O aumento de 5,15% do dólar em relação ao real nos últimos 30 dias elevou o preço de insumos alimentícios e da indústria têxtil, de produtos importados e de pacotes de viagens internacionais. Mesmo fechando com queda de 1,56% ontem, cotada a R$ 2,020, a moeda norte-americana teve um comportamento de elevação no último mês, o que, em junho, deve se refletir no bolso do consumidor.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), Alexandre Pereira, afirma que um dos insumos importados atingidos pela valorização do dólar é a farinha de trigo, que teve aumento no preço de 7% a 12%. Ele espera um aumento de 5% no preço do pão ao longo deste mês, depois de quase um ano sem reajustes neste tipo de produto.
Hoje, o quilo do pão custa, em média, R$ 7,10 em São Paulo e R$ 6,80 no Brasil. "Se o dólar se estabilizar no patamar de R$ 2, será difícil segurar. O aumento no preço não será linear, já que cada padaria tem períodos de compras e de estoques diferentes", afirma Pereira.
A Associação Brasileira da Indústria de Massas Alimentícias (Abima) diz, por meio da assessoria de imprensa, que as empresas ainda estão utilizando farinha de trigo de seus estoques e ainda não há uma previsão de impacto nos preços para o consumidor final.
Estratégias – No segmento de produtos importados, a alta também foi sentida por lojas tradicionais no ramo, como a Casa Santa Luzia e Casa Godinho. Os comerciantes revelam, neste momento, diferentes estratégias para lidar com a alta do dólar. O proprietário da Casa Godinho, Miguel Romano – que tem 80% de importados no seu mix de produtos de um total de 3 mil itens –, afirma que principalmente o bacalhau, o vinho e o whisky tiveram um aumento de preço de 10% com a alta do dólar.
"Para contornar isso, estou comprando apenas o necessário e imprescindível, e segurando as compras à espera de uma cotação menor", afirma. Romano diz temer comprar além do necessário para a loja hoje e, depois, ficar sem preço para trabalhar no mercado caso a cotação da moeda norte-americana volte a cair.
Atualmente, o comerciante tem repassado o aumento apenas a itens que foram importados a um preço maior. "Os vinhos, por exemplo, são cotados em dólar e o preço que pago é o do dia. O consumidor tem observado a elevação de itens pontuais, até porque não fizemos reajustes nos produtos da loja inteira. Quando percebem que o dólar cai, compram mais de uma garrafa", diz Romano. A preocupação do comerciante é que alguns importadores já começam a repassar a alta do dólar de forma preventiva, mas ele diz acreditar que a moeda norte-americana ainda voltará ao patamar de R$ 1,90.
Outra empresa que tem feito malabarismos para lidar com a desvalorização do real é a Casa Santa Luzia, que importa 55% de um total de 17 mil produtos. O diretor comercial da loja, Jorge da Conceição Lopes, revela que atualiza os preços só quando a mercadoria chega na loja. "Não modificamos os preços dos itens em estoque, por exemplo. Só faço o reajuste à medida que o item chega na loja e incluo uma margem de lucro", diz Lopes. Segundo ele, o consumidor manteve a confiança nos preços do estabelecimento.
Indústria têxtil – A valorização do dólar tem sido perseguida pela indústria há mais de um ano, para impulsionar as exportações. Mas, no mês passado, quando o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 2, o setor têxtil começou a sentir os efeitos colaterais, como o aumento dos preços de fios sintéticos (poliéster e viscose), cotados em dólar, e comprados da Ásia.
O presidente do Sindicato das Índústrias de Especialidades Têxteis do Estado de São Paulo (Sietex), Paulo Henrique Schoueri, disse que a alta no preço dos fios foi de 6% a 14% nos últimos 60 dias. "O impacto no preço de um produto final foi de 2% a 3%. Isso porque o fio é um dos componentes da indústria têxtil", afirma.
Para o gerente comercial da Adina Importação e Indústria Têxtil, Sacha Dowek, a alta dos fios sintéticos e do elastano (cotado em dólar) causa impacto no preço de praticamente todos os tecidos, com exceção de jeans, sarja e peças de algodão. A Adina é uma tecelagem que está há 45 anos no mercado e 80% de seus tecidos levam insumos importados. "Se por um lado a valorização do dólar aumenta os nossos custos, por outro eleva a competitividade do produto nacional. O preço da roupa importada sobe e isso é bom para a nossa indústria, que já produz tecido e usa a mão de obra local", afirma.
Veículo: Diário do Comércio - SP