A crise financeira mundial, que tomou corpo em outubro, atrapalhou o fechamento de duas aquisições pela Nestlé do Brasil, segundo Ivan Zurita, presidente da empresa. "Alguns sócios (das empresas a serem compradas) ficaram inseguros e quiseram rever algumas partes", disse ele ontem ao Valor, durante encontro de empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
No entanto, a mesma crise que postergou o anúncio das duas aquisições, fez aumentar a necessidade de a companhia fechar os dois negócios ainda este ano. "Nossa meta anual com a matriz é crescer 3% em termos reais ao ano. Com a desvalorização do real, isso ficou mais difícil de atingir", explicou Zurita. De setembro até agora, a desvalorização do real frente ao dólar chega a 29%. Em comparação ao franco suíço (moeda da matriz da Nestlé), as perdas ficam em 23%. "Noventa e dois por cento de nossas vendas vêm do mercado interno. A perda cambial afeta em cheio nossos resultados", disse Zurita. "Diante desse cenário, temos que crescer. E para crescer precisamos concretizar essas duas aquisições. Temos que fechar esses negócios", disse, sem no entanto dar pistas sobre quais seriam as empresas-alvo. Segundo o executivo, a companhia deve revelar esses nomes antes do fim do ano.
No início de setembro, Zurita havia afirmado em uma entrevista coletiva com jornalistas que a empresa estava fechando naquele mês a aquisição de duas companhias. Segundo ele, a Nestlé não pôde anunciar os dois negócios porque logo depois a crise financeira mundial apertou os cintos da economia. "Tivemos que reestudar e negociar novamente muitos pontos que já estavam fechados", afirmou. Zurita também reiterou que os boatos que circularam no mercado anteontem de que a Nestlé estaria comprando a Sadia são "totalmente infundados".
A própria Nestlé, observou ele, também precisou rever estratégias uma vez que a partir de setembro a queda dos preço de commodities e matérias primas acelerou-se. "O problema é que isso não gerou alívio em relação à desvalorização cambial. As perdas com a desvalorização do real já superam a diminuição de preço das commodities", disse.
Na ponta do lápis, segundo Zurita, essa desproporcionalidade gerou aumento de custos para a multinacional suíça no Brasil. "A única coisa que continua igual desde o início do ano é nosso compromisso de não repassar aumentos ao consumidor", afirmou ele. Para tanto, a Nestlé está trabalhando sob um "novo modelo" de gestão. "Fizemos parcerias com nossos fornecedores para conseguir mais fluidez na cadeia produtiva", disse o executivo, sem dar detalhes sobre esse sistema. "Na prática, estamos cortando custos e buscando mais eficiência do que já nos propúnhamos a fazer no primeiro semestre."
Veículo: Valor Econômico