Cacau avança no Pará, que tenta duplicar produção em sete anos

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Com clima e solo favoráveis e custos de produção competitivos, a produção de cacau no Pará teve em 2011 mais um ano de boa colheita. As estatísticas oficiais ainda são deficientes, mas a estimativa é que o Estado, segundo maior produtor brasileiro da amêndoa, tenha produzido no ano passado 7% a mais do que em 2010 e que em 2012 avance mais 10%.

Os planos do Pará de ajudar o Brasil chegar à autossuficiência da matéria-prima são ousados, apesar de as metas serem de longo prazo. Para isso, o Estado precisará elevar em mais de 70% sua atual produção de cacau.

A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), com base em levantamentos de escritórios locais em conjunto com o cálculo das deduções de impostos sobre a movimentação do produto para o Fundo de Apoio à Cacauicultura, considera que a safra de 2011 foi recorde e atingiu 70 mil toneladas, ante 65 mil em 2010. Mas os dados de 2010 e de 2011 ainda não foram consolidados. Para 2012, os produtores esperam produção 10% maior, segundo Raymundo Mello Junior, superintendente da Ceplac do Pará.

Os incentivos mais "pesados" à cultura nem bem começaram e a produção no Pará cresceu exponencialmente de 2000 a 2011, de acordo com a Ceplac. Esse crescimento é explicado pelo aumento da demanda e pela alta dos preços da amêndoa no mercado internacional, além do clima favorável.
 

Entretanto, o volume da colheita paraense ainda é alvo de divergências. Os números do Estado são bem maiores que as estimativas de consultorias e indústrias que computam o recebimento da matéria-prima. Uma explicação poderia ser a "fuga" de parte do produto para indústrias artesanais, mas a diferença é expressiva.

A TH Consultoria e Estudos de Mercado aponta que foram produzidas 40,4 mil toneladas na "safra internacional" 2010/2011 que terminou no segundo semestre de 2011, contra 28,2 mil toneladas em 2009/10. A produção só perdeu para o período 2008/09, quando totalizou 41,6 mil toneladas.

O secretário-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Processadoras de Cacau, Walter Tegani, diz que a produção do Estado precisaria saltar 30 mil toneladas e atingir 75 mil toneladas por ano para que a indústria não precisasse importar o produto. Os números não levam em conta o aumento da demanda e consideram uma moagem anual de 230 mil toneladas. A produção nacional em 2011 foi de 200 mil toneladas, de acordo com a Aipc, sendo que a Bahia representou cerca de 75% desse total. Em 2011, a produção baiana foi de 150,19 mil toneladas, de acordo com a TH Consultoria.

O fato é que, atualmente, não há produção suficiente no Pará sequer para atender a uma indústria de médio porte. Em outubro de 2011 foi lançado o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura, do governo paraense em parceria com a Ceplac. A meta é dobrar a área cultivada dos atuais 110 mil hectares até 2019. A produção pode saltar de 70 mil toneladas para 250 mil toneladas, diz Hildegardo Nunes, secretário de agricultura do Estado.

Somente para 2012, a intenção é disponibilizar mais 20 milhões de sementes, sendo que 10 milhões seriam clones com resistência à vassoura-de-bruxa - praga que quase dizimou a produção na Bahia no passado - e com produtividade superior. "Se nós conseguirmos agregar 200 mil toneladas, teremos condições de suprir a demanda nacional", afirma Nunes.

De acordo com ele, são necessários cerca de R$ 600 milhões para fomentar a atividade em sete anos, mas os programas de apoio ao crédito têm recursos para financiar os produtores.

No Pará predomina a agricultura familiar, com plantio em áreas de 8 a 10 hectares. O cacau pode ser cultivado em consórcio com plantas madeireiras e frutíferas. Cada família consegue obter de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês e produz de 8 mil a 10 mil quilos da amêndoa por hectare. Os custos com os insumos praticamente não existem, pois a incidência da vassoura-de-bruxa é menor na região e o controle é feito com poda.

Raymundo Mello Junior, superintendente da Ceplac do Pará, diz que a produtividade no Estado é considerada a maior do mundo, em torno de 800 quilos de amêndoa seca por hectare, enquanto na Bahia é de 300 quilos por hectare.

O custo de produção também é menor se comparado à safra baiana. Em média, chega a US$ 800 por tonelada, enquanto na Bahia gira em torno de US$ 2.000. Mas o valor pago ao produtor geralmente é de R$ 2 a R$ 4 menor que o recebido pelo produtor baiano, em consequência do custo do frete.

A Ceplac calcula que há várias áreas no Estado aptas a receber o cultivo de cacau. São mais de 1 milhão de hectares disponíveis só na região da Transamazônica, no sudoeste do Pará, responsável por 60% da produção estadual.



Veículo: Valor Econômico


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