Crise não muda hábito de consumo de café

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O diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC), Néstor Osório, acredita que a tradição do café no consumo diário e o baixo custo por xícara servida devem "isolar" a commodity da atual crise mundial e sustentar seu crescimento nos próximos anos. A OIC prevê ainda que os preços do produto devem subir no médio prazo com o aumento do consumo e a menor produção do Brasil por causa da bienalidade (alternância anual de alta e baixa produção).

 

O País é o maior exportador mundial do grão tipo arábica e possui grande relevância na composição dos estoques e formação de preços no exterior. Segundo dados da instituição, o Brasil vai embarcar 28 milhões de sacas (60 quilos) em 2008 e o consumo interno deve ficar em 18 milhões de sacas.

 

Osório afirma que o produto possui um perfil de consumo diferente dos bens duráveis, diretamente impactados com a restrição do crédito no mundo. "As famílias na maior parte do planeta já se habituaram ao consumo diário e o café não possui grande impacto no orçamento doméstico", disse. Para ele, o que pode ocorrer é uma correção para baixo nos preços dos produtos especiais em virtude da desaceleração da economia mundial, mas sem impacto na procura "É possível que as lojas especializadas em blends especiais mudem a estratégia com relação ao preço. Mas isso deve ocorrer com maior intensidade em países europeus", avalia.

 

Para Osório, a retração dos preços no mercado de especiais não deve anular a estratégia da indústria em aumentar a receita das vendas por meio do maior valor agregado. "Hoje é sabido que a produção com qualidade sustenta as vendas e isso não será abalado. A qualidade manterá o consumo firme. Quem não melhorar sofrerá para encontrar mercado". Segundo informou, agregar valor é, basicamente, melhorar a condição das plantas e do solo.

 

O diretor da OIC acredita ainda que o menor volume de recursos pode reduzir a produção. "O produtor descapitalizado perde o potencial de giro na compra de insumos e, conseqüentemente, isso interfere na produtividade das lavouras. Mas ainda é cedo para mensurar a proporção disso. Os próximos três meses serão decisivos para avaliar a liquidez", avalia. "É preciso um esforço do setor para evitar maiores complicações nesse sentido. Se produtores, associações ou cooperativas não receberem os recursos pode haver escassez de matéria-prima para a indústria".

 

Para a OIC, o crescimento do consumo mundial na casa dos 2% ao ano deve elevar a demanda das atuais 130 milhões de sacas para 140 milhões de sacas nos próximos cinco anos. Esse cenário deve provocar a elevação nos preços e um déficit entre 6 e 10 milhões de sacas. "O ideal seria o Brasil produzir 100 milhões de sacas em dois anos para manter a oferta estável. Como a atual safra foi menor que o previsto e a próxima terá produção mais baixa, os preços devem se recuperar".

 

Em outubro, segundo levantamento da Instituição, o café arábica estava cotado a US$ 130 a saca. Osório revela que o comércio entre países produtores será o próximo fenômeno mundial no comércio de café. "Como os grandes produtores não devem conseguir atender à demanda interna, é possível que busquem no vizinho o restante".

 

Osório explica que isso já ocorre com freqüência, mas sem estatísticas que corroborem o movimento. "Acredito que o fluxo entre esses produtores movimente 4 milhões de sacas". Mesmo com a crise, o executivo afirmou que os preços voltaram ao mesmo patamar de 2007 graças à valorização do dólar. Em 2008, o valor das exportações cresceu 6,2%, saltando para US$ 13,22 bilhões.

 

O representante da cafeicultura internacional disse que para um mercado que movimenta US$ 80 bilhões, essa proporção de 16% recebida pelo produtor com os embarques é baixa. Nos anos 1980, os cafeicultores recebiam 30% de tudo que esse mercado movimentava. "Precisamos incentivar a produção para manter a relação oferta e procura ajustada".

 

Incentivos à produção

 

O diretor-executivo da OIC revela que políticas similares às utilizadas na Colômbia, segundo maior exportador do arábica, para renovação do parque cafeeiro podem auxiliar na melhora da produção. "Tradicionalmente a área do café só cresce quando o preço sobe muito. Por isso, uma boa opção é renovar as lavouras para aumentar a produtividade". Naquele país, cerca de 20% de um total de 600 mil hectares serão beneficiados por um programa do governo para renovação das árvores. A expectativa é elevar a produção de 11 para 15 milhões de sacas até 2014. "Na Colômbia isso funciona muito bem como política de governo para inclusão. Mas não consigo avaliar como seria isso no Brasil".

 

O Vietnã, maior produtor mundial de café robusta, já está consolidado como o segundo maior produtor mundial do grão, na opinião de Osório. "Os problemas com a qualidade estão sendo resolvidos pelos incentivos governamentais. Estive lá e pude perceber que os cafezais estão muito melhores que antes".

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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