Produtor aumenta pomar de macadâmia

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Estímulo principal é o preço da noz, que triplicou de dois anos para cá, além do mercado certo e assistência técnica

 

O preço da noz macadâmia triplicou nos últimos dois anos, subindo de R$ 0,70 o quilo em casca em 2009 para R$ 2,25 na safra atual. A colheita avança nos pomares do interior de São Paulo e a boa produção, com média acima de 15 quilos por árvore, melhora ainda mais o rendimento da cultura. A valorização do produto, aliada ao aumento no consumo mundial e especialmente no Brasil, levam os produtores a uma retomada na ampliação dos pomares. Ainda assim a produção é insuficiente para atender à demanda.

 

A Associação Brasileira de Noz Macadâmia (ABM) iniciou um trabalho para incentivar novos plantios. "Estamos crescendo de 40 mil a 50 mil plantas por ano, mas ainda é muito pouco. Existe potencial para triplicar o consumo em cinco anos, porém é preciso plantar muita macadâmia", diz o presidente José Eduardo Mendes Camargo. A associação oferece assistência para a formação de novos pomares, orientando desde a compra das mudas, até a indicação dos compradores. "Damos todo o apoio, até para produtores que quiserem consorciar a nogueira com o café." Os novos plantios ocorrem principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.

 

O custo para formar a lavoura chega a R$ 3.500 por hectare até o início da produção, por isso indústrias que processam as nozes também estão formando parcerias com agricultores para estimular a produção. Uma empresa de Dois Córregos, região central do Estado, trabalha em integração com 30 produtores da região. A indústria fornece as mudas, dá assistência para o plantio e a condução do pomar, e garante a compra do produto pelo preço de mercado. A unidade vai processar, este ano, 1.100 toneladas de nozes, mas a capacidade instalada é de 2.500 toneladas. "Hoje, precisamos de mais produtores. Se tivéssemos produto, poderíamos trabalhar com capacidade total, pois o mercado absorve tudo o que for produzido", garante Camargo.

 

Parceiros. O produtor João Paulo Leiva, de Manduri, região de Avaré, é um dos parceiros da empresa. Ele formou o primeiro pomar, com 6 mil árvores, há 13 anos, e foi aumentando gradualmente, até atingir as 15 mil nogueiras atuais numa área de 45 hectares. O último plantio, de 1.500 mudas, foi feito há um ano e meio. "Plantei na época de preços baixos porque acredito no futuro da noz." Leiva colhe média de 12 quilos por árvore. "A empresa me apoia na parte tecnológica e o manejo já começou a melhorar." Como bom parceiro, ele busca socorro na empresa quando precisa de "fluxo de caixa", diz. "Eles antecipam parte do valor da colheita."

 

Fazenda pioneira. A Fazenda Estância Macadâmia, uma das pioneiras, tem também a maior produção individual. São 300 hectares de pomares, com 65 mil nogueiras, sendo 50 mil árvores em produção. O gerente agrícola Leonardo Moriya conta que a produção por planta só tem aumentado nos últimos quatro anos. Com manejo adequado, como adubação, podas de abertura e monitoramento de pragas, as plantas chegam a produzir 20 quilos de frutos, o que perfaz 5 toneladas por hectare. "Temos árvores que vão produzir de 25 a 30 quilos este ano", diz.

 

A produtividade recorde não é à toa. Moriya já correu o mundo em busca de técnicas para aprimorar o cultivo. Ele visitou lavouras na Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, além de acompanhar a produção em outros Estados brasileiros, como o Espírito Santo. O pomar inteiro deve produzir este ano 700 toneladas de nozes em casca. A "floresta" de nogueiras se espalha pelos terrenos. O verde-escuro das árvores se destaca entre as plantações de cana em Dois Córregos. A safra, iniciada em janeiro e que se encerra em maio, está no auge.

 

Colheita manual. Cerca de cem pessoas trabalham no campo, sendo 60 na colheita, que ainda é manual. As nozes maduras caem da árvore e são recolhidas no solo, previamente limpo. A catação é feita quase só por mulheres, como as amigas Ana Paula Lima, de 30 anos, e Valéria Fernanda Martins, de 28. Elas usam luvas, joelheiras e touca árabe para proteger o corpo do sol e dos insetos. Mãe de cinco filhos, Valéria lutou pelo emprego para ajudar no sustento da casa. "Estou na terceira safra", orgulha-se. Recolhidas em baldes, as castanhas enchem sacos de ráfia, levados pelo trator. Do campo seguem para o descarpelador, uma máquina que retira a primeira casca.

 

O gerente agrícola conta que esse resíduo inicial é transformado em adubo orgânico e espalhado nos pomares. Em seguida, as nozes são levadas para outra máquina que rompe a segunda camada e retira a amêndoa. A segunda casca também é aproveitada: transforma-se no combustível que aciona a caldeira, fornece calor para a secagem das nozes e ainda abastece a fábrica com energia. A produção ganha acabamento ali mesmo, numa moderna planta industrial, onde as amêndoas são processadas, selecionadas e embaladas, ficando prontas para o consumo.

 

A empresária Maria Tereza Egreja Camargo, esposa de José Eduardo, controla a qualidade e cuida da parte comercial. Para ela, os efeitos benéficos à saúde explicam o crescimento do consumo. "Além de ser deliciosa, está comprovado que a macadâmia reduz o colesterol e previne doenças cardíacas."

 

Estatística da ABM aponta um consumo 1,5 grama por habitante ao ano no Brasil, enquanto nos Estados Unidos e na Europa o consumo per capita dessa noz é 500 a 600 gramas ao ano. "O importante é que o brasileiro está se acostumando a consumir macadâmia, considerada a melhor amêndoa do mundo." Ele explica que, em anos anteriores, o preço estava muito baixo - chegou a R$ 0,41 o quilo em 2007. Se, de um lado, houve desestímulo ao produtor, de outro tornou a noz acessível a um público que não a conhecia. "Quem experimentou gostou e se tornou um consumidor fiel, mesmo com o preço mais alto."

 

Consórcio. O consórcio da nogueira com café, também está sendo testado com sucesso. O produtor Edwin Montenegro Filho, da fazenda Retiro, em Bocaina, plantou 5 mil nogueiras consorciadas com o cafezal e já está na segunda colheita. Uma das vantagens é que a macadâmia antecipou a produção em um ano. "Além disso, estou gastando menos com adubo e defensivo, pois a nogueira pega carona nos tratos culturais do cafezal." Há redução no custo de formação do pomar e o café se beneficia do sombreamento da macadâmia, formando um microclima mais ameno. "Em regiões onde a cafeicultura começa a sofrer restrições por causa do aquecimento global, o consórcio cai como uma luva", diz.

 

No lugar da cana

 

Uma das opções para expandir os plantios de noz macadâmia é na ocupação das áreas que deixarão de ser cultivadas com cana-de-açúcar nos próximos anos, em função da proibição da queima da palha. Estima-se que em São Paulo 250 mil hectares de canaviais terão de ser substituídos por estarem em áreas não mecanizáveis.

 

A noz em números

 

28 milhões de toneladas é a produção da Austrália

4 milhões de toneladas em casca seca é a produção brasileira

1,1 milhão de plantas é o tamanho do pomar brasileiro de noz macadâmia

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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