Unilever estuda a desaceleração

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Os mercados emergentes não estão totalmente imunes ao desequilíbrio e à incerteza que predominam nos países desenvolvidos. "Vivemos em um mundo muito interconectado e definitivamente vai haver algum impacto de desaceleração nesses mercados", afirmou Harish Manwani, presidente global de operações da Unilever em entrevista ao Valor. Ele coordena há três meses as oito regionais da gigante europeia, que somaram vendas de US$ 16,7 bilhões de julho a setembro. O executivo esteve no Brasil nos últimos dois dias para discutir o desempenho da companhia no trimestre.

Manwani afirma que os mercados em desenvolvimento continuam a crescer, mas prefere ser cauteloso. "Temos que estar preparados para qualquer tipo de desaceleração". Segundo o executivo, a empresa se adapta a um novo contexto, em que planos de longo prazo não são mais suficientes. "Em um mundo de incerteza e volatilidade, temos que ser mais dinâmicos na maneira de manejar nosso negócio e estar preparados para o caso de as coisas ocorrerem de forma diferente do que tínhamos planejado".

No relatório de resultados do segundo trimestre, a Unilever chegou a citar um freio no desempenho brasileiro por redução de estoques no comércio. Já de julho a setembro, reportou uma recuperação de crescimento no país, mas afirmou sentir uma intensa competição.

A rival americana Procter & Gamble tem reforçado a posição no Brasil, com novas marcas e ampliação de fábricas. Manwani defende que a Unilever, há 82 anos no país, está em uma situação confortável. "Nossa reputação nesse mercado é grande e isso não é algo que possa ser construído em um ou cinco anos. Estamos aqui em bons e maus momentos", afirma o executivo.

A Unilever estuda trazer outras marcas para o Brasil, segundo Manwani. Os lançamentos mais recentes foram no mercado de cuidados com o cabelo - as marcas TreSemmé e Keratinology. A empresa prevê investir R$ 500 milhões na categoria até 2012.

A operação brasileira é a segunda maior da Unilever no mundo, atrás apenas dos EUA. "Se você olhar para o crescimento econômico do Brasil nos últimos cinco anos e fizer algumas projeções, estamos falando de um mercado que vai ser um dos mais potentes do mundo. É prioridade máxima para nós", diz.

Os países emergentes são responsáveis por 54% das vendas da empresa. "Há um deslocamento irreversível do centro econômico de gravidade para os mercados em desenvolvimento", considera Manwani. Foi graças a eles que a receita da empresa cresceu no terceiro trimestre. Enquanto as vendas na Europa recuaram 0,5%, Ásia, África e América Latina avançaram mais de 10% ante o mesmo período de 2010.

Nesse novo cenário global, Manwani considera que a Unilever está em vantagem. "Diria que somos a companhia dos mercados emergentes porque estamos neles há um período longo, enquanto outras estão descobrindo o potencial desses países agora".

Com a experiência em países em desenvolvimento, a Unilever construiu um modelo de negócios, segundo o executivo, em que o ponto de partida é o preço que o consumidor está disposto a pagar. "Você tem que entregar qualidade a preços acessíveis", diz.

A escolha de Manwani para coordenar as operações da Unilever é um indicativo da preocupação da empresa com os emergentes. Indiano, ele já assumiu vários cargos em países em desenvolvimento, como a presidência do conselho consultivo para a América Latina e de regionais na Ásia, África e Oriente Médio.

O executivo quer vir ao Brasil de duas a três vezes por ano. "O Brasil é muito grande para se ignorar e isso é obviamente uma mensagem para o Miguel", brincou, sob os olhares atentos do presidente na América Latina, Miguel Kozuszok, e do presidente no Brasil, Fernando Fernandez, que acompanharam a entrevista do chefe, em silêncio. Fernandez assumiu a presidência no país em setembro depois que Kozuszok, que seria responsável direto pelo Brasil, decidiu comandar as operações da região a partir da Argentina por motivos pessoais.


Veículo: Valor Econômico


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