Especulações no mercado internacional, queda na produção e demanda maior são responsáveis pelo aumento do preço do produto
O preço internacional do algodão atingiu o recorde em 140 anos e chegou a níveis que não eram vistos desde a Guerra Civil americana, no século XIX. Naquela época, a alta foi causada pelo bloqueio dos portos do sul dos Estados Unidos, o que impedia o escoamento da produção. Hoje, a especulação, safras abaixo do esperado no Paquistão, na China e Texas, além de uma demanda maior de países em desenvolvimento, puxam a alta.
No fim da semana passada, o preço na Bolsa de Nova York atingiu US$ 1,19 por libra, a maior desde que a Bolsa começou a registrar preços, em 1870. Ontem, o valor chegou a US$ 1,24 nos Estados Unidos. Os novos preços, considerando a inflação, estão abaixo do negociado durante a Guerra Civil.
Segundo dados da Mississippi Historical Society, o algodão foi vendido por US$ 1,89 por libra no auge da guerra. O preço atual é um salto importante em relação ao valor médio dos últimos 15 anos, que variou entre US$ 0,40 e US$ 0,80 por libra.
Há 140 anos, os americanos eram o maior produtor do mundo, mas o seu principal parceiro comercial era a Europa. Hoje, a preocupação é com a China, maior consumidor mundial e segundo produtor, superando os Estados Unidos. Em primeiro lugar está a Índia.
As projeções são de que a China produza 550 mil toneladas a menos de algodão neste ano, num total de 6,4 milhões de toneladas previstas. Já a produção mundial será 96 mil toneladas inferior ao do ano passado. Segundo a consultoria Cotlook, a produção deve ficar em 25,06 milhões de toneladas no mundo.
As chuvas no Texas e temperaturas baixas na China geraram ainda mais preocupações para a indústria têxtil. Na Bolsa de Zhenghou, na China, o preço do produto subiu em 5%. "Temperaturas baixas e a chuva vão desacelerar e danificar a qualidade da fibra", informou o Centro Meteorológico Chinês.
A situação está se transformando em uma dor de cabeça para a indústria têxtil e a proliferação do impacto do preço está sendo muito mais veloz do que há 140 anos. Nos Estados Unidos, o setor industrial já planeja repassar aos consumidores o aumento dos preços.
Na Índia, onde 60% da indústria têxtil é baseada no algodão, o setor privado e autoridades estão preocupados. Os estoques estão baixos, em apenas 16%, o que aumenta a inflação no preço de roupas e de outros materiais feitos a partir do algodão. Em agosto, o preço desses produtos sofreu uma alta de 14% na Índia.
Uma das medidas que o governo acaba de adotar é a criação de cotas de exportação. A meta é forçar a produção a ficar no país e abastecer a indústria têxtil local. Mas o setor privado pressiona para que a cota seja retirada a partir de janeiro. Os produtores alertam que estão perdendo a chance de obter lucros importantes no mercado externo - 40% da produção de algodão da Índia vai para o exterior.
A estratégia dos governo em impor restrições funciona para forçar produtores locais a terem excedentes e então exportá-los, o que daria um maior valor agregado para a economia que apenas exportar o algodão.
Mesmo os chineses estão preocupados com o abastecimento de sua indústria têxtil. Nesta semana, Pequim anunciou investimentos em uma fábrica de processamento em Moçambique para garantir o controle sobre os seus abastecimentos.
Menos oferta
US$ 1,24 é o preço que a libra do algodão alcançou ontem na Bolsa de
Valores de Nova York. Trata-se da maior cotação desde 1870
25,06 milhões de toneladas é o quanto a produção mundial de algodão irá alcançar até o fim do ano
16%
é o atual nível dos estoques indianos, principal produtor da commodity no mundo
Veículo: O Estado de S.Paulo