As estatísticas mais recentes sobre o desempenho do mercado de trabalho confirmam a manutenção de um cenário bastante favorável para este ano.
O comportamento da demanda doméstica, principal fator de sustentação da atividade econômica desde 2009, vem propiciando a ampliação contínua do número de vagas, nas comparações 2010/2009, conforme demonstram as estatísticas do Caged e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.
Contudo, como os indicadores sobre o nível de atividade relativos ao segundo trimestre já apontaram, há uma desaceleração do ritmo econômico em curso.
Significa dizer que há uma percepção dos empresários de que os negócios continuarão se expandindo, mas a uma velocidade menor do que a observada nos primeiros meses deste ano. Isso se reflete tanto nos indicadores setoriais de atividade (pesquisa industrial mensal e pesquisa mensal de comércio) como nos índices de confiança das empresas industriais e, principalmente, do setor de serviços.
A retirada dos estímulos que impulsionaram (e anteciparam) a demanda por bens duráveis, a elevação do endividamento das famílias decorrente do forte ciclo de compras a crédito, a aceleração da inflação nos primeiros meses do ano e a sinalização da política monetária estariam na base dessa trajetória de expansão mais suave.
A evolução dos indicadores do mercado de trabalho em junho sugere, ainda que com base apenas na informação de um mês, uma moderação no ritmo de expansão.
A queda da taxa de desemprego entre maio e junho não se deu pelo aumento do número de pessoas ocupadas, mas pela menor procura por trabalho. Trata-se de uma primeira sinalização, que precisa ser confirmada nos próximos indicadores.
Na área de construção, por exemplo, as condições para a manutenção de um ritmo forte de expansão do emprego estão mantidas.
A redução da procura por trabalho em junho, que determinou a queda da taxa de desemprego, pode refletir fatores muito pontuais. Além de um natural adiamento da decisão de buscar uma colocação em junho por conta das férias de julho, é possível que a Copa do Mundo (com paralisações nos dias de jogos do Brasil) tenha tido também influência na menor pressão sobre o mercado de trabalho no mês.
Se for assim, é possível esperar uma maior procura por trabalho nos próximos meses. Curiosamente, o índice de confiança do consumidor deste mês, dado divulgado pela FGV, reflete um quadro de otimismo em patamar bem elevado, com avaliações favoráveis quanto à situação financeira familiar e à evolução da economia.
Os números sobre o mercado de trabalho mantêm avanços expressivos nas comparações interanuais e um primeiro sinal de acomodação no ritmo em junho. Isso pode vir a se confirmar nos próximos meses, ampliando assim os sinais de desaceleração do crescimento.
Veículo: Folha de S.Paulo