Venda de queijo cresceu 16% apenas em 2011; outros derivados, como iogurtes, avançaram 53% no ano passado
Aumento de renda e mudanças de hábito estão entre as explicações para expansão do setor
O brasileiro está consumindo mais produtos lácteos, reflexo do aumento da renda dos últimos anos.
Levantamento da Leite Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Leite), feito a pedido da Folha, mostra um aumento de 23% no consumo per capita de lácteos nos últimos sete anos.
O crescimento é puxado por derivados como queijos e requeijão. Desde 2005, o consumo per capita desses produtos aumentou 52%. Somente no ano passado, o avanço foi de 16%.
A demanda por outros derivados, como iogurtes, bebidas lácteas e leite condensado, mais que duplicou em sete anos. Em 2011, subiu 53%.
Tradicional consumidor de leite fluido, o brasileiro ensaia mudança nos hábitos alimentares, dizem analistas.
"Com a renda mais alta, está comprando produtos de maior valor agregado e sofisticando o seu paladar", diz Adalberto Viviani, da Concept Consultoria, especializada no setor de alimentos.
O maior interesse por produtos diferenciados explica, em parte, o aumento das importações. Em 2011, o Brasil importou o equivalente a US$ 205 milhões (R$ 354 milhões) somente em queijos, um aumento de 58% ante 2010, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
"O Brasil ainda está muito aquém das suas necessidades para atender o seu consumo", afirma Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil.
A sofisticação do hábito alimentar não é a única explicação para a expansão do consumo -tampouco para o aumento das importações, pois o setor produtivo reclama de concorrência desleal, devido aos subsídios concedidos em outros países.
Segundo Viviani, o consumidor está mais preocupado com a saúde, o que explica o aumento de 10% no volume de vendas de iogurtes no ano passado, puxado pelos alimentos funcionais.
INSUFICIENTE
Apesar do avanço recente, o consumo de lácteos no Brasil -de 166 litros de leite equivalente por pessoa em 2011, segundo a Leite Brasil- ainda está abaixo do nível mínimo indicado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) -de 200 litros por ano.
O alto índice de informalidade no setor, em torno de 30%, segundo Rubez, tem influência negativa sobre os dados per capita, apesar da queda no consumo de leite informal nos últimos anos.
Mas, mesmo juntando as vendas formais e informais, o consumo nacional não é alto. Enquanto o brasileiro ingeriu 166 litros em 2011, o consumo nos países desenvolvidos foi de 235 litros.
Alto potencial gera expectativa de fusões
Com elevado potencial de crescimento no consumo, os lácteos despertam o apetite de grandes grupos em leite e derivados e criam uma expectativa de que o setor, hoje pulverizado, passe por uma onda de fusões e aquisições.
Fábio Medeiros, vice-presidente de lácteos da BRF-Brasil Foods, dona da Batavo, diz que queijos e iogurtes têm maior potencial e que a empresa está atenta a oportunidades para ampliar sua produção, via aquisições ou construção de novas fábricas.
A JBS, que adquiriu a Vigor em 2009 no negócio com o Bertin, anunciou anteontem que vai torná-la independente e abrir o seu capital na Bolsa.
A empresa não será capitalizada imediatamente, pois a operação será fechada a acionistas da JBS, numa troca de ações. Isso facilita futuras captações no e comprova a disposição do grupo em atuar de modo forte em lácteos.
"Temos a meta de atingir uma receita de R$ 5 bilhões nos próximos anos", diz Gilberto Xandó, presidente da Vigor.
Em 2011, o faturamento ficou em R$ 1,2 bilhão.
Veículo: Folha de S.Paulo