Empresas brasileiras descobrem no automobilismo uma maneira de fazer negócios com empresários americanos e ampliar vendas para os Estados Unidos
Para se sagrar campeão, o piloto Will Power precisava apenas manter a confortável liderança no Grande Prêmio de Miami, o último da temporada 2010 da Fórmula Indy. O título parecia garantido até o piloto australiano arrastar seu carro contra a mureta, na 135ª volta. Ao fim da corrida, um frustrado Power consolou-se com chocolates – aliás, chocolates da brasileira Garoto, que carregava numa sacola promocional.
Alta velocidade: participação em corridas da Fórmula Indy deve gerar US$ 700 milhões a empresários brasileiros em 2011
Como a marca nacional foi parar nas mãos do piloto australiano não é nenhum mistério. Faz parte de uma estratégia que empresários brasileiros abraçaram recentemente: a tática de fazer negócios em grandes eventos esportivos dos Estados Unidos. Há dois anos, empresas e entidades setoriais estão nas 17 provas da Fórmula Indy, a mais tradicional categoria do automobilismo americano. Para cada uma, convidam possíveis clientes de seus produtos para um encontro que em nada se assemelha às reuniões formais a portas fechadas.
Durante três dias, os empresários americanos são “mimados” com produtos brasileiros – que vão de cafés especiais a amostras de vestuário –, comida farta e um acesso privilegiadíssimo aos carros e ídolos da categoria. E, claro, falam sobre negócios. “Deu tão certo, que há outros países interessados em fazer o mesmo”, disse à DINHEIRO Terry Angstadt, presidente comercial da IndyCar Series, organizadora da categoria.
Embaixador do Brasil: o carro do piloto brasileiro Tony Kanaan promove produtos brasileiros, como o "brazilian beef"
Embora novo na cultura empresarial brasileira, usar eventos esportivos como forma de estreitar relacionamentos com possíveis clientes é tática conhecida dos americanos. “Você convida quem está interessado, sem o risco de entediá-lo”, afirma Stephen McMichael, vice-presidente de vendas da Ferrara Pan Candy Co., uma das maiores fabricantes de doces dos Estados Unidos e dona de um concorrido camarote no States Center, casa do time de basquete Chicago Bulls.
McMichael foi um dos representantes de 47 empresas americanas convidadas para acompanhar de perto as 500 Milhas de Indianápolis, a prova mais importante da Indy, que aconteceu em 29 de maio. Há cinco anos, a Ferrara importa caramelos da carioca Embaré para revendê-los a redes como a Walgreens, com 8,2 mil pontos de venda no país. Na Indy, McMichael fechou contrato para a compra de 12 contêineres de guloseimas de outra empresa do setor, a Riclan, fabricante de balas, de Rio Claro (SP), no valor de US$ 600 mil.
Resultados como esse, de pequenos negócios que acabam multiplicando a carteira de clientes, têm aumentado pela participação das missões empresariais na Fórmula Indy, organizadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Iniciado em 2009, o projeto já levou 237 exportadores para as corridas da categoria e gerou US$ 830 milhões em negócios até o ano passado. Para este ano, a expectativa é de US$ 700 milhões. Desde 2010, nas corridas da Fórmula Indy, as empresas do setor têxtil começam a colher frutos da aproximação com os americanos.
A Macy’s, uma rede de 600 lojas de departamento espalhadas pelo EUA, vai expor durante oito meses uma coleção brasileira. “As corridas têm nos ajudado a acessar os mercados menos tradicionais dos Estados Unidos”, diz Sílvia Pierson gerente operacional da Apex-Brasil nos Estados Unidos.
Além de propiciar negócios, a Indy também tem se transformado num importante canal de divulgação de marcas brasileiras. O projeto, cujo intuito principal era divulgar o etanol brasileiro, que desde 2009 abastece os carros de corrida, ampliou o leque de setores com visibilidade para os fãs do automobilismo. O carro do piloto brasileiro Tony Kanaan expõe, a cada corrida, marcas de setores envolvidos no projeto.
Em Indianápolis, ele tinha um selo “Brazilian Beef”, que promove a carne brasileira. Tudo isso, é claro, tem um custo. Neste ano, o governo brasileiro está investindo US$ 12 milhões em patrocínios na Fórmula Indy, razão pela qual os convidados são presenteados com o privilegiadíssimo trânsito pelos autódromos da categoria. E eles parecem retribuir os mimos comprando os produtos brasileiros.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro