Se o governo não cumprir a promessa em garantir R$ 80 por saca, ante os R$ 60 pagos atualmente, produtores podem reduzir as suas áreas de plantio
Os produtores de feijão de São Paulo e Paraná podem acumular perdas em suas safras de até 30% devido, principalmente, às chuvas excessivas que atingem os estados desde dezembro. Além disso, o setor está muito preocupado com a rentabilidade da cultura que, segundo o Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), pode gerar novas reduções de área.
A colheita de feijão no estado paranaense já começou. No entanto, as fortes chuvas que atingiram diversas regiões brasileiras no princípio do ano geraram perdas estimadas de até 30% na produção. "Em pleno período de colheita no Paraná o volume de chuvas e o clima não ajudaram o produtor. Não temos nenhum dado consolidado, mas estimamos que as perdas foram muito grandes." comentou o presidente do Ibrafe, Marcelo Lüders.
Para o produtor paranaense, Sebastião Prestes as condições meteorológicas não somente geraram perdas superiores aos 30% estimados pelo instituto, como afetaram diretamente na qualidade do grão colhido. "As perdas pela condição meteorológica foram superiores a 30%, porque as chuvas não somente influíram na quantidade colhida, mas na qualidade também, porque não pudemos fazer os tratamentos adequados a lavoura, como aplicar defensivos e isso pode elevar para mais de 50% as perdas", disse Prestes, da fazenda Santa Fé de Serra, na cidade de Castro (PR).
Já no estado de São Paulo, que terminou grande parte de sua colheita ainda em dezembro do ano passado, as perdas foram um pouco menores, de 20% a 25%, afirmou Lüders. "As colheitas do estado paulista praticamente terminaram no final do ano passado. Estimamos que a quebra pode chegar até 25%, entretanto diferentemente do Paraná, por ter terminado a colheita antes, o impacto nos preços do produto foram menores", disse o presidente.
No Brasil, o Ibrafe acredita que a produção pode ficar até 20% menor. Com isso, Lüders prevê que o mercado nacional ficará com uma quantidade limitada de produto. "Por conta de tudo isso, não teremos feijão para atender o mercado até a próxima safra, tão logo o feijão ficará mais caro ao consumidor. O problema é que não é o produtor quem está ganhando mais, mas sim o varejo."
Lüders comentou que o produtor brasileiro já acumula perdas de 25% nos preços obtidos, e se o governo não começar a cumprir a promessa em garantir pelo menos R$ 80 por saca de 60 quilos, ante os R$ 60 obtidos nas comercializações, os produtores podem reduzir ainda mais as áreas de plantio. "Estivemos na câmara setorial em novembro do ano passado, e alertamos que haveria a necessidade já em janeiro, do governo interferir com AGF, que é a aquisição do governo federal. O problema é que cada vez que nos reunimos existe uma desculpa. Hoje o feijão está sendo vendido entre R$ 60 e R$ 65 por saca. Então o produtor tem perdas de 25% no preço", disse ele.
Para o presidente caso o governo não interfira, conforme o prometido, os produtores tendem a migrar para outras culturas como a soja ou milho, que estão remunerando muito bem. "O estado do Paraná em 2010 já reduziu em 10% a sua área, e deve continuar reduzindo se os preços seguirem tão baixos. Muitos já abandonaram a cultura, para plantar milho, cana-de-açúcar e soja, que trazem um lucro muito maior".
O produtor paranaense Prestes, contou que há três anos a sua fazenda já reduziu drasticamente a área de plantio do feijão. Hoje o feijão não ocupa nem 20% do terreno. "Para nos mantermos, temos que diversificar, então plantamos milho e soja, que remuneram bem. Eu até brinco com outras pessoas dizendo: o que ganho com o feijão levo até a lotérica e troco por um cartão da Mega-Sena, pois somente com sorte ganhamos dinheiro com o feijão".
O instituto afirmou que diversas entidades do setor, como sindicatos, associações e até mesmo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), já enviaram ofícios ao governo federal solicitando uma posição a respeito das aquisições, dado que quanto mais tempo o produtor segurar o feijão mais escuro e sem valor ele fica. "O governo precisa se definir logo, pois em breve o produtor terá de vender para não desvalorizar o produto, que com o passar do tempo perde muito o valor. Prova disso foram os leilões vistos no ano passado que não tiveram bons resultados."
Veículo: DCI