As diferenças entre Carrefour e Casino

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No primeiro trimestre as vendas do Carrefour cresceram 3,9% e as do Casino aumentaram 18,8%

 

O Brasil está se tornando campo de batalha entre dois adversários com tamanhos, desempenhos e estratégias distintas. De um lado, o mastodonte Carrefour, vice-líder mundial do setor da distribuição, com seus mais de € 100 bilhões de faturamento. Do outro, o também francês Casino, sócio do Pão do Açúcar, que, com seus € 29 bilhões, não chega a um terço das vendas do rival. Mas a agilidade do Casino nos países emergentes é a de um leopardo, que vem conquistando novos territórios e expandindo suas atividades mais rapidamente do que seu concorrente.

 

No primeiro trimestre deste ano, as vendas do Carrefour cresceram 3,9%, enquanto as do Casino aumentaram 18,8% (graças, principalmente, ao efeito da consolidação das Casas Bahia nas contas do Grupo Pão de Açúcar).

 

E para defender seu território no Brasil, que representa mais de um terço dos € 11,1 bilhões que o grupo francês faturou no exterior em 2010, o Casino não hesita em mostrar as garras. Entrou, na semana passada, com um pedido de arbitragem na Câmara de Comércio Internacional (CCI) de Paris contra o empresário Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, que teria iniciado discussões com o Carrefour no Brasil sobre uma eventual fusão, sem comunicar o Casino.

 

Uma das principais razões da atual melhor performance do Casino em relação ao Carrefour é justamente o peso mais importante dos países emergentes em seu faturamento. "Os varejistas mundiais que obtêm as maiores taxas de crescimento são os que concentram suas atividades nos mercados emergentes", diz Joanne Denney-Finch, diretora da consultoria especializada IGD.

 

Desde que assumiu o comando do Casino, em 2005, o presidente, Jean-Charles Naouri, reestruturou totalmente as atividades internacionais do grupo, que já atingiram, no ano passado, 38% das vendas totais do grupo. Os negócios em países europeus, como Holanda e Polônia, e nos Estados Unidos foram encerrados.

 

A América Latina e o Sudeste Asiático tornaram-se os pilares da estratégia da expansão internacional do Casino. Mas com algumas condições: o potencial de crescimento deve ser significativo e também é preciso ser líder ou, no máximo, ocupar o segundo lugar. "A terceira posição não nos interessa. Dividir posições de mercado e correr atrás dos concorrentes, com políticas agressivas de preços, custa caro e não é rentável", disse ao Valor um diretor do Casino.

 

Carrefour, por sua vez, realiza 23,2% de suas vendas na América Latina e na Ásia, únicas regiões do mundo que registram atualmente taxas de crescimento na faixa de dois dígitos. Na América Latina, o faturamento do grupo cresceu 11,6% no primeiro trimestre deste ano, a taxas de câmbio constantes.

 

O mercado brasileiro é importantíssimo para o Carrefour, representa €12,5 bilhões, o equivalente a 12,3% do faturamento do grupo.

 

Mas apesar de ter se instalado em 1975, bem antes de seu adversário, a performance da filial brasileira tem deixado a desejar nos últimos tempos. A descoberta, no final do ano passado, de um rombo de € 550 milhões nas contas no Brasil, levou o Carrefour a realizar alertas ao mercado, reduzindo estimativas anteriores de lucro.

 

As dificuldades no Brasil começaram no início dos anos 2000, após a compra de dezenas de lojas de redes. Os resultados decepcionaram e o grupo relaxou a atenção em relação aos hipermercados, parando de investir, enquanto concorrentes, como o Casino, continuavam avançando.

 

A estratégia internacional do Casino não é o único fator que explica a diferença de desempenho entre os dois rivais. O maior problema do Carrefour, segundo analistas, é a sua terra natal, que representa quase 39% de seu faturamento. É líder na França, mas vem perdendo velocidade. No primeiro trimestre, suas vendas estagnaram.

 

Entre dezembro e fevereiro passado, o Carrefour perdeu 0,5 ponto de participação no mercado francês (de 24,7%), segundo a Kantar Worldpanel. O Casino vem avançando e já totaliza 13%, ocupando a terceira posição. Em faturamento, o Casino ainda está atrás das redes Auchan, Leclerc e Intermarché.

 

Outro fator importante é a mudança no comportamento do consumidor na França e outros países ricos. Os supermercados de bairro ganham espaço em detrimento dos hipermercados, que sofrem queda nas vendas e também forte concorrência da internet em relação ao comércio de eletroeletrônicos. É o "fim da era do comércio de massa", como diz um diretor do Casino, que vem reduzindo a área de seus hipermercados na França.

 

Como possui inúmeras lojas de menor porte nos centros urbanos, o Casino estaria melhor armado do que o Carrefour para enfrentar essas mudanças.

 

Os hipermercados representam 29% das vendas do Casino na França. No Carrefour, 62%. Este está se adaptando e já inaugurou vários supermercados de bairro, o Carrefour City, em várias cidades na França, incluindo Paris, além do Carrefour Express, que já possui três unidades na capital, com lojas de menos de 100 m².

 

O Carrefour lançou um vasto programa de modernização de seus hipermercados, os Carrefour Planet, com "butiques" de produtos orgânicos, de moda, beleza, congelados, artigos para casa e de lazer, além de serviços, como cabeleireiro, consultoras de maquiagem, cursos de cozinha e até creche para crianças. O custo dessa "nova geração" de lojas na Europa é estimado em € 1,5 bilhão. Os resultados de algumas lojas são considerados positivos, mas analistas estimam que o projeto poderá não ser suficiente para revitalizar as vendas do grupo na França.

 

Ativos de varejista no Brasil estão no alvo da Cencosud, diz jornal chileno

 

A chilena Cencosud, uma das maiores varejistas da América Latina, estaria negociando a compra de alguns ativos da francesa Carrefour no Brasil, informou ontem o jornal local Financiero.

 

Segundo fontes próximas à companhia chilena, o controlador da Cencosud, Horst Paulmann, estaria "em conversas com altos executivos do Carrefour a fim de comprar alguns dos ativos da rede francesa", disse o jornal. Consultada, a Cencosud não comentou.

 

O eventual interesse da rede chilena por ativos do Carrefour no Brasil seria parte dos agressivos planos de expansão pretendidos pela Cencosud desde sua entrada no país, em 2007. A Cencosud tem unidades de operação na Argentina, Brasil, Colômbia, Chile e Peru.

 

Haveria outros interessados nos ativos da companhia francesa no Brasil, informou o diário. O presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, teria iniciado conversas com o Carrefour sobre uma possível fusão no país, em parte para evitar que rivais fizessem o mesmo. As conversas ainda estariam em estágio preliminar. As varejistas negam a existência de negociações.

 

O Casino, com o qual Diniz divide o controle do Pão de Açúcar, alertou o empresário que negociações com o Carrefour desrespeitariam o acordo entre ambos. O Casino entrou com pedido de arbitragem internacional contra Diniz, que já foi notificado. O empresário tem até o início de julho para responder ao pedido de esclarecimento e indicar um árbitro ao júri da Câmara de Comércio Internacional (CCI), tradicional órgão de arbitragem. O Casino deverá indicar outro árbitro e um terceiro será designado pela CCI.

 

Veículo: Valor Econômico


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