Algodão caro espreme fabricantes de roupas dos EUA

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A disparada dos preços do algodão deixou a indústria têxtil dos Estados Unidos na delicada situação de se ver forçada a tentar a sorte cobrando mais por suas roupas mesmo diante de um fraco consumo interno.

 

Empresas como Hanesbrands Inc, Jones Group Inc. e VF Corp. anunciaram que vão aumentar em até 10% os preços para as coleções do ano que vem. Quando a cotação do algodão começou a subir, há um ano, os varejistas e fabricantes americanos não sabiam quanto desse custo seria repassado, se é que seria. Mas com o algodão de referência agora em alta de 80% desde o início do ano, as confecções alegam que não têm mais escolha.

 

"O mundo mudou radicalmente", disse Richard A. Noll, diretor-presidente da Hanesbrands. "Há uma compreensão clara de que os preços precisam subir neste tipo de cenário."

 

O vestuário é apenas um dos vários setores industriais dos EUA encurralados entre a fraca demanda e a alta do custo da matéria-prima. A alta da borracha mordeu os lucros do terceiro trimestre da Goodyear Tire & Rubber Inc., que já reajustou os preços três vezes desde dezembro. A fabricante de rótulos adesivos e produtos para escritórios Avery Dennison Corp. reagiu à alta da matéria-prima com três reajustes, além dos implementados no último trimestre, disse o diretor financeiro Mitchell R. Butier numa teleconferência.

 

A cotação do algodão tem sido impulsionada pela demanda dos países em desenvolvimento, especialmente China e Índia, em que a expansão da renda está gerando consumo. A mãe natureza também tem culpa no cartório, já que a oferta ficou limitada depois das enchentes mortíferas no Paquistão e as fortes chuvas na China.

 

Os altos preços beneficiam os produtores brasileiros, apesar de eles se queixarem de que os ganhos são reduzidos pela valorização do real. O Brasil é um dos maiores exportadores de algodão do mundo. Ontem o real fechou a R$ 1,6773 por dólar

 

Nos EUA, os reajustes representam uma mudança radical das tendências de preço do vestuário, em deflação há pelo menos uma década, disse Emanuel Weintraub, consultor de varejo. As mudanças também estão criando as condições para um "perigoso jogo de pôquer" com os varejistas. Os fabricantes maiores, mais capitalizados, provavelmente terão mais poder de barganha para persuadir os varejistas a repassar os reajustes. "Algumas das firmas menores podem ser forçadas a fechar as portas", disse Weintraub.

 

A Hanesbrands, dona das marcas Hanes, Champion e Playtex, afirmou que as varejistas que distribuem seus produtos, como Wal-Mart Stores Inc., têm reagido bem à necessidade de reajustar os preços. A Hanesbrands informou semana passada que suas despesas com algodão este ano ficarão em US$ 1,52 por quilo, ante US$ 1,21 ano passado. No quarto trimestre, elas subirão para US$ 1,74, aumentando em US$ 26 milhões o gasto da empresa com esse fim.

 

Noll espera que a pressão sobre os preços do algodão continue aumentando, por isso a empresa garantiu o preço até o terceiro trimestre do ano que vem, três meses além do habitual. A Hanesbrands, que obtém a maior parte de seu algodão da safra americana, vai pagar US$ 1,83 por quilo no primeiro e segundo trimestres, em média US$ 1,94 no terceiro trimestre e US$ 2,21 em setembro de 2011.

 

As empresas não podem simplesmente resolver o problema misturando fibras sintéticas. O preço do poliéster também está subindo e já acumula alta de 20% a 25% este ano, impulsionado pelo petróleo e a demanda. "É uma reação em cadeia", disse Alper Ensari, executivo de contas da Toray International, importante fabricante de fibras de poliéster.

 

A Hanesbrand informou que vai reajustar em média entre 3% e 4% o preço das entregas do segundo trimestre de 2011. Muitos reajustes podem ser ainda maiores mas concentrados em produtos básicos de algodão, disse Noll.

 

A Jones, que fabrica as marcas Jones New York, Anne Klein e Nine West, vai reajustar os preços tanto de produtos básicos como os mais elaborados a partir do ano que vem, para lidar com as pressões inflacionárias crescentes, disse o diretor-presidente, Wes Card. Ele já tinha alertado que os consumidores enfrentariam reajustes apenas nas roupas mais elaboradas, em que as pessoas se incomodam menos com o preço.

 

Atento à confiança do consumidor, a Jones vai segurar os preços no importante quarto trimestre, o da temporada de fim de ano, para não afastar consumidores com o orçamento apertado.

 

Veículo: Valor Econômico

 


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