A indústria do alumínio prevê crescimento de 9,1%, em 2011, índice abaixo das estimativas para este ano. Empresários do setor investem em autogeração de energia para diminuir os custos.
Gargalos seguram avanço da indústria
A expectativa de crescimento da indústria do alumínio este ano deve ficar abaixo do esperado: em torno de 9,1%. No primeiro semestre, o índice de crescimento registrado foi de 13,2% e no segundo semestre estima-se que ficará em 5,4%. Em entrevista exclusiva ao DCI, concedida ontem, em São Paulo, o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), Adjarma Azevedo, falou sobre os gargalos do setor, especialmente o alto custo da energia. "A única forma de driblar esse custo da transformação do alumínio é investir em autoprodução de energia elétrica. É isso ou sair do País", desabafou o representante das indústrias.
Para o ano de 2011, a Abal projeta um consumo doméstico de produtos transformados de alumínio na ordem de 1,41 milhão de toneladas. O volume registrado no primeiro semestre foi de 693,5 mil toneladas. O segmento de embalagens continua sendo o principal consumidor e representa 28% do total, seguido por transportes (22%), construção civil e indústria de eletricidade, ambos com 13%.
De acordo com Azevedo, o ano de 2012 poderia ser ainda mais crítico caso o mercado continuasse com altas demandas de alumínio, obrigando as empresas a importarem mais quantidades do metal. Porém, com essa desaceleração temporária do crescimento para cerca de 5%, o setor deve "amansar" até 2013.
O presidente da Abal salienta ainda que, nos próximos anos, o Brasil terá eventos como a Copa das Confederações, o Mundial de 2014, as Olimpíadas, além de projetos como o pré-sal e o PAC. Por essas razões, Azevedo acredita que o consumo de alumínio deverá dobrar até 2020. Hoje, de acordo com o empresário, o mercado interno consome cerca de 1,5 milhão de toneladas do metal. Daqui a dez anos, o País deverá consumir até 3 milhões de toneladas de alumínio.
Azevedo vê com otimismo os planos de incentivo à indústria brasileira. No entanto, ele afirma que ninguém sabe, ao certo, o conteúdo do Novo Código de Mineração, que deve ser lançado em até 15 dias, segundo informações do Ministério de Minas e Energia. "Nós entendemos a importância desse projeto, mas a nossa maior preocupação é o aumento dos custos que podem chegar com essas medidas, como é o caso da nova contribuição financeira", ressalta o executivo.
O presidente da Abal afirma que o setor pretende colaborar com as novas propostas, mas observa que o governo não pode esquecer dos altos custos de produção no País. Azevedo destaca que a mineração brasileira é uma das mais caras do mundo. "Se o preço da commodity cair no mercado internacional, as empresas param de produzir, o que diminui o número de postos de trabalho", diz o empresário.
As exportações do setor deverão totalizar US$ 4,45 bilhões, contra US$ 1,52 bilhão de importações. No primeiro semestre do ano, as vendas externas somaram US$ 2,06 bilhões em vendas de bauxita, alumina e de alumínio e seus produtos. Para 2012, a expectativa é de que os investimentos continuem no setor. O aporte no segmento de laminação, por exemplo, deve ficar em torno de US$ 300 milhões. Porém, o presidente da ABAL destaca que muitos têm medo de não aguentar a concorrência das importações. "O Brasil está sob ataque. O comércio exterior é uma guerra, e nós corremos um grave risco de desindustrialização", alerta Azevedo.
Custo da energia no Brasil
Estimativas mostram que o preço do megawat-hora de energia, no País, gira em torno de US$ 70, quase o dobro da média mundial. "Eu diria que esse custo, atualmente, no Brasil, é de US$ 80", diz Azevedo. Ele afirma que a indústria de alumínio, antecipando esse problema, tem investido na geração de energia, que não é o seu ramo. Para o executivo, essa é a única forma que as empresas têm encontrado para driblar os preços de transformação do alumínio.
"O governo tem consciência dos altos custos para se trabalhar aqui e não quer perder uma indústria de base dessa magnitude", diz Azevedo. Para ele, as autoridades sinalizam preocupação com o setor. "Só não sei se o governo se preocupou tarde demais", afirma o executivo.
Veículo: DCI