Lars Olofsson: ''Buscamos oportunidades para crescer''

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Apesar de dizer que a operação brasileira não está à venda, o executivo analisa possíveis parcerias no País

 

Desde que teve início a crise entre Casino e Pão de Açúcar, um personagem importante da história manteve-se em silêncio: Lars Olofsson, presidente mundial do Carrefour. Até agora, o varejista francês havia se manifestado apenas por meio de notas oficiais a respeito da proposta mal sucedida de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. Ontem, o executivo respondeu por e-mail uma série de perguntas do Estado.

 

Em entrevista exclusiva, o executivo explica por que considerou vantajosa a proposta de fusão, afirma que a operação local não está à venda mas diz que está atento a oportunidades de parcerias e aquisições. Seguem os principais trechos da conversa.

 

É a segunda vez que uma negociação do Carrefour torna-se pública. Em 2009, houve uma proposta de compra da operação brasileira pelo Walmart e agora a possível fusão com o Pão de Açúcar. Como essa última opção deu errado, quais são os planos do Carrefour no Brasil?

 

Nosso plano é continuar a crescer no Brasil, em linha com a estratégia que apresentei em 2009. O Brasil é estratégico para o Carrefour e ultrapassou a Espanha como segundo maior mercado no primeiro trimestre. Um forte crescimento econômico, a ascensão da classe média e o acesso ao crédito fizeram do Brasil um dos mercados em que o varejo mais cresce no mundo. E, assim como fez ao comprar o Atacadão (rede adquirida em 2007), o Carrefour está sempre buscando oportunidades de crescimento no País, seja de forma orgânica ou por aquisições e parcerias.

 

O Carrefour desistiu de uma possível associação com o Pão de Açúcar ou essa ainda é uma opção?

 

Em 4 de julho, o conselho de administração do Carrefour aprovou uma proposta da Gama (empresa do BTG), sujeita ao apoio do BNDES e aprovação da CBD (controladora do Pão de Açúcar). A decisão do conselho foi tomada pelo forte mérito da transação para todas as partes, incluindo o Carrefour, e as importantes sinergias geradas. Fomos informados da decisão do BNDES de não financiar a operação nas atuais circunstâncias. Hoje, as condições necessárias para finalizar o projeto não foram alcançadas.

 

Em reunião de conselho nesta semana, o Casino apresentou relatórios de diversos bancos e consultorias mostrando que a fusão Carrefour-Pão de Açúcar não é um bom negócio. O sr. discorda?

 

Acreditamos que essa análise é errônea e não é objetiva. Eu só posso comentar o projeto proposto pela Gama, e minha análise é completamente diferente. Na nossa visão, esse projeto apresenta claras vantagens para todos os envolvidos e acionistas. Vários consultores e observadores independentes, muitos deles analistas, destacaram as importantes sinergias resultantes dessa fusão, estimadas entre 600 e 800 milhões. Outro ponto importante: ao contrário do que é dito, o formato de hipermercado tem grande potencial. Por fim, as duas companhias são muito complementares em termos de formato: o Carrefour tem grande presença em hipermercados e hipermercados de baixo custo e a CBD é forte em supermercados e categorias de "não alimentos". Como você pode ver, nossa análise é radicalmente diferente.

 

Mas, como esse negócio não evoluiu, quais as opções de parceria do Carrefour no Brasil agora? Há novas negociações com o Walmart?

 

O Carrefour Brasil não está à venda! Pelo contrário, está no centro da nossa estratégia de crescimento. O Brasil é o terceiro maior mercado para o varejo de alimentos no mundo e nós somos o maior varejista de alimentos! Com o Atacadão, nós temos o melhor formato para o crescimento no varejo da América Latina. Nós vamos estudar todas as oportunidades de crescimento para continuar nossa expansão no Brasil.

 

Qual a sua opinião sobre o papel desempenhado pelo BNDES?

 

A posição do BNDES foi clara: o banco apoiava o projeto para criar um campeão brasileiro no varejo, criando valor para consumidores, funcionários, fornecedores e todos os acionistas. Mas sua aprovação estava condicionada à aprovação dos acionistas das partes envolvidas. E isso não ocorreu nesta fase.

 

O Carrefour recentemente revelou fraudes contábeis em sua operação brasileira. Está claro qual foi a origem desses problemas e o que foi feito a respeito?

 

Após uma auditoria no Brasil, revelamos irregularidades contábeis que nos levaram a tomar medidas duras. Nós mudamos o time de gestão e reforçamos procedimentos internos de controle. Esses problemas ficaram para trás e não têm impacto em nossa estratégia no Brasil de forma alguma.

 

Você não acha que as duas negociações recentes (com Walmart e Pão de Açúcar) tiveram um impacto negativo na imagem do Carrefour?

 

Todos os anos, nós atendemos milhões de consumidores no Brasil. Em 2010, 182 milhões de pessoas entraram em uma loja do Carrefour e 82 milhões visitaram um Atacadão, que vai atingir um novo recorde de abertura de lojas em 2011. Nos últimos doze meses, lançamos uma profunda transformação do Carrefour. O Carrefour vai continuar a ser parte da vida diária dos brasileiros como tem sido nos últimos 40 anos.

 


QUEM É

Lars Olofsson é formado em negócios pela Universidade de Lund (Suécia). Começou sua carreira na Nestlé, como gerente para a marca de congelados Findus. Durante 30 anos, passou por diversos postos dentro da fabricante de alimentos e assumiu o comando do Carrefour em 2009

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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