Prestes a completar 100 anos de existência, a Catupiry renova seu visual e amplia a linha de produtos. Tudo para se manter como um dos ícones entre as marcas de requeijão
Poucas empresas no Brasil conseguem completar 100 anos. Um número mais reduzido ainda atinge esse patamar mantendo-se como uma das preferidas no setor no qual atua. A Laticínios Catupiry, de Lambari, no sul de Minas Gerais, pertence ao exclusivíssimo grupo daquelas que chegam a um século de existência desfrutando do prestígio de quem se tornou sinônimo do produto que fabrica: o requeijão. A empresa conseguiu essa façanha combinando a administração de seus recursos em marketing com a propaganda boca a boca e ações localizadas nos pontos de venda.
Em 2010, seu faturamento atingiu R$ 200 milhões, o equivalente a 25% das vendas totais do segmento de requeijão no País, que chegaram a R$ 782,6 milhões. Essa participação seria confortável, não fosse por um fator: em um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico, a tendência é de que o consumidor se torne cada vez menos leal às marcas. Foi pensando nos possíveis problemas decorrentes desse cenário que a direção da companhia resolveu assumir uma postura mais agressiva. Quem vai comandar a execução dessa estratégia é o executivo Alexandre Delmanto, superintendente comercial e de marketing da Catupiry. “Fui contratado para pensar os próximos 100 anos da empresa”, disse Delmanto à DINHEIRO.
O executivo, que fez carreira na Johnson & Johnson e na Bombril, foi contratado no ano passado com o desafio de ampliar em 25% o faturamento da Catupiry até 2012. Para isso, ele terá carta branca para investir R$ 10 milhões em ações de marketing e no desenvolvimento de produtos. “Até o início deste ano, a companhia jamais havia feito uma pesquisa de mercado”, afirmou. Foi o levantamento dos dados que garantiu as bases para o plano de crescimento. O chamado food service (bares e restaurantes) não será contemplado. Nem precisa. “Das cerca de seis mil pizzarias de São Paulo, fornecemos para 5.500”, disse o executivo. A entrada nesse nicho ocorreu sem um planejamento específico. No final da década de 1970, Armando Alba, integrante da equipe de vendas, convenceu o dono de uma pizzaria paulistana a experimentar o requeijão. “Associar nosso requeijão às pizzas foi um marco para a Catupiry”, afirmou Delmanto.
Para capturar a geração fast food, o dirigente fechou acordo com o McDonald’s, dando origem ao lanche Frango com Catupiry, vendido durante o mês de junho. Para os demais consumidores, o laticínio está modernizando a logomarca e adotando embalagens e fórmulas diferenciadas. O objetivo é dobrar para 44 o portfólio, que possui hoje, além do requeijão, pães de queijo e petiscos de camarão congelados. O primeiro exemplar dessa nova fase é a linha de requeijões com quatro diferentes sabores que devem chegar às gôndolas ainda neste mês. Para Luiz Gaspar, analista de mercado da Nielsen, a Catupiry tem toda a estrutura para explorar outros campos. “A classe C está consumindo alimentos mais caros”, disse. “Esta é uma excelente oportunidade de crescimento.”
O produto principal da companhia foi criado em novembro de 1911 pelo imigrante italiano Mário Silvestrini, fundador da Catupiry. Morador de Lambari, ele não imaginava que aquela aventura gastronômica daria origem a um negócio parrudo. Hoje apenas um dos seis acionistas da empresa é do clã Silvestrini. Isso porque, no início do negócio, sem capital suficiente para atender à demanda de mercado, o italiano fez acordos com seus principais fornecedores para trocar insumos por participação no negócio. Mesmo assim, a receita do Catupiry ainda é guardada a sete chaves. Para manter o segredo, nenhuma das quatro fábricas produz o requeijão do começo ao fim; cada uma é responsável por uma fase da produção. Nisso, Dalmanto está proibido de mexer.
Veículo: Isto É Dinheiro