As lojas de rua voltam a interessar as redes de varejo depois de décadas em que o movimento de expansão dessas empresas ocorria de forma mais vigorosa nos shopping centers. Isso porque, mesmo acelerado, o crescimento dos shoppings é menor do que o de algumas varejistas. A Marisa, maior rede delojas de moda feminina do país, vai abrir neste ano 53 lojas, sendo 27 em ruas e 26 em shopping centers. Além disso, as lojas instaladas nas ruas custam 10% menos, em média, do que nos shoppings, em que há o custo de fundo de promoção e condomínio. Os shoppings também têm participação nas vendas dos lojistas.
"De certa forma, nos shoppings somos punidos por crescer mais", diz Eloah Antunes, da Via Veneto, dona de 142 lojas, de cinco bandeiras, que acaba de abrir sua primeira loja de rua, na avenida Paulista, em São Paulo. A Renner, que também abriu sua primeira loja de rua em São Paulo neste ano, planeja mais três em 2011.
Novos projetos têm custo menor e formatos mais flexíveis
Ninguém duvida que os shoppings - onde as pessoas não sentem frio ou calor, são encorajadas a esquecer as horas pois não há relógios nas paredes, e têm a comodidade de encontrar vários produtos e serviços no mesmo espaço - são uma grande ação de marketing. Em termos de vendas, os shoppings devem crescer 16% neste ano, para R$ 87 bilhões, o mesmo percentual projetado para todo o comércio nacional, na faixa dos R$ 2 trilhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Em tempos de expansão acelerada, grandes varejistas não querem limitar-se aos shoppings e buscam as ruas. "Nós já estamos na maioria dos shoppings que queremos estar e nem todos que vão inaugurar nos interessam", diz o presidente da Renner, José Galló. Neste ano, que deve encerrar com 14 novos pontos, somando 134, a varejista gaúcha inaugurou apenas uma loja de rua, a da avenida Paulista, a primeira da cidade de São Paulo localizada fora de shopping. O sucesso da megaloja de 3,2 mil m 2, onde foram aplicados R$ 6,3 milhões, motivou a Renner a fazer novas investidas. Das 30 lojas previstas para 2011, pelo menos três serão de rua, em pontos estratégicos, de alta visibilidade e fluxo de consumidores. "Não podemos depender do crescimento dos shoppings, porque estamos crescendo mais do que eles", diz Galló.
É nesse cenário que as lojas de rua ganham atenção especial. Trata-se de um espaço onde o custo de operação é, em média, 10% inferior ao de shopping (não embute despesas como fundo de promoção e condomínio), comporta pontos de venda de diferentes formatos (especialmente as megalojas, caras demais nos shoppings) e os locatários não precisam pagar percentual sobre as vendas, praticamente uma regra nos grandes centros de compras. "De certa forma, no shopping somos punidos quando crescemos", diz Eloah Antunes, gerente da Via Veneto. A empresa, dona de 142 lojas de cinco bandeiras de moda, entre elas a Brooksfield, acaba de abrir a sua primeira loja de rua na Avenida Paulista. Foram investidos R$ 1,7 milhão em 600 m2, espaço que dificilmente a varejista alugaria em um shopping onde mantém pontos entre 250 e 300 m2. "É preciso diversificar porque são poucos os shoppings voltados para o nosso público, de maior poder aquisitivo".
Na loja da Paulista, diz Eloah, a Via Veneto tem a oportunidade de oferecer toda a coleção masculina, inclusive em tamanhos maiores (como calças número 70). "Temos alguns provadores especiais, bem maiores que os outros, que não poderíamos oferecer em shopping". No alvo da Via Veneto estão desde os estudantes adolescentes aos executivos que frequentam a Paulista, um dos locais mais valorizados da capital. Mas a aposta não se encerra na região. "Estamos avaliando novos pontos de rua", diz Eloah. Das 10 lojas previstas pela Via Veneto para abrir no próximo ano, ao menos três serão fora de shopping.
A Marisa, diferentemente dos concorrentes, mantém um portfólio mais equilibrado entre lojas de rua e de shopping. "Nosso público é a classe C, a principal presença das ruas", diz Ricardo Ribeiro, diretor de expansão. Até o fim do ano, enquanto estão sendo abertos 16 shoppings no país, a Marisa inaugura 53 lojas (somando 278), nas quais foram investidos R$ 128 milhões, o que demonstra o quanto o apetite do varejo tem sido voraz.
A tacada mais ousada da rede foi a inauguração da loja na Avenida Paulista em 4 de maio, um dia antes da inauguração da loja da Renner. Com apenas sete meses, o ponto da Marisa, de 944 metros quadrados, vai passar pela primeira expansão, somando outros 148 metros. Ribeiro garante que há várias outras cidades que são foco de lojas de rua, como Caraguatatuba, no litoral paulista, ou cidades da Baixada Fluminense, todas beneficiadas economicamente pela exploração do pré-sal.
Segundo Marina Cury, diretora da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, há outros pontos despertando a cobiça do varejo como as ruas dos centros do Rio e de São Paulo. Um cliente seu, que pretende instalar um outlet, diz que "o preço do aluguel é menor e, mesmo se não houver movimento aos fins de semana, o fluxo de segunda a sexta já compensa".
Veículo: Valor Econômico