Excesso de teoria nem sempre é sinônimo de sucesso no dia-a-dia empresarial. Afinal, muitos dos desafios do mundo corporativo são resolvidos mesmo é na prática. Para ajudar seus profissionais a transitarem com mais facilidade da sala de aula para a vida real, onde a falta de experiência em determinadas áreas pode causar prejuízos significativos, algumas companhias utilizam os chamados simuladores empresariais. As ferramentas - também conhecidas como "simuladores de negócios" ou "jogos sérios" - têm como objetivo criar uma espécie de campo de testes, onde é possível praticar as estratégias corporativas sem correr riscos desnecessários.
No começo de outubro, a Atlas Schindler - indústria de elevadores, presente em aproximadamente cem países - encerrou um programa de treinamentos sobre negociação, que contou com o uso de um simulador empresarial. A iniciativa teve a participação de 336 funcionários da empresa.
A coordenadora de treinamento e desenvolvimento, Andréa Salcedo, explica que, antes do início do treinamento, a Atlas havia procurado uma especialista para desenvolver a parte teórica, mas percebeu que ficar apenas nos conceitos poderia não ser adequado às exigências do momento. Afinal, no formato inicial, a necessidade natural que os profissionais têm de praticar o que aprendem seria negligenciada. Foi então que surgiu a idéia de usar também um simulador.
Solução sob medida
Para não adotar uma solução genérica, a companhia buscou um parceiro que desenvolvesse um sistema sob medida, que permitisse a prática dos conceitos teóricos aprendidos no treinamento. Depois disso, a especialista contratada pela Atlas repassou o conteúdo teórico do treinamento para a Aennova, empresa que desenvolve esses tipos de ferramenta.
Segundo Andréa, o jogo continha um quadro de negociação bastante complexo, cuja solução devia ser buscada em grupo. A cada etapa, os participantes tinham que escolher uma entre as diversas trilhas possíveis. Se o desempenho estivesse ruim, era possível mudar de percurso para tentar melhorar a situação. "Havia um cenário da situação e um tempo de preparação, para a qual foram disponibilizadas informações sobre a empresa, os produtos e a proposta", relata. "Obviamente, os grupos que obtiveram melhor desempenho foram aqueles que aproveitaram bem esses dados", conta.
No final, os profissionais precisavam enviar uma proposta comercial por e-mail para o cliente fictício. Quem recebia o material era a especialista que estava auxiliando a Atlas no treinamento.
Andréa diz que a simulação não foi relacionada ao negócio de elevadores. A intenção foi surpreender os participantes. "Queríamos tirar as pessoas da zona de conforto", revela. O treinamento durou dois dias para cada uma das turmas.
De acordo com Andréa, 70% dos participantes disseram que a iniciativa superou suas expectativas. Além disso, o sistema permitiu à Atlas avaliar a evolução dos participantes no quesito negociação. "Em outras edições do treinamento, fizemos filmagens e outras formas de simulação, mas esta se mostrou a melhor possibilidade", entusiasma-se.
Por outro lado, embora enxergue os simuladores empresariais como ótimas ferramentas, Andréa defende que eles não sejam a única forma de treinamento. "Cada pessoa aprende de modo diferente", reconhece. "Há aqueles que se adaptam com o ensino conceitual. Outros precisam praticar. Um treinamento com simuladores é muito rico, mas deve ser acompanhado com outras técnicas. Essa é uma ferramenta é excepcional para os dias de hoje."
Segundo os diretores da Aennova, que criou o simulador para Atlas, os sistemas podem ser desenvolvidos em versão on-line ou offline, para serem jogados por uma pessoa ou em ambiente competitivo. De acordo com Leonardo Reis, sócio da empresa e especialista em gestão de negócios, o mercado de simuladores está em expansão. Na carteiras de clientes da Aennova figuram nomes como Natura, Coca-Cola, Souza Cruz e Contax, entre outros.
Para Sunami Chun, especialista em jogos interativos e também sócio da Aennova - ao lado de Reis e Nancy Ogassawala -, os treinamentos presenciais são muitos intelectuais. "Temos pesquisas que atestam que as pessoas retêm 80% daquilo que aprendem por meio da ação e da prática, ao passo que esse número é de apenas 25% entre quem somente escuta", comenta.
Segundo ele, os simuladores permitem a criação de um campo de testes no qual as pessoas podem acertar ou errar. Com isso, elas refletem profundamente sobre o conhecimento adquirido. "Isso gera uma percepção clara sobre o que deve ou não ser feito no dia-a-dia dos negócios", diz.
Por trás dos jogos sérios - fáceis de usar, mesmo que os desafios impostos ao usuário não o sejam - há uma complexa estrutura técnica. Segundo Chun, para o desenvolvimento de um simulador é necessário transpor as regras do negócios em questão para um modelo matemático. Isso permite que as ações do usuário no ambiente digital gerem conseqüências próximas das que aconteceriam na realidade, mas que, para a sorte da empresas, são pura simulação.
Veículo: Gazeta Mercantil