Casino fatura € 1 bi na web e vai lançar shopping virtual

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O Casino, sócio do Pão de Açúcar, prepara-se para lançar a partir de setembro um shopping center na internet. A Cdiscount, a varejista on-line de produtos não-alimentícios do grupo francês, passará a ter outras marcas e varejistas dos mais variados artigos, que poderão se beneficiar do fluxo mensal de 7 a 11 milhões de internautas que visitam sua homepage.

 

O projeto, batizado de "market place", poderá, no futuro, ser aplicado no Brasil, em sites como o das Casas Bahia, afirmaram ao Valor fontes ligadas ao grupo francês.

 

Com esse shopping on-line, o número de referências de produtos vendidos no Cdiscount, de cerca de 100 mil atualmente, passará para centenas de milhares até o final deste ano e atingirá a casa dos milhões de artigos em 2012. Por enquanto, no entanto, o Casino prefere não revelar quais marcas ou comerciantes poderiam entrar em seu shopping center na internet.

 

Desde a criação do Cdiscount, muita coisa mudou. Apenas as cores fortes e a profusão de ofertas - um verdadeiro bombardeio de promoções para incitar o internauta a comprar de maneira desenfreada - continuam as mesmas. O Cdiscount foi criado em 1998 por dois irmãos, Christophe e Nicolas Charle, para vender CDs.

 

Logo depois, em 2000, a empresa, com sede em Bordeaux, no Sudoeste da França, foi comprada pelo grupo Casino. Em janeiro deste ano, a varejista comprou os 18,6% restantes dos fundadores.

 

O Casino ampliou consideravelmente o leque de produtos. De computadores, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, CDs e DVDs, o Cdiscount passou a vender artigos para casa, roupas, acessórios para motos e carros e, mais recentemente, sapatos, brinquedos, joias, vinhos (três milhões de garrafas vendidas em 2010) e produtos de higiene. Há também uma pequena seção de chocolates, doces e comida para bebês.

 

Em dez anos, o Casino transformou uma "start up" criada em Bordeaux em um ator de peso no comércio virtual francês. O faturamento chegou a € 1,1 bilhão no ano passado.

 

Segundo a consultoria CCM Benchmark, que publica estudos sobre comércio on-line na França, o Cdiscount é o líder na venda de bens de consumo no país, à frente dos sites Ventes Privées e Amazon, em faturamento. O ranking não inclui os sites de serviços ligados ao turismo, que movimentam metade das vendas on-line no país.

 

No cômputo geral, o líder é o site de venda de passagens e pacotes turísticos da estatal ferroviária SNCF. Considerando-se o setor de viagens, o Cdiscount é o terceiro principal site de vendas na internet no país, em faturamento.

 

Essa filial é um trunfo importante na estratégia de desenvolvimento do grupo Casino. O futuro shopping center on-line cobrará comissões de vendas dos varejistas e marcas que entrarem no site. Captar anúncios publicitários é outra forma de rentabilizar, ao máximo, suas atividades na internet.

 

Mas o desempenho das vendas é o fator mais importante. Nesses tempos de crise na França, onde os supermercadistas vêm registrando magras performances, as vendas do Cdiscount estão crescendo na faixa dos dois dígitos.

 

Em 2010, quando ultrapassou a faixa de 10 milhões de clientes (no acumulado histórico), as vendas cresceram 14,5%, o que permitiu compensar "amplamente" a queda no faturamento de produtos não-alimentares nos hipermercados Géant do grupo. E graças ao site, o Casino encerrou o ano com alta nas vendas de eletroeletrônicos.

 

No segundo trimestre deste ano, as vendas aumentaram 16,2%. "A aceleração do crescimento do Cdiscount permitirá ao grupo uma progressão significativa", disse o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, há uma semana, na apresentação dos resultados semestrais aos analistas financeiros. Todos os segmentos de produtos vêm registrando alta nas vendas, sobretudo o de artigos para casa e de decoração.

 

Um dos principais fatores desse bom desempenho é a criação do sistema que permite ao cliente buscar a encomenda em lojas do grupo, evitando despesas suplementares de entrega (frete, por exemplo). Implementado inicialmente em 2009 para os volumes de mais de 30 Kg, que podiam ser retirados nos hipermercados, ele foi ampliado para os pacotes com peso inferior e estendido aos pequenos supermercados de bairro.

 

Nada como matar dois coelhos com uma só cajadada. O Casino economiza gastos com transportes, ao colocar as encomendas no mesmo caminhão que vai abastecer o supermercado (Cdiscount despacha mais de 30 mil pacotes por dia, em média). E há a possibilidade de o cliente que vai à loja buscar sua encomenda, comprar outros produtos. Para estimular as vendas no mundo real, o Casino também oferece aos clientes mais fiéis do site cupons que permitem ter descontos em supermercados do grupo.

 

Há outro fator que explica o crescimento e a liderança do Cdiscount: a política de preços é agressiva, com o marketing típico de varejistas de grandes descontos. A estratégia é ganhar mercado e tornar-se referência forte em termos de preços baixo, ainda que sacrificando margens de lucro, diz um analista. "É um trabalho de construção da imagem a longo prazo", completa. Fontes ligadas ao Casino afirmam que o site é rentável desde 2009.

 

O Casino gostaria de adaptar ao Brasil sua experiência em relação às vendas on-line na França, assegura uma fonte da empresa. O sistema de retirar nas lojas do Pão de Açúcar compras feitas pela internet está sendo discutido atualmente, como também a ideia de criar uma central de venda de anúncios nos sites do grupo no Brasil.

 

Brasil cresce distante do modelo francês

 

O modelo de venda pela internet no Brasil em muito pouco lembra o desenvolvido pelo Casino na França. As grandes redes de varejo alimentar, como Pão de Açúcar e Walmart, e de eletroeletrônicos, como Ponto Frio e Casas Bahia, só vendem no site mercadorias compradas pela própria rede. E informam que não há estudos de parcerias com outros comerciantes.

 

Além disso, o sistema que incentiva a retirada em loja do item comprado no site, como acontece com a Tesco na Inglaterra, o Walmart nos EUA, e o Casino na França, é algo que ocorre no Brasil de forma marginal.

 

"A razão é simples: o Brasil tem um sério problema de estrutura logística. Ninguém confia que, feito o pedido no site, o produto estará na loja em 24 horas", diz Manoel Araujo, diretor da Martinez de Araujo Consultoria de Varejo.

 

O comércio virtual no país cresce de forma mais acelerada que o varejo tradicional. O segmento faturou R$ 7,8 bilhões de janeiro a julho deste ano, um crescimento de 41,2% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo a consultoria e-bit. A Amazon, no mesmo período, cresceu 44,5% no mundo.

 

O ideal, na avaliação do consultor, seria manter algum estoque em loja e só fazer a retirada nesse espaço. "Isso eleva custo fixo de estoque, mas é muito mais barato do que sustentar duas estruturas paralelas, de centros distribuição a pessoal contratado, para lojas físicas e para a empresa na internet".

 

Entre as grandes companhias que têm explorado esse modelo está a Lojas Americanas, com cerca de 500 quiosques instalados nas lojas com acesso ao site, para a venda de mais de 500 mil itens. Parte dessas mercadorias pode ser retirada nas lojas.

 

No passado, a Casas Bahia chegou a vender itens no sites com entrega na loja. Só dava certo porque o estoque do site era o mesmo estoque da loja, o que evitava gargalos. O sistema não existe mais. Porém a rede informa que não está completamente afastada a hipótese de voltar a fazer retirada de itens nas lojas, no futuro.

 


Veículo: Valor Econômico


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