A indústria de embalagem já começa a sentir os efeitos da desaceleração da economia em 2011. De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens (Abre), o crescimento deve ficar em torno de 1% neste ano, ante um crescimento de 10,13% registrado em 2010, considerado um ano totalmente "atípico" por vários especialistas do setor.
"Claramente, esse número elevado não pode se sustentar por muito tempo", afirma Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Segundo dados do estudo, realizado há quinze anos pela FGV para a Abre, nos 12 meses encerrados em junho de 2011, a produção do setor foi expandida em 4,18%. No primeiro semestre deste ano, a produção física cresceu 2,98%.
A projeção é de que a indústria continue reduzindo o ritmo de crescimento no terceiro trimestre de 2011, podendo cair até 2%. "Já esperávamos que esse fosse um ano de acomodação do setor", afirma Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre. Para ela, 2010 foi um período "totalmente fora da curva". Nos três primeiros meses de 2011, a indústria de embalagem cresceu 5,01% em relação a igual período de 2010. Ao passo que, no segundo trimestre deste ano, o crescimento registrado foi de apenas 0,98%. O resultado obtido entre abril e junho é o pior desde o quarto trimestre de 2009, período no qual a produção encolheu 3,62%.
Para a diretora-executiva da Abre, as empresas do setor não esperam maior crescimento em razão da nova situação econômica mundial. Apesar disso, ela garante que o setor tem hoje uma boa capacidade produtiva. O nível registrado em julho de 2011 foi de 86,2%, queda de 2,8% em relação ao mesmo período de 2010. Mesmo assim, o setor não vai deixar de investir. Segundo o estudo, 40% das empresas pesquisadas planejam investimentos para expandir capacidade produtiva, 36% prevê aportes para aumento de eficiência e 13% para substituição de máquinas.
Os fabricantes devem obter receita líquida de R$ 41,1 bilhões, apesar do desaquecimento do mercado. O incremento da produção semestral foi impulsionado pelo desempenho da madeira (15,83%) e do vidro (11,69%). Os setores de plástico e papel, papelão e cartão tiveram crescimentos mais modestos, de 0,46% e 1,45%, respectivamente. O setor plástico teve redução de 1,19%, no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2010.
Para Salomão Quadros, as vendas no varejo estão em constante elevação devido ao aumento das importações, favorecidas pela desvalorização do dólar, e o quadro não deve se alterar, por enquanto. E nesse cenário, quem sai perdendo é a indústria nacional. "O câmbio não vai mudar porque estamos falando de uma característica dessa fase da economia mundial". Ele acrescenta que os Estados Unidos têm tido muitas dificuldades para se recuperar, por isso a situação pode persistir por mais algum tempo.
De acordo com Eduardo Gianini, gerente de marketing da Papirus Indústria de Papel S.A, apesar do aumento das importações devido à desvalorização do dólar, a demanda da empresa no mercado interno tem aumentado ao longo dos últimos anos. "Consequentemente, temos concentrado esforços para atender pedidos aqui no País". Ele afirma que, particularmente no segmento de papel cartão, houve um aumento significativo na entrada de importados, o que diminui a receita da empresa.
As exportações diretas do setor de embalagem tiveram faturamento de US$ 229,496 mil no primeiro semestre deste ano, crescimento de 24,99% em relação a igual período de 2010. Porém, a balança continua deficitária, pois as importações foram muito elevadas de janeiro a junho: o acréscimo foi de 20,25%, com receita de US$ 390,135 mil.
Empregos formais
Houve aumento de 8.262 postos entre junho de 2010 e junho de 2011, contra um aumento de 14.943 vagas em igual período de 2009 a 2010. O nível mínimo de 199.930 vagas foi observado em abril de 2009. O segmento que apresenta maior contratação é o de plástico, com 117.750 postos, o equivalente a 52,63% do total da indústria de embalagem. Em junho de 2011, o setor apresentou 223.750 empregos formais, número que deve crescer próximo às festas de Natal e Ano Novo.
Para Luciana Pellegrino, a situação econômica mundial tem influência nas contratações. Segundo ela, o setor conta com uma força de trabalho expressiva e a mais alta registrada até então, o que mostra consolidação dessa indústria. Para a Abre, a expectativa é que o número de contratações continue no mesmo patamar nos próximos meses.
Veículo: DCI