Consumo no Brasil está estabilizado há três anos em 33 quilos per capita anuais. Ideal é 66 kg, segundo a OMS
O consumo do tradicional pãozinho e de seus derivados está estagnado na dieta das famílias brasileiras, segundo dados dos panificadores. Apesar do crescimento da oferta no varejo, há três anos o brasileiro consome os mesmos 33 quilos por habitante, exatamente metade do sugerido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta como ideal 66kg, devido à presença de carboidrato. Nos grandes centros, o pãozinho francês, que já reinou absoluto, sofre com a estabilidade da demanda, além de ter se transformado em apenas mais um item dentro da diversidade de produtos oferecidos pelas grandes padarias. Considerando-se somente o tradicional pãozinho francês, o brasileiro teria de consumir o dobro para atingir a meta da OMS. Ou seja, em vez de consumir em média 1,8 pãozinho de 50 gramas por dia, o brasileiro deveria comer quase quatro pães/dia. Por mês, seriam 110 pães – e, por ano, cada habitante comeria 1.320 pães, metade do consumido hoje.
Emperrando o crescimento do consumo brasileiro está a guerra com outros grupos de alimentos. Com a melhoria da renda, produtos como iogurtes, cereais, frutas e até sucos se tornaram mais acessíveis ao bolso da população. A cultura alimentar também pesa nas estatísticas. Diferentemente de países europeus, que chegam a consumir mais de 80 quilos do produto por habitante, nacionalmente o pão costuma ser consumido apenas no café da manhã e no lanche da tarde. A correria do dia a dia também contribui para encurtar as idas semanais à padaria, o que reduz a presença do alimento na mesa. A boa notícia para o consumidor é que, diante da linha estável do gráfico, panificadores garantem que não há previsão de alta para o preço do produto. O quilo do pão francês em Belo Horizonte varia entre R$ 4 e R$ 8,9, e o preço também é apontado como um entrave para o crescimento.
No contra-ataque, as padarias estão cada vez mais sofisticadas, oferecendo maior variedade. Talvez entre todos os pães, quem tem mais sofrido com a forte concorrência é o número um na preferência nacional. O pão francês é obrigado a dividir seu espaço não só com alimentos como os lácteos, mas também com dezenas de novos derivados do trigo, que a cada dia ampliam seu espaço nas prateleiras.
Para não ficar para trás, o produto também se moderniza. “Novas tecnologias estão sendo introduzidas para tornar o pão francês cada vez mais crocante e com mais sabor”, comenta Luiz Carlos Xavier, presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação de Minas Gerais. Ele lembra que a associação tem feito campanhas para crescer o consumo do produto, destacando sua importância nutricional. A proprietária da padaria Vianey, na região Sul da cidade, Isabella Santiago destaca também os esforços para crescer a participação na merenda escolar.
Na família da relações públicas Andrea Souza, o pão é consumido duas vezes ao dia, com destaque para o produto industrializado. “Nosso consumo é estável. Nos últimos anos, não aumentamos a quantidade consumida.” Segundo Andrea, o resgate do pão francês, vindo da padaria quentinho e fresco, foi deixado para o fim de semana.
Na opinião da coordenadora técnica do Conselho Regional de Nutricionistas, Adriana Leite, hábitos culturais devem ser mantidos. “O consumo do pãozinho com café de manhã e à tarde é base de energia e, dentro da proposta de uma dieta saudável, faz muito bem à saúde.” Para ela, o consumo de pães poderia ser ampliado no Brasil se produtos como os integrais tivessem um custo menor. “Esses pães ainda são caros para o bolso do brasileiro.” Xavier também considera que, apesar da melhoria da renda da população, o poder aquisitivo ainda desafia o avanço do consumo. Welson Senna, dono da Panecito, na Região Oeste de Belo Horizonte, notou uma leve redução nas vendas do pão francês. No entanto ele aposta na manutenção do reinado: “O pão francês é o mais comum, mas continua sendo o preferido”.
Veículo: O Estado de Minas