Aquisições de Medley e Teuto mostram apetite das múltis
A participação das multinacionais no mercado de genéricos do Brasil triplicou nos últimos dois anos, atingindo 40% do total da receita dos laboratórios que atuam nesse segmento no país. Há três anos, essa fatia era de 12%. "A entrada da francesa Sanofi-Aventis em 2009, com a compra da nacional Medley, a maior farmacêutica desse setor no país, elevou expressivamente a parcela do capital estrangeiro nessa área. Com a entrada da americana Pfizer [com compra de 40% do laboratório Teuto, com possibilidade de ter o controle], o peso das companhias internacionais aumentou", disse ao Valor Odnir Finotti, presidente da ProGenéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos).
A venda de medicamentos genéricos completou dez anos no Brasil neste ano. No início dos anos 2000, as farmacêuticas nacionais praticamente dominavam esse mercado - uma vez que as multinacionais estavam mais preocupadas em proteger suas patentes. Há dois anos, a participação das estrangeiras no país estava em 12%, segundo Finotti, representadas apenas Sandoz, braço de genéricos da suíça Novartis, e outras companhias de pequeno porte.
O movimento de consolidação de grupos internacionais em países emergentes, sobretudo no Brasil, começou nos últimos três anos, quando muitas companhias internacionais reduziram seu portfólio de produtos de inovação e tiveram a patente de medicamentos campeões de venda ("blockbusters") expirada.
O segmento de genérico movimenta 20% dos volumes totais de medicamentos no Brasil e 17% em valor, ou US$ 3,253 bilhões dos US$ 19,61 bilhões faturados até setembro deste ano (últimos 12 meses), de acordo com a consultoria IMS Health. Nos EUA, os volumes de genéricos chegam a 70% do total e na Alemanha, a 65%. "Nos países desenvolvidos, a participação dos genéricos cresce a taxas menores. No Brasil há muito espaço para avançar", disse Nilton Paletta, presidente da IMS. "As multinacionais estão vendo esse segmento como oportunidade, mas ainda é um grande desafio para elas, uma vez que os genéricos são commodities. A disputa é mais acirrada para quem tem maior portfólio e preços competitivos."
A própria Pfizer, que neste ano teve o Viagra (para disfunção erétil) e Lipitor (colesterol elevado), dois de seus principais produtos com patente vencida, decidiu se movimentar. Até o ano passado, a farmacêutica estava na disputa para levar a Neo Química, de Goiás, que acabou ficando nas mãos da Hypermarcas. Depois concentrou esforços para levar a Teuto, também do mesmo Estado. Nos Estados Unidos, a empresa comprou um laboratório especializado em genéricos de pequeno porte, o Greenstone.
Maior laboratório nacional, a EMS, de Hortolândia (SP), está investindo pesado este ano para avançar nesse segmento, com o lançamento das versões genéricas e similares do Viagra e do Lipitor. "Não acredito que seja positivo para o setor que uma multinacional detenha a patente e produza a versão genérica do produto", afirmou Waldir Eschberger, vice-presidente de mercado do grupo. "Estamos preparados para competir e atingirmos o primeiro lugar no ranking em genéricos", disse.
Segundo Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma), o que contará daqui para frente nesse mercado será a competitividade das indústrias do setor. "A participação dos genéricos na venda total dos medicamentos deverá crescer e atingir até 50% do volume nos próximos anos. A não ser que as grandes nacionais decidam vender seu controle [EMS, Aché, Eurofarma], as multinacionais deverão avançar daqui para frente sobre os pequenos e médios laboratórios do país", disse.
Só neste ano, a americana Valeant comprou dois laboratórios pequenos para crescer nesse segmento. Entre abril e maio deste ano, a farmacêutica comprou a Bunker, na capital paulista, e a Delta, de Indaiatuba (SP).
Mussolini lembra que grandes grupos estrangeiros também estão fazendo esse movimento fora do Brasil. Grandes multinacionais, como a Teva, estão olhando oportunidades no país. As próprias nacionais também seguem a mesma trilha. Embora não comente o assunto, a Mantecorp, de São Paulo, virou alvo de cobiça. Entre os interessados estão, além de grupos estrangeiros, o laboratório Aché, que poderá firmar parceria para aumentar o portfólio das duas empresas.
Veículo: Valor Econômico