Apesar da desaceleração da economia mundial, do aumento dos custos de produção e da pressão gerada pela espera da aprovação da fusão entre Sadia e Perdigão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a BRF- Brasil Foods conseguiu repassar os custos aos preços dos produtos no mercado interno e nos mais de 140 países onde atua, mitigando os efeitos negativos nos resultados.
A receita líquida atingiu R$ 6,2 bilhões, com crescimento de 14% sobre o segundo trimestre do ano passado. O lucro líquido totalizou R$ 498 milhões, com alta de 190%.
O lucro teve impacto da venda do imóvel em Vila Anastácio, São Paulo, onde ficava a sede da empresa, que teve efeito de R$ 50 milhões no resultado.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) somou R$ 786 milhões e a margem subiu de 11,1% para 12,5% em um ano. O valor do Ebitda foi o maior já registrado pela empresa nesse período.
Em boa medida, o mercado interno ajudou a BRF a obter resultados mais expressivos no trimestre, compensando a desaceleração no cenário internacional. A receita líquida no Brasil somou R$ 3,7 bilhões, com crescimento de 17% sobre igual período de 2010. O faturamento no mercado externo subiu 9%, para R$ 2,5 bilhões.
"O Brasil cresce mais do que outros lugares", diz o executivo José Antonio Fay, presidente da BRF. O real fortalecido também contribuiu para o aumento da participação do mercado interno no total da receita da empresa.
Apesar da crise e do pânico nas bolsas de valores em todo o mundo, Fay sinalizou algum otimismo ao divulgar investimentos de US$ 120 milhões para construir uma fábrica de processados no Oriente Médio, nos Emirados Árabes Unidos. Será a maior fábrica da BRF fora do Brasil, com capacidade de produção de aproximadamente 80 mil toneladas por ano.
Hoje, a companhia tem duas fábricas no exterior, de médio porte, na Holanda e na Inglaterra. Fay não informou a data do início das obras, mas estima que as operações serão iniciadas no fim de 2012. A unidade deve responder por uma parte das vendas para o Oriente Médio, que hoje responde por 32% das exportações da BRF.
Os efeitos dos custos de produção foram mitigados, sobretudo, pelo repasse aos preços dos produtos no Brasil e fora. O preço de grãos, como soja e milho, que responde por 25% do custo total de produto vendido, subiu 45% em média no mercado internacional. Milho registrou a maior alta, de 71,7%, enquanto soja subiu 25,9%.
Segundo o executivo Leopoldo Viriato Saboya, vice-presidente de finanças, administração e relações com investidores, a empresa conseguiu aumentar o preço médio em 25% em dólar no mercado externo (em moeda local, o reajuste foi de 14%) e 12,5% no Brasil.
"O segundo trimestre continuou com resquícios da crise internacional, de altos estoques e preços ainda deprimidos", diz Saboya.
O executivo invoca a estratégia da companhia de buscar vender cada vez mais produtos processados, que têm maior valor agregado, e a redução no perfil do endividamento. A dívida da empresa caiu de R$ R$ 4,2 bilhões no segundo trimestre de 2010 para R$ 3,5 bilhões no fim de junho. "Essa redução se deve à maior geração de caixa", diz ele.
Com a fusão aprovada pelo Cade, em 13 de julho, a BRF espera capturar sinergias, que devem representar uma economia de R$ 500 milhões, a partir do próximo ano.
Fay não mencionou, na entrevista coletiva concedida a jornalistas ontem, que empresas já se mostravam interessadas em adquirir os ativos, estimados em R$ 2 bilhões, que devem ser vendidos pela companhia como determinação do Cade. "São os suspeitos usuais", disse ele, sem revelar os nomes. Ele apenas afirmou que o BTG é o banco contratado para organizar o processo de vendas.
Veículo: Valor Econômico