O café cultivado de forma sustentável é mais valorizado no mercado mundial
A Associação dos Pequenos Produtores do Cerrado (Appcer) conquistou no início deste mês a certificação Fair Trade, selo Comércio Justo, para a produção de café do cerrado. Com o selo, os cafeicultores esperam agregar valor às sacas de café e expandir a comercialização com os Estados Unidos e a Europa. A Fair Trade é concedida aos produtores familiares que cultivam o café de forma sustentável e dentro de padrões internacionais.
De acordo com o analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG) e gestor do Programa Café do Cerrado, Marcos Geraldo Alves da Silva, o principal benefício esperado pelos cafeicultores da região é o aumento do lucro.
Segundo dados do Sebrae-MG, no modelo de venda da Fair Trade, os cafeicultores têm a garantia do pagamento de um preço mínimo pela saca. A comercialização do produto é feita diretamente, o que elimina os atravessadores e proporciona maior lucro para os cafeicultores.
A conquista da certificação veio depois do desenvolvimento de projetos que tinham como objetivo identificar os pequenos cafeicultores e integrá-los ao Programa do Café do Cerrado, através de capacitação e acesso as consultorias. O projeto foi desenvolvido ao longo dos últimos dois anos.
A princípio, a comercialização da produção era feita através da Cooperativa dos Pecuaristas, Agricultores e Cafeicultores de Minas Gerais (Copacafé) e Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer), porém uma das exigências para a certificação é que os cafeicultores estejam unidos em uma entidade composta somente por produtores de pequeno porte, o que incentivou a criação da Appcer, que hoje representa cerca de 55 municípios do cerrado, com 39 produtores cadastrados e 27 já certificados.
Segundo o presidente da Appcer, José da Cruz Pereira, a saca de café, com a certificação Fair Trade, custa até R$ 100 a mais que a saca de café comum, e os produtores têm um aumento nos ganhos de até R$ 70. Outros R$ 30 são destinados à entidade, que deve decidir, em assembleia, a melhor maneira de empregá-los.
"Cerca de 25% do prêmio recebido pela comercialização do produto certificado deve ser repassado à cooperativa para que seja investido em meios de melhorar a produção, como a compra de equipamentos para uso coletivo dos associados, realização de cursos de capacitação, investimentos em áreas de armazenagem e beneficiamento do café. A forma como a verba será utilizada é decidida através de assembleia", disse Pereira.
Os produtores precisaram rever as praticas de produção para a conquista da Fair Trade. Segundo Alves da Silva, entre as ações implantadas estão a redução do impacto ambiental provocado pelo cultivo do grão, utilização da mão de obra familiar, adequação do uso de produtos agroquímicos para tornar a produção sustentável, respeito às leis trabalhistas, além da melhoria na gestão do negócio.
Sul de Minas - Para incentivar os investimentos dos produtores nos cafezais e na gestão, durante os dois últimos anos, através do Sebrae-MG, foram realizadas visitas ao Sul de Minas, onde já existem produtores com a certificação, e promovidas palestras na região do cerrado. "Com a interação entre as regiões, os produtores conseguiram ver como a certificação funciona, identificar as vantagens e os ajustes necessários para se adequarem às exigências", disse o analista do Sebrae-MG.
Segundo Alves da Silva, no Sul de Minas, existem nove associações capacitadas para produzir café com o selo Comércio Justo. O prêmio do café, no Sul de Minas, é destinado às ações como doação de material escolar, criação de consultórios odontológicos que atendam à população local e ações que promovam a sustentabilidade.
José da Cruz estima que, ainda neste ano, 3 mil sacas devem ser vendidas através do Comércio Justo. A expectativa é que em 2012 sejam vendidas em torno de 40 mil sacas. Além deste certificado, a Appcer também comercializa a produção com a Indicação de Procedência Café do Cerrado, o que também contribui para agregar valor ao grão.
A estrutura da Appcer foi elaborada para atender aos 55 municípios do cerrado mineiro através da criação de núcleos. Hoje existe o núcleo inicial que funciona na comunidade do Esmeril, na região de Patrocínio, no Alto Paranaíba. Devido ao empenho deste centro e ao desenvolvimento que a associação vem apresentando, já há demanda para implantação de cinco núcleos localizados nos municípios de Patrocínio, com três unidades, Monte Carmelo e Araguari, ambos no Triângulo Mineiro.
Veículo: Diário do Comércio - MG