Participação feminina é pequena, mas mudanças nos conselhos, a partir de março, tendem a priorizar a diversidade
A participação de mulheres nos conselhos de administração ainda é pequena no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), apenas um terço das empresas brasileiras tem pelo menos uma mulher no conselho - uma das mais baixas presenças entre 25 países pesquisados.
No entanto, a partir de março, quando começa a temporada de eleição de conselhos, a tendência é que se inicie uma "temporada de caça" às mulheres - isso porque muitas companhias estão dispostas a aumentar a diversidade de opiniões entre os conselheiros.
Para Heloísa Bedicks, superintendente do IBGC, a presença em conselhos de administração vai crescer junto com o número de mulheres em cargos executivos. Recentemente, dois grandes grupos adicionaram presença feminina em posições-chave: o Bradesco, pela primeira vez em 69 anos, terá uma mulher em seu corpo de diretores. Denise Pavarina foi nomeada diretora executiva adjunta do banco. A filial brasileira da GE mudou de presidente - agora, Adriana Machado comanda a gigante americana no País. "É uma questão de tempo. É um processo que está se acelerando", diz a superintendente do IBGC, que participa do conselho da seguradora Mapfre.
Tanto Heloísa quanto Maria Silvia Bastos Marques, presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM) e conselheira da Globex, concordam que a presença feminina nos conselhos de grandes grupos deve ser determinada pelo mercado, e não por cotas, como ocorre em países europeus. Na Bélgica e na Itália, por exemplo, as mulheres precisam ter pelo menos 33% das cadeiras nos conselhos. "Nunca aceitei nenhuma proposta atrelada ao fato de ser mulher. Acho que isso seria uma forma de depreciar nossa capacidade profissional", afirma Maria Silvia.
Novas ideias. A executiva, que ficou conhecida por sua atuação em setores normalmente associados ao universo masculino - ela foi presidente da siderúrgica CSN e participou do conselho mundial da mineradora Anglo American -, afirma que a diversidade de pontos de vista no conselho de administração e em corpos de executivos leva a decisões empresariais mais ricas. "Mesmo com a mesma formação e capacitação, homens e mulheres encaram um mesmo problema de forma diferente", ressalta.
Maria Silvia associa uma medida que tomou à frente da CSN ao "olhar feminino": em visitas à área de produção, percebeu que era necessário mudar os uniformes dos funcionários. "Os uniformes eram feios, e à medida que ficavam velhos, eram doados à comunidade sem critério. Os catadores de lixo e varredores de rua usavam os uniformes antigos. Isso afetava a autoestima dos trabalhadores."
A executiva decidiu então fazer um concurso interno para a criação de um novo uniforme, que passou a ser exclusivo dos trabalhadores. "Isso acabou tendo um efeito positivo na motivação das pessoas."
Para Eliane Lustosa, que participa de quatro conselhos - Gerdau, América Latina Logística (ALL), Logz Logística e AEP -, a baixa participação das mulheres na tomada de decisões empresariais não será mantida no longo prazo. "Chama a atenção a baixa presença feminina, especialmente se levarmos em consideração o maior grau de escolaridade em relação aos homens", diz. "E essa falta de diversidade pode levar à perda de competitividade."
Veículo: O Estado de S.Paulo