A família Garla, dona da Marilan, fabricante de biscoitos de Marília (SP), não está disposta a ceder à pressão das multinacionais PepsiCo e Bunge para abaixar o preço da companhia. A família espera arrecadar no mínimo R$ 600 milhões pela empresa que, ao lado da Bauducco, é a quarta maior fabricante de biscoitos do país, depois de M. Dias Branco, Nestlé e Kraft. Segundo apurou o Valor, se não conseguir algo entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, os Garla preferem continuar no negócio. Para isso, vão renegociar as dívidas e terão que levantar capital de giro para continuar tocando os projetos da empresa em 2012 e 2013.
Em novembro, a M. Dias Branco fez sua oferta, de R$ 495 milhões, prontamente descartada pelos Garla. Além dela, participaram de processos de auditoria na Marilan no fim de 2011 a Campbell, a PepsiCo e a Bunge. Apenas a PepsiCo tinha renovado o interesse em ficar com a companhia, solicitando mais dados contábeis para enviar à matriz nos Estados Unidos.
Mas em janeiro a Bunge voltou ao processo e pediu novas informações à Marilan, apurou o Valor. Ambas as candidatas, porém, já indicaram que estão dispostas a pagar menos do que a família deseja. As propostas oficiais ainda são aguardadas. Na semana passada, José Rubis Garla, presidente da Marilan, esteve em São Paulo reunido com o banco BTG e o escritório de advocacia Machado Meyer Sendacz Opice, que assessoram a empresa na operação de venda.
Para tornar viável a sua permanência no negócio, os Garla negociam com bancos o alongamento da dívida da Marilan, que está entre R$ 80 milhões e R$ 90 milhões. Além disso, tentam levantar capital de giro de R$ 50 milhões para colocar em prática os planos orçamentários de 2012 e 2013.
José Rubis Garla está acumulando a diretoria comercial, antes ocupada por Fábio Sesti, que foi desligado da empresa em janeiro. Com 2,2 mil funcionários, a Marilan vem operando em três turnos e, segundo apurou o Valor, teve uma geração de caixa de R$ 1 milhão em janeiro.
A negociação da venda da Marilan ocorre em um momento delicado para o setor. Segundo dados divulgados ontem pela Associação Nacional das Indústrias de Biscoitos (Anib), a categoria encerrou 2011 perto da estagnação. O crescimento de 6% nas vendas do varejo, para R$ 6,8 bilhões, mal compensou a inflação do ano, que foi de 6,5%, de acordo com o IPCA. No ano, o volume vendido recuou 2%, para 1,22 milhão de toneladas.
"Em 2011, conseguimos pelo menos repassar o aumento do custo dos insumos", diz Alexandre Colombo, presidente da Anib. O executivo, que assumiu em dezembro o comando da entidade para um mandato de três anos, afirma que ingredientes como gordura e farinha subiram entre 15% e 20%. "Antes de 2011, a indústria nem tinha condições de repassar isso", diz.
No ano passado, as exportações de biscoitos cresceram 10% e as importações, 30%. "A concorrência com produtos de fora é positiva para a indústria porque força os fabricantes a pensar em inovações", diz Colombo. Este ano, a expectativa é que as vendas cresçam 3% em volume e 6% em valor.
No mercado de biscoitos a demanda tem sido puxada por produtos mais elaborados, como os recheados, com cobertura ou aqueles de apelo saudável. Para atender o gosto e o bolso do público, a indústria investe em porções individuais. "Assim você equilibra o desembolso do consumidor, que compra um produto de maior valor agregado, mas em porção menor", diz Luiz Eugênio Lopes Pontes, diretor comercial da M. Dias Branco e vice-presidente da Anib para as regiões Norte e Nordeste.
No momento, a tendência predominante no mercado de biscoitos é a consolidação - o setor é formado por cerca de 600 fabricantes. Em novembro, a Mabel, líder no Centro-Oeste, foi comprada pela PepsiCo. Em dezembro, foi a vez da M. Dias Branco adquirir a cearense Pelágio. E as atenções para futuras aquisições voltam-se para o Sudeste do país, que responde pelo maior consumo de biscoitos do país.
Nesse sentido, empresas fortes e regionais como a Piraquê, líder no mercado fluminense, são alvo. Colombo, diretor comercial da empresa e herdeiro da Piraquê, é taxativo, quando perguntado sobre possíveis negociações: "Não vamos vender". Em dezembro faleceu o fundador Celso Colombo, avô de Alexandre. Desde então, a presidência está sendo compartilhada por três dos quatro filhos de Celso.
Veículo: Valor Econômico