O controlador indireto da Hypermarcas, João Alves de Queiroz Filho, comprou, em março passado, 22,2 milhões de ações da empresa. Passou a ser detentor, na pessoa física, de 3,5% do capital da Hypermarcas. Anteriormente ele concentrava sua fatia na Igarapava Participações, que integra o bloco de controle da empresa.
No total, Queiroz Filho desembolsou R$ 286 milhões, conforme formulário divulgado pela empresa e que reporta as movimentações com ações feitas por acionistas, conselheiros e diretores da companhia. O documento informa que as ações adquiridas foram entregues para aluguel.
O Valor apurou que, para fazer as aquisições, distribuídas nos nove últimos pregões de março, Queiroz Filho contraiu empréstimos bancários e ofereceu, como garantia para esses financiamentos, as próprias ações. Por essa razão, os papéis aparecem como alugados. A corretora do Credit Suisse intermediou tanto as operações de compra quanto as de empréstimo das ações.
A Hypermarcas não deu entrevista. Apenas ressaltou que divulgou em seu formulário de referência que o autor das operações foi Queiroz Filho. Ela disse que teve essa "iniciativa de transparência", apesar de não ser obrigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a identificar quem realiza as operações - apenas a dizer se a pessoa está ligada à gestão da companhia.
As ações detidas por Queiroz Filho, por estarem alugadas, são contabilizadas pela empresa como parte de suas ações em circulação no mercado, cujo percentual é de 58,45%. Esse total inclui ainda outra fatia, também de 3,5% das ações da empresa, que são da Igarapava e que também estão emprestadas. A operação feita pelo veículo de controle, entre setembro e dezembro de 2010, seguiu os mesmos moldes da realizada por Queiroz Filho no mês passado, apurou o Valor. Após contrair um empréstimo bancário para fazer as compras, os papéis foram dados em garantia para a operação. A Igarapava, portanto, concentra 20,29% da Hypermarcas, mais os 3,5% que estão alugados.
Na prática, tanto Igarapava quanto Queiroz Filho estão aumentando sua exposição às ações da empresa de bens de consumo. Obviamente, também contribuíram para elevar a quantidade de ações alugadas da companhia. Antes de as compras do controlador começarem, as posições em aberto de empréstimos com Hypermarcas reuniam cerca de 22 milhões de ações. Anteontem, estavam perto de 36 milhões de papéis.
O aluguel de ações pelo controlador não é incomum no mercado. Pode sinalizar a falta de interesse de vender os papéis e contribuir para aumentar a liquidez.
Veículo: Valor Econômico