Wickbold avança no Sul e busca liderança em pães especiais

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Ronaldo Wickbold, diretor industrial da Wickbold, tradicional fabricante de pães e bolos com sede na capital paulista, é avesso a fotos. Por um misto de timidez e receio de exposição, foge dos flashes. Só deixa de lado qualquer rastro de inibição quando fala com orgulho da qualidade do seu portfólio, que rende à Wickbold a segunda posição no ranking do mercado de pães especiais (versões integral e light), só atrás da multinacional mexicana Bimbo, dona de Pullman, Plus Vita e Nutrella. Atrás, por enquanto. Wickbold pretende superar a Bimbo até o fim de 2013.

"A distância é pequena", diz o filho do fundador, considerando o atual market share da marca: 25,2%, contra 28% da mexicana, em volume. Em 2011, a venda de pães especiais cresceu 14%, enquanto a Wickbold saltou 28% em volume. A concorrente, por sua vez, perdeu 1,5 ponto percentual.

Na onda do consumo saudável, o segmento dos especiais tem puxado o mercado de pães industrializados, que soma vendas de R$ 2,5 bilhões ao ano. As versões integral e light respondem por 27% disso, mas crescem em velocidade bem maior. Enquanto o consumo de industrializados (pão de forma branco e bisnaguinhas, na maioria) aumentou 22% entre 2009 e 2011, o de especiais subiu 60%.

Para dar conta da demanda e cumprir a meta de superar a concorrente em dois anos, a Wickbold prepara investimentos de R$ 25 milhões em uma nova fábrica em Santa Catarina - fincando bandeira na região Sul, dominada pela marca Nutrella -, que deve entrar em operação ainda este ano. A empresa ainda planeja, para 2013, investir em duas fábricas no Centro-Oeste ou no Nordeste, ainda não definido.

A Wickbold também vai ampliar a sua planta mais nova, em Hortolândia (SP), fundada em 2007. A companhia tem mais três unidades fabris: na capital paulista, em Diadema (SP) e no Rio de Janeiro. Ao todo, emprega 2 mil pessoas e faturou R$ 511 milhões em 2011, com alta de 23% sobre o ano anterior.

"Já estamos usando 90% da nossa capacidade instalada", diz Wickbold, responsável pela área industrial e de logística da companhia. A área administrativa e financeira está com a sua sobrinha, Telma. O executivo Bernardino Costa - que passou 25 anos na Nestlé, além de ter trabalhado na Adria e na Elegê - foi contratado em 2010 como diretor comercial. "Queríamos trazer gente de fora para abrir novas possibilidades de negócios", comenta Wickbold. Costa vem cumprindo suas metas. A empresa entrou na categoria de petiscos no fim do ano, com o snack saudável Tickroc, para garantir presença em um mercado estimado em R$ 2 bilhões ao ano. "As pessoas estão em busca de algo saudável", diz Costa. "Principalmente, quando se trata de opções para o público infantil", diz ele, que prepara uma ação de marketing do Tickroc na volta às aulas.

O produto é feito pela filial brasileira da espanhola Boniko, que vai trabalhar com exclusividade para a Wickbold. Além do bom desempenho que o Tickroc vem apresentando (venda de 550 mil unidades mensais, com meta de atingir 1 milhão de unidades em março), a Wickbold pretende oferecer versões reduzidas do produto para empresas hoteleiras e de "catering". "Estudamos também lançar porções individuais de pães e torradas para aumentar a nossa presença em 'food service'", diz Costa.

Ronaldo, Telma e Costa dividem o comando da Wickbold, que não tem um presidente. A governança da companhia passou por mudanças nos últimos três anos. Além da vinda de Costa, foi criado um conselho consultivo, com três membros de fora da família. Também foi formado um conselho de família, um primeiro passo para a criar um "family office", que vai cuidar dos investimentos dos Wickbold.


Produto vencido vira ração para porcos



Cem por cento da produção da Wickbold é vendida em consignação com os supermercados. É a fabricante que se responsabiliza pela entrega e retirada dos produtos, respeitando o prazo de validade, em torno de 10 dias. São 11 mil pontos de venda nas regiões Sul e Sudeste do país, visitados diariamente por uma frota terceirizada de 450 caminhões. Os caminhões levam novos produtos e buscam os que estejam a dois dias da validade. "É um cálculo difícil: temos que definir quantos pães vamos deixar na prateleira porque se trata de um item perecível, não se pode fazer estoque", diz Costa.

A recolha de itens próximos do vencimento equivale a cerca de 5% da produção da Wickbold. Esse material é retirado da embalagem e vendido, "a um valor simbólico", diz Costa, para a Thora Eco Ambiental, dona de fazendas licenciadas para o serviço de descaracterização e uso de resíduos. Moídos, os pães são agregados a grãos como milho e sorgo, para se transformar em alimento para os porcos. Ao todo, 80 mil toneladas ao ano de pão integral se tornam ração.

Se não se transformasse em alimento para suínos, os pães vencidos seriam destinados a aterros sanitários. A venda do descarte para a Thora foi uma saída inovadora encontrada pela empresa, fundada em 1938 por Henrique Wickbold, um imigrante alemão que comprou a padaria de uma família que decidiu voltar para a Alemanha no auge do nazismo. A fabricante trouxe para o mercado inovações em pães integrais - como o de castanha-do-pará e quinoa, a linha de pães integrais mais vendida no país (9,4% de participação em volume).


Veículo: Valor Econômico


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