Cerca de 15 milhões de litros de leite deixarão de ser entregues pelos produtores gaúchos às indústrias, como forma de regular os preços do produto no varejo, considerado muito abaixo da média pelo setor. O volume equivale a 6% do total de leite fornecido ao mês e promete causar transtornos, com interrupção das atividades de algumas indústrias e até mesmo desabastecimento. "Já que os supermercados justificam a baixa dos preços pelo excedente, vamos diminuir esse volume para ver se os valores sobem um pouco", afirma o presidente do Conseleite e da Comissão de Leite da Farsul, Jorge Rodrigues.
O dirigente explicou que não se trata de um boicote à indústria, mas de um acordo da cadeia produtiva, no sentido de equacionar os baixos preços dos produtos finais que chegam às gôndolas dos supermercados. Rodrigues admite que a medida é radical, mas destaca que não há outra alternativa diante da afirmação do varejo de que "tem produto demais no mercado". "Os supermercados estão usando o leite como boi de piranha para atrair os consumidores com preços aviltantes, em muitos casos praticando dumping ao vender abaixo do preço de custo", afirmou.
Os preços no varejo ficam na média de R$ 1,26. Rodrigues pondera que o ideal seria fixar em R$ 1,50 o litro de leite UHT. O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, disse que os preços derivam de uma situação de mercado, com a oferta e a procura desreguladas. "O consumo baixou e, além disso, tem sobrado leite no mercado gaúcho em função de um boicote ao produto por parte do Paraná e de São Paulo por problemas tributários", destacou. O dirigente argumenta que não é justo prejudicar os consumidores em um cenário de excedente, sendo impraticável aumentar os preços. Sobre a prática de dumping ele disse ser possível, mas apenas em alguns casos isolados.
O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat), Darlan Palharini, afirma que a indústria apóia a decisão dos produtores, apesar dos possíveis transtornos que possa causar, com a possibilidade de liberação de funcionários de algumas unidades que operam 24h por dia. O assessor de Políticas Agrícolas da Fetag, Airton Hochscheid, lembra que o protesto se deve também à diferença de preços praticados pela indústria, que em alguns casos paga R$ 0,20 e em outros até R$ 0,60 pelo litro. De acordo com Palharini, os preços diferenciados se devem à variação dos custos de frete e pela quantidade de gordura do leite. A proposta sobre a suspensão do fornecimento de leite foi apresentada essa semana, durante reunião do setor produtivo e ainda aguarda definição de data para ocorrer. "Foi encaminhada para análise pelo colegiado do Sindilat e Fetag, mas deve ocorrer ainda em outubro."
Veículo: Jornal do Comércio - RS