A melhora no humor do consumidor nos primeiros meses do ano levanta discussões sobre os efeitos desse movimento nos resultados do comércio varejista em 2012. A questão principal está na capacidade de as empresas retomarem o ritmo de crescimento verificado antes de 2011, período de expansão mais forte nos resultados.
Uma possível queda mais abrupta da taxa de juros e a manutenção do nível de emprego podem sustentar uma expansão mais vigorosa. Relatório de análise do banco Credit Suisse, de 19 de março, sustenta que as oportunidades de crescimento a longo prazo para o varejo brasileiro são "enormes", mas que o "ambiente de negócios é desafiador, num cenário em que há maior sofisticação no consumo e intensificação na competição".
Cinco redes de varejo de capital aberto analisadas pelo banco - num total de 12 companhias de consumo - têm avaliação de "outperform" (acima do mercado) ou "neutral" (neutra). Uma nova empresa entrou na análise, a Le Lis Blanc, de moda feminina, e a rede de farmácias Raia Drogasil passou de neutra para acima do mercado.
Para este ano, a equipe do Credit Suisse prevê expansão nas vendas do setor de 8%, em termos reais, em relação ao ano passado. Ao se descontar a inflação (IPCA, de 6,5%), a taxa de expansão atingiu 5% em 2011. A alta prevista pelo Credit em 2012 leva em conta essa base de comparação. "Pelos nossos cálculos, se atingirmos essa taxa de 8%, vamos voltar ao mesmo patamar de crescimento verificado nos anos de 2006 e 2007, que foram períodos muitos bons para o setor", diz Gustavo Wigman, da equipe de análise do Credit Suisse.
Em diferentes níveis, a maioria das varejistas de capital aberto registrou, em seus relatórios de resultados do ano passado, desaceleração nas vendas no segundo semestre, pressão maior nas despesas operacionais e uma necessidade de fazer ajustes finos nas políticas de preço e promoção - para proteger margem operacional sem abrir mão de volume vendido.
Renner, Marisa, Magazine Luiza, Lojas Americanas e Grupo Pão de Açúcar (GPA) identificaram sinais de desaquecimento em diferentes períodos a partir de maio de 2011. Para os próximos meses de 2012, Pão de Açúcar e Magazine Luiza trabalham com uma melhora progressiva na demanda interna e resultados mais fortes no segundo semestre. "Estamos indo bem, atingimos as metas do primeiro trimestre. Não chegamos a superar o previsto, mas já acreditamos, por exemplo, num forte Dia das Mães, com expansão concentrada nas áreas de eletroeletrônicos e têxteis", diz Hugo Betlhem, vice-presidente-executivo do GPA.
Expectativa de redução mais forte da taxa de juros ao consumidor, aumento da renda disponível das famílias (reflexo do aumento do salário mínimo) e ritmo de crescimento menor da inflação sustentam as avaliações positivas de analistas em relatórios setoriais de bancos e corretoras.
Neste momento, porém, a discussão que tem crescido no mercado envolve menos essas questões macroeconômicas - já consideradas nos planos estratégicos - e mais as ações necessárias para que as companhias entreguem resultados operacionais mais fortes em 2012. É algo em linha com o que Enéas Pestana, presidente do Grupo Pão de Açúcar, disse em entrevista ao Valor no fim de 2011: "O que eu quero é expandir, é fazer loja. Estou confiante que vai dar. Se eu não puder fazer loja nova porque o ano não for bom, então vou fazer o que?".
Essa expectativa dos investidores e analistas inclui, por exemplo, melhores desempenhos nas vendas "mesmas lojas" em termos reais (unidades abertas há mais de 12 meses), que tiveram desempenho irregular em 2011, em algumas empresas.
"Estamos ainda mais focados em rentabilidade em 2012 e na entrega de um maior crescimento orgânico", disse ao Valor, Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, que passa por um processo de integração de empresas adquiridas em 2010 e 2011, que afetou o nível de despesas do grupo.
Veículo: Valor Econômico