Gigante asiática, dona da Cenibra (celulose) negocia fábrica da Fibria
O grupo japonês Oji Paper, tradicional produtor de papéis na Ásia e acionista da fabricante de celulose mineira Cenibra, poderá fincar os pés no mercado papeleiro latino-americano nas próximas semanas. Caso feche a compra da fábrica de papéis especiais da Fibria, instalada em Piracicaba (SP), por US$ 313 milhões, a Oji Paper assumirá seu primeiro ativo de papel na América Latina e o segundo nas Américas. Ontem, conforme comunicado, firmou acordo de exclusividade para aquisição do ativo da Fibria.
O negócio já era esperado, pois em 2007 a japonesa firmou um acordo estratégico de fornecimento de tecnologia com a antiga Votorantim Celulose e Papel (VCP) justamente na área de papéis especiais. Quando a Fibria, que nasceu da fusão entre VCP e Aracruz, colocou à venda a unidade de Piracicaba, em meados de 2010, fontes da indústria apontaram que a Oji era forte candidata.
Logo depois, a Fibria confirmou a intenção de se desfazer de todos os ativos na área de papel - a unidade paulista é a última da lista - e avisou que a decisão de venda de Piracicaba poderia ser anunciada em meados deste ano. A exclusividade das negociações com a Oji Paper está fixada até 29 de setembro. Até lá, irá realizar uma auditoria (due diligence) da unidade, que confirmará, ou não, o valor acordado e a transação. Após essa data, perde o direito.
A fábrica de Piracicaba é a maior unidade produtiva de papéis especiais na América Latina e lidera os mercados de papéis térmicos e autocopiativos (utilizados, por exemplo, em impressoras fiscais) no país, com participação de 74% a 78%. Neste mercado, os três maiores produtores respondem por 88% dos negócios. A venda do ativo faz parte do reposicionamento estratégico da Fibria, que decidiu concentrar os negócios em celulose branqueada de eucalipto. No início do ano, a companhia já havia vendido para a Suzano Papel e Celulose, por R$ 1,5 bilhão, a fatia de 50% que detinha no Conpacel mais a distribuidora de papéis KSR.
Com mais de 130 anos de atividades, o grupo Oji Paper detinha 190 mil hectares de florestas no Japão e 240 mil hectares fora em 2009. A meta, até 2015, é chegar a 300 mil hectares de florestas em solo estrangeiro. No Brasil, por meio da Cenibra, possui florestas plantadas e produz uma parte da celulose que abastece suas fábricas na Ásia. A participação na Cenibra, que está apta a produzir 1,15 milhão de toneladas por ano em Belo Oriente (MG), se dá por meio do consórcio Japan Brazil Paper and Pulp Resources Development (JBP), no qual possui 39,84% de participação.
Nas Américas, o grupo opera ainda uma unidade de produção de celulose no Canadá e outra de papéis especiais nos Estados Unidos. No mercado asiático, no entanto, a atuação da Oji é bastante diversificada e inclui produção e vendas de papéis para imprimir e escrever, embalagens, papel absorvente (tissue), entre outros. No ano passado, registrou vendas líquidas de mais de US$ 12 bilhões.
Em mensagem aos acionistas da companhia, em relatório anual publicado em setembro, o presidente do grupo Oji, Kazuhisa Shinoda, definiu 2010 como "o primeiro ano de transformação no portfólio de negócios", com a promessa de várias estratégias de crescimento e em diferentes áreas. Em 2009, o grupo contava com mais de 300 subsidiárias e empresas afiliadas. Somente no Japão, operava pelo menos 20 grandes fábricas de papel.
Esse é o segundo negócio de valor relevante firmado por companhias japonesas no Brasil este mês. Na semana passada, a cervejaria Kirin anunciou a compra de 50,45% da Schincariol por R$ 3,95 bilhões. Conforme dados do Banco Central, o investimento estrangeiro direto japonês no país totalizou US$ 2,336 bilhões entre janeiro e junho deste ano, ante US$ 2,5 bilhões em todo o ano passado.
Veículo: Valor Econômico