Abilio bom de briga

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A disputa com o Casino é apenas mais um episódio na trajetória do comandante do Pão de Açúcar, um empresário que não perdeu nenhuma das importantes batalhas que disputou até agora

 

A polêmica envolvendo Abilio Diniz, do grupo Pão de Açúcar, e seu sócio Jean-Charles Naouri, do francês Casino, teve novo capítulo na semana passada. Inconformado por saber pelos jornais que Diniz iniciara conversas para uma eventual compra das operações da subsidiária brasileira de seu arqui-rival Carrefour, Naouri recorreu à Câmara de Arbitragem Internacional “solicitando o respeito da boa execução do pacto de acionistas firmado em 27 de novembro de 2006”. 

 

A reação do Casino teve um efeito devastador sobre as ações do Pão de Açúcar, que perdeu R$ 1,2 bilhão de valor de mercado entre os dias 23 e 30 de maio. Os papéis da varejista só se recuperaram na quinta-feira 2, após Diniz tornar pública carta ao presidente do Pão de Açúcar, Enéas Pestana, e diretores da empresa. Nela dizia: “Estou fazendo tudo para deixar vocês e a companhia protegidos contra qualquer ataque”.

 

Se os franceses do Casino realmente querem levar adiante uma disputa com Diniz, é recomendável relembrar o histórico dos inúmeros embates protagonizados, e vencidos, pelo empresário brasileiro. O primeiro, e talvez mais significativo, aconteceu logo após o fundador do grupo, Valentim dos Santos Diniz, dividir 38% de suas ações na companhia, ainda na década de 1980.

 

Abílio, o mais velho de cinco irmãos, ficou com 16%. Alcides e Arnaldo, com 8% cada um, e duas outras irmãs com 2% cada. Alcides nunca se conformou e travou com Abílio uma dura queda de braço. Abílio venceu e Alcides, morto em 2006, se afastou dos negócios da familia. Brigar com quem for preciso para conduzir os destinos do Pão de Açúcar não é novidade na vida de Diniz. Discutir os rumos dos negócios em uma câmara de arbitragem como propõe agora o sócio francês também não.

 

Em 2003, Diniz adquiriu  60% do capital da rede de supermercado Sendas, do Rio de Janeiro, com direito a comprar os 40% restantes. Quando  fechou acordo com o Casino, em 2005, os Sendas recorreram à arbitragem para que Diniz não só comprasse os 40% restantes da rede carioca, como atualizasse os valores, tendo como parâmetro o negócio fechado com o grupo francês. Diniz encerrou a disputa, em 2008, por R$ 377 milhões, sem desembolsar um tostão a mais do que havia sido acordado.

 

Diniz teve problemas também com a família Klein, dona da Casas Bahia. Logo após anunciarem o acordo de fusão, no final de 2009, Michel Klein, presidente da empresa, ameaçou desfazer o negócio por considerar que ele não era favorável à sua família. Foram noites de negociações até que, no dia 2 de julho de 2010, um sorridente Diniz, ao lado de um não menos feliz Klein, anunciava os detalhes da fusão que criaria a maior empresa varejista do País.

 

“Desde o início, quando surgiram as divergências, sabíamos que estávamos diante de uma tarefa muito difícil”, afirmou Diniz. Considerado um empresário de opiniões fortes, Diniz acostumou-se a ter a última palavra em seus negócios. Quando o assunto são os interesses do Pão de Açúcar, ele não mede esforços para fazer prevalecer o que considera o melhor caminho. Tanto é que não vacilou em afastar de cargos executivos na companhia seus filhos João Paulo, Pedro Paulo e Ana Maria, para viabilizar a associação com o Casino.

 

Aos 74 anos de idade, Diniz é dono de um vigor físico e mental invejáveis e está bem longe de lembrar um senhor idoso às portas da aposentadoria. E esta é a outra ponta do embate travado com o sócio francês. A partir de 2012, conforme o acordo de acionistas, o Casino pode se tornar majoritário no Pão de Açúcar, com direito, inclusive, a indicar o presidente do conselho de administração. É difícil imaginar Diniz longe do controle de sua empresa. A aproximação com o Carrefour seria apenas uma das alternativas que ele busca para tratar de seu próprio futuro.

 

De acordo com fontes do mercado, antes de conversar com o Carrefour, Diniz já havia se aproximado do Makro, numa tentativa de comprar a operação brasileira do atacadista holandês. Seja como for, Diniz não está sozinho na briga que trava com o Casino. Segundo DINHEIRO apurou, ele contaria com o apoio da família Klein, da Casas Bahia. Consultada, a família Klein disse, por intermédio de sua assessoria de imprensa,  não ter informações oficiais sobre os fatos que envolvem Diniz, Casino e o Carrefour.

 

Se Diniz não está sozinho, tampouco assiste passivo o próximo lance do sócio francês. Um dos argumentos que ele pode utilizar contra o Casino, na Câmara de Arbitragem, é que, ao se posicionar contra uma associação com o Carrefour no Brasil, pelo fato de ser concorrente na França, o Casino estaria agindo contra os interesses do Pão de Açúcar. E, pela legislação brasileira, todos os acionistas e dirigentes devem tomar decisões considerando apenas o interesse da empresa local. Em outras palavras: a luta está longe de terminar. Novos rounds vêm por aí.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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