produção de conteúdo, para que as pessoas sejam estimuladas a apreciar os aparelhos em 3D", afirma o gerente de comunicação e propaganda da Sony, Lúcio Pereira. A empresa já oferece no país câmeras e outros aparelhos para gravação em 3D, equipamentos para projeção em cinema, além do console de videogame PlayStation 3 (PS3), mas hoje tudo isso é importado. "Existe um trabalho forte para aumentar a oferta desses produtos no Brasil", diz o executivo.

 

A Panasonic, que colaborou com a Twentieth Century Fox e a Lightstorm Entertainment na promoção mundial do filme Avatar, também negocia com produtoras e estúdios brasileiros o fornecimento de sua tecnologia para filmagens em 3D. A empresa, porém, prefere não entrar em detalhes sobre as negociações. "Os Estados Unidos e o Japão vão lançar conteúdo para TV em 3D entre abril e junho. No Brasil ainda falta produção de conteúdo para impulsionar as vendas de aparelhos de TV, mas acredito que a tecnologia chegará ao país ainda este ano", afirma o analista de produtos da Panasonic do Brasil, Daniel Kawano.

 

Mesmo com uma oferta pequena de conteúdo local, a Panasonic aposta no mercado brasileiro de televisores. A empresa está importando os aparelhos, mas estuda iniciar a produção em Manaus. No mundo, observa Kawano, as previsões são de que as vendas de TVs 3D ficarão entre 3 milhões e 6 milhões de unidades neste ano. "O que vai impulsionar as vendas é a oferta de conteúdo. No Brasil já há testes sendo feitos, mas ainda é difícil dizer quando esse mercado vai se estabelecer", diz. A estimativa de Kawano é de que até 2011 a venda de equipamentos 3D ganhe força no país.

 

Além das TVs, as companhias se apressam a lançar câmeras, celulares e computadores capazes de transmitir imagens em três dimensões. Na próxima semana, a LG fará o lançamento de uma série de produtos no Brasil, incluindo uma TV capaz de transmitir imagens 3D em alta definição. Procurada, a empresa preferiu não dar detalhes sobre o assunto.

 

A Samsung pretende trazer ao país, ainda este ano, um aparelho de TV, um tocador de Blu-ray e um equipamento de home theater adequados a programações em 3D, embora o lançamento mundial dos produtos ainda não tenha data definida, afirma o diretor da divisão de eletrônicos de consumo da empresa, Márcio Portella Daniel. "O 3D já era apreciado no cinema, mas finalmente torna-se acessível ao consumidor, permitindo que ele tenha a experiência com a tecnologia dentro de casa", observa.

 

É difícil prever, por enquanto, qual será o tamanho do mercado de dispositivos residenciais 3D no Brasil. Mas para companhias que já oferecem a tecnologia ao mercado empresarial, as expectativas são positivas. A Absolut Technologies, empresa brasileira especializada em realidade virtual e sistemas 3D, estima elevar as vendas neste ano em 30%, depois de ter crescido 15% no ano passado, afirma seu sócio-diretor, Hans Ulmer.

 

"O 3D, como outras tecnologias que antes eram voltadas ao mercado empresarial, está migrando para a casa das pessoas. Acredito que a expansão de demanda que ocorre nas empresas em breve também ocorrerá no varejo", diz Ulmer. A Absolut vende TVs, monitores, projetores e óculos adaptados à tecnologia 3D e instala salas de projeções para empresas e cinemas. No Brasil, a companhia tem uma carteira de mais de 100 usuários, incluindo clientes como Petrobras e Volkswagen.

 

Outra empresa que prevê um crescimento significativo é a 3D Impact Media, que no fim do ano passado iniciou a instalação de equipamentos 3DX no Brasil, que dispensam o uso de óculos para ver as imagens. A empresa também criou uma unidade para produzir conteúdos 3D para agências de publicidade (como produção original ou conversão de 2D para 3D). Segundo o presidente da companhia, Michael Kronenberg, a demanda por esse tipo de serviço está dobrando de tamanho a cada seis meses. "A procura tem sido principalmente de peças publicitárias para cinema e para mídia 'indoor' [publicidade para estabelecimentos fechados, como recepções, elevadores e ônibus]", afirma o executivo
 

 

Veículo: Valor Econômico


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