Laticínios e pecuaristas em pé de guerra no RS

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A queda dos preços do leite nos últimos meses acirrou os ânimos entre produtores e indústria no Rio Grande do Sul. A Federação da Agricultura do Estado (Farsul) sugeriu a suspensão do fornecimento da matéria-prima por dois dias para forçar uma alta nas cotações, enquanto a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) prevê queda da produção nos próximos meses porque os criadores estão sem dinheiro para adubar as pastagens e alimentar adequadamente os animais. 

 

O preço médio de referência fixado pelo Conselho Estadual do Leite (Conseleite) para setembro foi de R$ 0,4803, ante o pico de R$ 0,5975 do ano, em maio, mas a Fetag reclama da disparidade entre os valores pagos por matéria-prima de qualidade equivalente. "Alguns recebem R$ 0,60 por litro e outros menos de R$ 0,30 da mesma empresa", afirma Amauri Miotto, diretor da entidade. 

 

Segundo ele, a produção no Estado já caiu até 10% sobre a base de 9 milhões de litros por dia nas últimas semanas. "E se o quadro não for alterado não duvido que caia pela metade até fevereiro ou março". A Fetag cobra uma remuneração mínima de R$ 0,60 por litro, igual ao custo de produção, e na segunda-feira vai discutir o assunto com o Sindicato das Indústrias de Laticínios (Sindilat). 

 

Para Miotto, a paralisação das entregas será o último recurso, caso não haja acordo com a indústria. "Mas para fazer efeito, terá que ser por um tempo muito maior do que dois dias e envolver outros Estados". Segundo ele, a Fetag representa 70% dos 100 mil produtores da matéria-prima do Estado, que são responsáveis por 80% da produção total. 

 

Já o presidente da comissão do leite da Farsul e do Conseleite, Jorge Rodrigues, crê que a proposta da entidade retiraria um volume significativo do mercado. Segundo ele, os produtores ligados à entidade estão recebendo em média R$ 0,50 por litro e a origem do problema está no varejo, que pressiona o setor quando vende o produto abaixo do custo. 

 

Os produtores também querem que a Conab acelere o início dos leilões de prêmios de escoamento da produção (PEP) e de aquisição de produto oriundo de contrato privado de opção (PROP) para retirar o equivalente a 1 bilhão de litros (longa vida e em pó) do mercado. 

 

Na outra ponta da cadeia, o presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, reconhece que algumas empresas usam o leite barato como "chamariz" de clientes, mas afirma que o varejo não pode aumentar os preços para garantir margens maiores para produtor e indústria. "Se isso for feito, as vendas caem", afirma. 

 

Segundo o diretor executivo do Sindilat, Darlan Palharini, as indústrias tiveram que segurar os preços aos produtores em razão do impacto até agosto, do câmbio e, além disso, a oferta de matéria-prima se manteve alta com a oferta em outras regiões do país. Ele prevê estabilização em torno de R$ 0,50 por litro até a próxima entressafra, no fim do verão. 

 

Com as recentes inaugurações de novas unidades de Cosulati e Nestlé, a capacidade de beneficiamento no Estado subiu de 12 milhões para 13,5 milhões de litros por dia, calcula Palharini. O volume não considera novos projetos como a nova torre de secagem de leite em pó da Bom Gosto, que vai absorver mais 600 mil litros/dia. Conforme o presidente da empresa, Wilson Zanatta, apesar da crise o aporte de R$ 35 milhões, previsto para ser concluído em março de 2009, não será interrompido graças ao apoio do sócio BNDESPar. 

 

Veículo: Valor Econômico


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