Em plena crise, Portugal rende-se aos pães de queijo da mineira Forno de Minas (FM), da família Mendonça. A entrada na Europa via Lisboa é parte da estratégia de internacionalização da empresa, que começa a sair do papel no ano em que completa 20 anos. Na mira de Helder Mendonça, diretor presidente da Forno de Minas, os Estados Unidos são outro desafio. O executivo está em Miami, de onde falou por telefone ao Valor. Foi estruturar a abertura do escritório na cidade.
A Forno de Minas firmou, em janeiro, um contrato exclusivo de exportação de pão de queijo para a Pingo Doce - uma das maiores redes de supermercados de Portugal, do grupo Jerônimo Martins, ex- dono da rede Sé no Brasil, comprada pelo Pão de Açúcar.
Em apenas seis meses, o consumo do pão de queijo pelos portugueses saltou de 40 mil para 200 mil unidades por semana. O que vai garantir este ano um faturamento de € 1 milhão no mercado português. "Se não fosse a crise europeia, a velocidade do negócio teria sido maior ", diz Mendonça.
O próximo passo da empresa mineira na terra de Camões é colocar nas gôndolas do Pingo Doce pacotinhos de pão de queijo congelado para o freguês levar para casa. "Nossa ideia na Europa é construir um 'case' de sucesso com números e tudo. Estamos fazendo um aquecimento para partirmos para o gigantesco mercado americano", diz o empresário.
Mendonça espera fazer do escritório em Miami um centro distribuidor para todo território americano. Antes, a empresa contava com o suporte do escritório da Apex, na Flórida. "Daqui do nosso escritório, vamos organizar uma plataforma logística para chegar a qualquer lugar do país".
Nos Estados Unidos, o executivo já conseguiu acertar a distribuição do pão de queijo da marca Forno de Minas por toda costa leste através de uma grande distribuidora nova iorquina, a Triunph. Mendonça vem negociando a entrada do pão de queijo no sofisticado circuito de produtos orgânicos.
"Começamos a fornecer o produto para a Whole Foods, rede classe A, dos mais ricos, focada em orgânicos, que tem 270 lojas no país", informou, satisfeito. Na rede Whole Foods a empresa mineira já conseguiu colocar o pacotinho do produto congelado.
Outro negócio em andamento é a fabricação de "frozen yogurt" nos Estados Unidos, com a marca Forno de Minas pela americana Kemps. Mendonça está ultimando a distribuição de pão de queijo no Canadá, através da BR4 Trade.
O presidente da Forno de Minas está cheio de planos para a empresa fundada por sua mãe, Dalva Mendonça. Entretanto, reconhece que 2009 foi um ano muito duro, de retomada da Forno de Minas, que tem uma história peculiar, inversa da maioria das empresas familiares brasileiras.
Em 1999, a Forno de Minas foi vendida pela família para a americana General Mills. "Vendemos porque consideramos a proposta irrecusável", justifica o executivo. Na época da venda, a empresa detinha 60% do mercado doméstico de pão de queijo e crescia a 30% ao ano. A General Mills queria comprar uma líder de mercado e conseguiu. "Mas ficou 10 anos com o negócio e depois desistiu", diz Mendonça.
Nesse período, o faturamento da Forno de Minas encolheu pela metade e foi perdendo participação de mercadp nos supermercados porque a qualidade do produto piorou. " O pão de queijo deixou de ser artesanal para ser industrializado", disse Mendonça. A General Mills optou, então, por encerrar o negócio e a família Mendonça renegociou sua compra.
A retomada do negócio ocupa 24 horas por dia na vida de Macedo. Ele espera faturar em 2011 um total de R$ 110 milhões, ante R$ 60 milhões em 2010. Este resultado inclui € 1 milhão com exportações para a Europa e US$ 1,5 milhão para os Estados Unidos.
Para capitalizar a Forno de Minas, a família vendeu 29% de participação para o Mercatto, um fundo de private equity carioca em 2010, ficando, porém, majoritária com 71%.
Entre 2010 e 2012 a empresa planeja investir R$ 40 milhões na ampliação da unidade industrial onde fabrica laticínios, na diversificação de produtos no mercado doméstico e na estratégia de internacionalização.
A meta de Mendonça é a empresa estar faturando R$ 250 milhões até 2014. "Naturalmente a empresa quer crescer e precisa de recursos para isso. Já fizemos um planejamento que está nos possibilitando reconquistar o 'market share' no mercado interno e avançar no exterior".
O executivo não descarta abrir o capital da empresa na Bovespa, mas acha que ainda é cedo. "O que podemos fazer, nos próximos três anos, caso tenhamos necessidade de nos capitalizar mais, é buscar um parceiro, um sócio estratégico para o futuro", adiantou Mendonça.
Veículo: Valor Econômico