Pesquisa mostra que 75% conhecem Inmetro, mas há dúvidas sobre certificação de brinquedos, entre outros
A maioria dos brasileiros conhece (75%) e grande parte dos que conhecem confiam (85%) no trabalho feito pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). E esse número tende a aumentar, dizem os analistas.
Isso porque está se formando uma geração de consumidores mais conscientes, mais preocupados com segurança, qualidade e precisão de produtos e equipamentos. Esse é um dos dados levantados pela pesquisa realizada pelo Inmetro, com cerca de duas mil pessoas em todas as regiões do país, que mostra ainda que 83% dos jovens entre 16 e 24 anos conhecem o instituto.
- Em todas as questões feitas, os jovens se mostraram mais atentos e mais informados. O que nos leva a concluir, segundo os dados da pesquisa, que essa nova geração tende a ter hábitos de consumo mais conscientes do que os cidadãos de 45 ou mais anos de idade - diz Silvio Ghelman, chefe da Divisão de Gestão Corporativa do Inmetro.
Consumidores mostram desconfiança com certificações A pesquisa, que começou a ser realizada pelo instituto em 1996, mais do que avaliar a visibilidade do Inmetro entre os brasileiros, verifica a credibilidade dos programas de certificação de produtos e equipamentos.
E os resultados mostram, em alguns casos, que há uma grande desconfiança por parte do consumidor.
Brinquedos, conversão de carro para gás e cadeiras plásticas estão entre os produtos pior avaliados pelos cidadãos. Entre os instrumentos, as bombas de combustíveis, as balanças de restaurantes a quilo, os taxímetros e as balanças de feiras são os que apresentam menor confiabilidade.
Segundo Ghelman, o resultado da pesquisa, nessa questão, mostra que a percepção do consumidor não corresponde à realidade da segurança e da conformidade dos equipamentos: - Os medidores de pressão, que têm a confiança de 69% dos entrevistados, são problemáticos, pois necessitam de aferição anual e nem todos os médicos obedecem a essa periodicidade. Mas as pessoas acreditam que o resultado está certo. Já as balanças de restaurantes, que costumam ser auferidas com regularidade, têm um baixo índice de confiança (32%).
Alfredo Lobo, diretor da Divisão de Qualidade do instituto, destaca ainda que as avaliações dos cidadãos estão diretamente relacionadas à visibilidade dos produtos na mídia e também a frequência de uso.
A baixa credibilidade da certificação dos brinquedos, por exemplo, cita Lobo, estaria diretamente relacionada ao aumento do número de recalls no setor: - Apesar de não ter sido notificado nenhum acidente com brinquedos no Brasil, adotamos os recalls pelo princípio de precaução e fizemos mudanças, tornando ainda mais rigoroso o processo de certificação. Mas há uma questão cultural, os brasileiros veem muito mal os recalls. Nos EUA, há dez por semana, e o impacto na opinião pública é diferente.
O diretor de Qualidade acrescenta que o Inmetro acompanha de perto os recalls mundo afora: - Hoje os produtos são globalizados, por isso qualquer sinalização na Europa ou nos Estados Unidos é considerada importante para nós. O ideal é que todos os produtos saíssem de fábrica completamente seguros, mas isso é uma utopia. Daí a importância do recall.
Se de um lado a pesquisa aponta desconfiança de parte dos consumidores, de outro mostra que 49% dos entrevistados dizem preferir pagar até 10% mais por um produto com selo do Inmetro. O resultado da pesquisa, ressalta o diretor de Qualidade, é indicativo para a atuação do instituto. Foi a partir do relato de acidentes, por exemplo, que foi criada a certificação compulsória das panelas de pressão, que entrou em vigor no início deste ano.
- Além disso, a pesquisa nos permite analisar tendências, reavaliar processos, verificar se um programa precisa de revisão, se há necessidade de ampliar fiscalização ou mesmo indica se um setor está descomprometido com a qualidade.
Atualmente, antecipa Lobo, os especialistas do Inmetro estão discutindo novos enfoques para acompanhar o setor de brinquedos.
A primeira atividade é uma verificação da qualidade dos brinquedos certificados, que já estão sendo comprados pelos lojistas para abastecer os estoques para o Dia da Criança e o Natal.
Idec e entidade internacional avaliam positivamente o Inmetro Na avaliação da consultora técnica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Teresa Leporace, de meados da década de 90 para cá o Inmetro fez um enorme avanço ao se aproximar da população.
Isso, explica, diferencia o instituto da maioria dos demais órgãos reguladores e fiscalizadores: - Isso foi muito importante, pois os cidadãos precisam ter clareza do que os órgãos falam e como acessálos.
Outro ponto positivo foi o fato de o Inmetro estar cada vez mais próximo do sistema nacional de defesa do consumidor, o que é fundamental para a ampliação dos direitos. O que falta ainda é a maior divulgação sobre o processo regulatório para que os consumidores não só entendam a importância deles para a sua segurança, como sejam aliados da entidade nessa cobrança. O consumidor precisar ser os olhos do fiscalizador, afinal não é possível estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Karolina Havrilla, da International Measurement Confederation (Imeko) - organização não governamental húngara, criada em 1958 para promover o intercâmbio internacional de informação no campo de medição - destaca a cooperação com o instituto brasileiro.
- Temos uma cooperação muito boa com o Inmetro, desde 1997, juntamente com a Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM), que é nosso membro. O instituto foi um dos organizadores do nosso congresso mundial em 2006 e parceiro de vários eventos no passado e, esperamos, num futuro próximo - explica Karolina.
O presidente da SBM, João Carlos Lerch, afirma que hoje o Inmetro está no mesmo nível das entidades de Primeiro Mundo: - Temos reconhecimento mundial, confiabilidade e respeitabilidade.
É lógico que ainda há muito a ser feito na área de metrologia, como a reformulação dos Institutos de Pesos e Medidas (Ipems), mas estamos no caminho.
Veículo: O Globo - Rio de Janeiro