A grave crise da falta de mão de obra qualificada

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Começa a assumir proporções de desastre a falta de mão de obra qualificada no mercado brasileiro, numa fase da economia do país em que é absolutamente essencial que empresas e governos possam contar com trabalhadores treinados, já que se configura um cenário de crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB), na casa dos 4%, em que se aceleram - ou deveriam se acelerar - os preparativos para as grandes obras de infraestrutura necessárias tanto para a Copa do Mundo quanto para os Jogos Olímpicos.

 

O problema, na verdade, não é novo, mas tornou-se mais grave exatamente por causa do aumento da demanda. Nos últimos anos, cresceram as manifestações de preocupação de companhias e de setores empresariais quanto à escassez de mão de obra treinada - um dos primeiros segmentos em que se identificou esse estrangulamento foi o de engenharia, depois de décadas em que os profissionais da área não tiveram outra opção a não ser buscar trabalho em outras atividades, as mais diversas possíveis.

 

Em parte, a responsabilidade pela falta de trabalhadores com instrução e preparo adequados pode ser atribuída aos governos federal, estaduais e municipais - e não apenas pelas falhas no sistema geral de ensino, que resultam na formação de grande número de brasileiros com dificuldades quase instransponíveis para ler e escrever e fazer cálculos, mesmo os mais simples.

 

Como mostrou o Valor na sua edição de terça-feira, há graves dificuldades também nos programas específicos de treinamento dos trabalhadores. Para cada R$ 100 gastos com o seguro-desemprego, o governo federal despende só R$ 1 em programas de qualificação de mão de obra. Nos EUA, para cada US$ 100 gastos com os benefícios aos desempregados, o governo de Barack Obama gastou US$ 11,25 com qualificação no ano passado. Sete em cada dez empresários sofrem com a falta de qualificação profissional, de acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 1,6 mil empresas.

 

No governo federal, o gasto com qualificação de trabalhadores aumentou 32% entre 2009 e 2010, mas os R$ 227,9 milhões aplicados no ano passado foram muito inferiores aos R$ 961,1 milhões empregados no já distante ano de 2001, recorde da última década e meia. No governo do Estado de São Paulo, onde não há utilização de recursos federais para cursos de qualificação desde 2006, as despesas ficaram em torno de R$ 90 milhões nos últimos dois anos.

 

É certo que o governo da presidente Dilma Rousseff dá sinais de que pretende corrigir essas deficiências com vários programas para melhorar de forma ampla a formação de trabalhadores. Está sendo traçado, assim, um projeto específico para a crise na construção civil - segmento considerado essencial tanto para sustentar os níveis de crescimento econômico do país quanto para minorar a escassez de moradias de amplas faixas da população. Uma ação coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego vai ampliar a oferta de cursos para a qualificação profissional no setor. O plano, conforme publicou o Valor na quarta-feira da semana passada, é aumentar a oferta de trabalhadores que atuam na base da pirâmide do setor, oferecendo cursos básicos para profissões como pedreiro, armador, ajudante de obra, mestre de obra e carpinteiro, entre outros.

 

Até junho, o Ministério do Trabalho quer lançar um novo programa de formação para construção civil com 25 mil vagas. As aulas serão dadas por várias organizações de ensino técnico espalhadas pelo país. Em maio, o projeto, que tem custo estimado em R$ 25 milhões, passará por uma audiência pública. Os recursos usados saem do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Outro pacote de formação voltado para as obras de infraestrutura da Copa do Mundo será lançado no segundo semestre, com mais 25 mil vagas. Nesse caso, além de construção civil, serão realizados cursos técnicos ligados às áreas de transporte e turismo. Somados a outras iniciativas em andamento no Ministério do Trabalho, os programas tocados pelo governo deverão colocar no mercado cerca de 80 mil pessoas com formação básica para atuarem em obras pelo país. É um número relevante, mas que não chega a fazer sombra à demanda atual. O volume atual de obras em andamento no país exige, segundo cálculos do próprio Ministério, a formação de 500 mil profissionais.



Veículo: Valor Econômico


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