Exportadores de arroz da Tailândia alertaram que as vendas externas do cereal poderão cair até 38%, neste ano, o mais baixo nível em mais de uma década, devido à volta da Índia ao mercado exportador de arroz e a um regime de subvenção do novo governo tailandês, que está inflando os preços.
Devido à projetada queda nos volumes de exportação, o Vietnã poderá substituir a Tailândia - que responde por 7% da produção mundial de arroz e de mais de 30% do mercado mundial arroz - na posição de maior exportador mundial de arroz.
O setor produtivo tailandês espera uma safra abundante de arroz em 2012, próxima dos 30 milhões a 32 milhões de toneladas colhidas em 2011. No entanto, as exportações de arroz tailandês provavelmente cairão para entre 6,5 milhões de toneladas e 8 milhões de toneladas ante 10,5 milhões de toneladas no ano passado, segundo a Associação dos Exportadores de Arroz da Tailândia (TREA, em inglês).
As principais regiões de cultivo do arroz na Tailândia ficaram relativamente ilesas quando das grandes inundações nas regiões centro e norte do país, no ano passado, e provavelmente vão se beneficiar do efeito que as enchentes têm sobre a fertilidade do solo, disseram exportadores locais.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) também previu uma grande queda nas exportações de arroz tailandês, tendo estimado, na semana passada, que os embarques do país asiático cairão 33%, para 7 milhões de toneladas, o menor nível desde 2000. Com base nesses números, a participação tailandesa no mercado mundial de arroz deverá encolher para 20% a 25%, de 30,2% em 2011, disse o USDA.
Korbsook Iamsuri, presidente da TREA, que representa dois terços dos cerca de 300 exportadores de arroz da Tailândia, disse que um fator-chave foi a retomada das exportações de arroz pela Índia no ano passado, após uma ausência de três anos, e outro é o plano vietnamita de dobrar as exportações de arroz jasmine para 800 mil de toneladas neste ano. Além disso, um número crescente de países já começou a exportar ou incrementar as exportações de arroz, entre eles o Brasil, Uruguai, Paquistão, Camboja e Mianmar.
Em novembro os preços do arroz tailandês atingiram US$ 663 a tonelada, um pico em três anos, ao mesmo tempo em que o preço de referência asiático caiu mais de 15% em relação a doze meses atrás, depois que o governo lançou um programa de subsídio para comprar arroz dos agricultores por preços acima do mercado. Num país onde o voto rural é crucial para os partidos políticos, a iniciativa substitui um sistema de garantia de preços para os produtores de arroz, implementado no governo anterior, e vários esquemas anteriores de sustentação de preços.
No entanto, a adesão ao novo regime, em que os agricultores "prometem" vender seus arroz ao governo por um preço definido, tem sido muito mais lenta do que esperado. Cerca de 4,7 milhões de toneladas de arroz não polido foi comprado de agricultores nos termos do esquema nos três meses até 4 de janeiro, quantidade inferior à meta inicial de 15 milhões de toneladas e muito abaixo do nível esperado de 19 milhões de toneladas da colheita, segundo dados do governo tailandês.
De acordo com a TREA e a Jackson Son & Co, corretora de commodities no Reino Unido, alguns agricultores preferem vender a preços mais baixos às beneficiadoras de arroz ou para exportadores, em vez de cumprir os critérios complicados do sistema do governo e esperar o pagamento.
Korbsook disse que a Tailândia deu um "tiro no próprio pé" e instou o governo a rever sua política de sustentação dos preços. A associação propôs um esquema alternativo "híbrido", subsidiando os preços aos agricultores que cultivam arroz em menores escalas e permitindo que os maiores vendam para o governo através do sistema de "promessa de compra". Ou então, afirmou, o governo deveria simplesmente voltar ao velho sistema de subsídio à renda. Até agora, acrescentou ela, o governo "se recusa a dar ouvidos".
"Ninguém se opõe a que os agricultores pobres recebam ajuda mas, nesse processo, eles estão destruindo nossas exportações e nosso setor produtor de arroz. Essa política é insustentável a longo prazo, mas parece que eles estão mais preocupados com sua popularidade de curto prazo do que com sustentabilidade a longo prazo".
As autoridades tailandesas, porém, insistem em que continua a haver demanda para o arroz tailandês de qualidade superior e disseram que o governo não irá rever sua política para o arroz. "A Tailândia acabará vendendo seu arroz a um nível adequado", disse Kittiratt Na-Ranong, vice-primeiro-ministro do país.
A questão, disse um analista que atua no mercado de arroz, é que o governo tailandês acredita que o arroz está sendo vendido muito barato no mercado mundial. A ideia de agregar oferta para tentar estabelecer um nível de preços, porém, é limitada pela capacidade da Tailândia de influenciar os preços de mercado ou competir com produtores que praticam custos mais baixos. "A maior preocupação é com que a Tailândia seja gradualmente expulsa de seus mercados tradicionais, à medida que participantes mais agressivos, como o Vietnã, participem do mercado e aumentem sua produtividade no cultivo do arroz".
Veículo: Valor Econômico