A Nestlé tem pela frente uma pergunta de US$ 28,1 bilhões. Os investidores têm respostas de sobra. A maior companhia da Europa em valor de mercado pode comprar, com dinheiro, praticamente qualquer operação alimentícia de capital aberto que quiser, quando receber o pagamento por sua participação na Alcon, no segundo semestre.
Os acionistas querem que a fabricante dos chocolates Suflair e dos sorvetes Mega se expanda nos países emergentes para equiparar-se à distribuição regional da Unilever, que obtém cerca da metade de suas vendas no mundo em desenvolvimento.
"O mundo está aos pés da empresa, mas ela não pode pagar caro demais", disse Wendy Trevisani, gestora de fundos da Thornburg Investment Management, que tem mais de US$ 700 milhões investidos em ações da Nestlé. "Claramente, eles são retardatários nos países emergentes", acrescentou.
A Nestlé receberá US$ 28,1 bilhões da Novartis por sua participação majoritária na Alcon, fabricante do Opti-Free, produto de limpeza de lentes de contatos, o que lhe dará um caixa superior aos US$ 26,5 bilhões que o do Google tinha em março. A Nestlé iniciará um novo programa de recompra de ações no valor de 10 bilhões de francos suíços (US$ 9,2 bilhões), embora tenha preferência por fazer mais investimentos em suas operações ou promover aquisições, segundo afirmou em 22 de junho o diretor de finanças da empresa, Jim Singh.
Nos países em desenvolvimento, cerca de 1 bilhão de consumidores terão aumento de renda suficiente para poder arcar com produtos na Nestlé nos próximos dez anos, segundo estima a empresa de Vevey, Suíça. A maior companhia alimentícia mundial obtém cerca de 35% de sua receita em economias emergentes. O executivo-chefe da Nestlé, Paul Bulcke, pretende elevar esse percentual para 45% em uma década.
As vendas da Nestlé em países emergentes subiram 8,5% em 2009, o dobro da taxa de aumento na receita total da companhia. Suas vendas nessas regiões somaram 35 bilhões de francos, mais do que qualquer concorrente.
A empresa poderia comprar empresas de água engarrafada em países como a China, de acordo com Frits van Dijk, chefe das operações da Nestlé na Ásia. Também poderiam ser consideradas aquisições para expandir suas operações de produtos de nutrição para atletas, como o PowerBar, segundo o executivo-chefe da Nestlé Nutrition, Richard Laube. Entre os possíveis alvos também está a Synutra International, fabricante de comida para bebês chinesa de US$ 950 milhões, de acordo com a analista Katherine Lu, da Oppenheinmer.
Para o analista James Targett, da Consumer Equity Research, a Nestlé deveria cogitar a compra de empresas de ração para melhor concorrer com a Procter & Gamble, que acertou a aquisição da Natura Pet Products, em 5 de maio, ou entrar em mercados de água engarrafada na Índia e África.
Em 18 de junho, o executivo-chefe da Nestlé Waters, John Harris, disse que a companhia tem uma lista de cinco novos países, além dos 37 onde já engarrafa água mineral, em que gostaria de atuar. Além desses países, China, Brasil, nações do Oriente Médio, além do Paquistão estão nos planos de expansão da empresa para aquisições, segundo Harris.
"O dinheiro permite à Nestlé ter disposição para investir além de suas operações e mercados atuais", afirmou Thomas Russo, sócio da Gardner Russo & Gardner, que detém mais de US$ 350 milhões em ações da Nestlé por meio dos investimentos de seus clientes. "Eles têm o campo quase todo para eles no momento." Ferhat Soygenis, porta-voz da Nestlé, não quis comentar o assunto.
Bulcke, de 55 anos, promoveu apenas uma aquisição superior a US$ 1 bilhão desde abril de 2008, quando assumiu o posto de executivo-chefe. Um dia após a venda da Alcon, anunciou a compra das operações de pizza congelada da Kraft na América do Norte, por US$ 3,7 bilhões. O executivo-chefe comprometeu-se a gastar até 3 bilhões de francos por ano em aquisições de empresas de menor porte, com a companhia ressaltando não ter necessidade de buscar compras "transformacionais".
O dinheiro devido pela Novartis é suficiente para comprar qualquer rival da Nestlé no setor de bebidas não alcoólicas e de alimentos, com exceção das seis maiores. Essa conta inclui o ágio médio de 22% que a Nestlé pagou em suas aquisições de empresas de capital aberto desde 2000. David Hayes, da Nomura, acredita que a Nestlé poderia voltar suas atenções para General Mills, com valor de mercado de US$ 24,8 bilhões.
As únicas companhias de alimentos e bebidas não alcoólicas com capitalizações de mercado superiores a US$ 28,1 bilhões são a Coca-Cola, PepsiCo, Unilever, Kraft e a Danone.
A HJ Heinz e a Hershey também seriam alvos da Nestlé, segundo informe da Euromonitor, de 20 de maio. A Heinz daria espaço para a Nestlé reduzir custos em itens culinários e comida para bebê. A Hershey fortaleceria a Nestlé em regiões onde a companhia é fraca no segmento de chocolates, de acordo com empresa de pesquisa. A Heinz vale em torno de US$ 14 bilhões, enquanto a Hershey é avaliada em US$ 11 bilhões.
Veículo: Valor Econômico