Indústrias de embalagens em forte retração

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Setor de embalagens teve perda de 6% no 1º semestre.


As encomendas do varejo para o Natal, que tradicionalmente começam a ser feitas no início do segundo semestre e que neste ano devem ser postergadas devido ao desaquecimento das vendas, colocam em xeque a recuperação das indústrias de embalagem, que acumularam perdas nos primeiros seis meses do ano. Segundo o Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel e Papelão no Estado de Minas Gerais (Sinpapel-MG), o setor encerrou o período com retração de 6% no faturamento, em comparação ao primeiro semestre do ano passado.

Conforme o presidente da entidade, Antônio Eduardo Baggio, o mau desempenho é um reflexo da crise financeira internacional, que atinge, principalmente, a zona do euro. Para ele, as incertezas na conjuntura econômica, aliadas ao mau desempenho da indústria em geral, impedem a liberação de investimentos, que poderiam ajudar a alavancar o setor.

Baggio estima que o uso da capacidade instalada nos primeiros meses de 2012 tenha ficado em 82%, abaixo portanto dos 90% considerados ideais. Outro dado desanimador é a redução da mão de obra empregada no segmento. Estima-se que, entre o fim de 2011 e o início de 2012, o número de trabalhadores da indústria de papel e papelão tenha caído 20%. Atualmente, essa cadeia emprega 25 mil pessoas no Estado, conforme o Sinpapel-MG.

Embora ainda não tenha muito o que comemorar, Baggio está confiante na recuperação neste semestre. A expectativa é de uma aumento de 15% nos resultados ante o desempenho na primeira metade do ano, apesar do receio do comércio em relação a um Natal menos aquecido neste ano. No confronto com o segundo semestre de 2011, a projeção do setor é de estabilidade do desempenho.

A Cartonagem Líder, que fornece caixas de papelão para diferentes ramos da indústria, é uma das que sofre com as perdas. A produção e o faturamento na primeira metade do ano, frente a igual intervalo de 2011, registraram retração de 20%, acima, portanto, da média do setor. "Trata-se de um processo cíclico. Se o consumo diminui, a indústria também produz menos e, assim, não há o que embalar", lamenta o sócio-diretor, Romano Barbieri Filho.

Recuperação - Apesar de acreditar que a recuperação neste ano possa levar mais tempo do que o normal, Barbieri Filho aposta em aumento de 10% do faturamento no segundo semestre, em relação a igual período de 2011. "Produtos típicos de fim de ano, como os panetones e espumantes, consomem grande quantidade de embalagens", argumenta. No entanto, o desempenho da empresa em julho não sinaliza avanço, mantendo a estabilidade ante junho. "Mas, o resultado já era esperado, por se tratar de um período de férias escolares, mais devagar para os negócios", justifica.

Mas nem todas as empresas fecharam o primeiro semestre com retração. A Del Papéis foi uma das que conseguiu escapar dos efeitos da crise e alcançar a projeção inicial de crescimento na primeira metade do ano: 10%, no confronto com o mesmo período de 2011. O sócio-proprietário Antônio Adonias Borges ressalta que o bom desempenho se deve ao fato de que o seu produto, embalagens para pizza, não sofre concorrência direta com os chineses, maior rival da produção doméstica. "Como a China precisa exportar um alto volume de embalagens para atender a indústria local, o preço do frete não compensa, por se tratar de um produto de baixo valor agregado", esclarece.

Além disso, outra estratégia para manter os negócios aquecidos em um momento cercado por incertezas é a ampliação do mercado consumidor, que passou a abranger mais empresas de todos os demais estados da região Sudeste. "Hoje, estimo que 45% da produção permaneçam em Minas, enquanto o restante atende outras localidades", afirma Borges. Para o segundo semestre, a expectativa é de manter o ritmo de 10% de crescimento frente a 2011.

Quem também apostou na conquista de novos clientes para continuar expandindo as atividades é a Lib Embalagens, produtora de sacolas plásticas e de papel. "O que impediu a desaceleração foi o estabelecimento de novos contratos, uma vez que o valor médio das compras caiu, devido à produção industrial, menos intensa neste ano", diz o diretor, Alexsandro Alves. Ele ressalta que a empresa passou a assumir uma postura de mercado mais "agressiva", diminuindo preços e prazos de entrega.

No primeiro semestre, o crescimento do faturamento foi de 15%, frente a 2011. Apesar de a segunda metade do ano ser normalmente mais lucrativa, Alves não se diz tão otimista, e espera manter "o mesmo patamar de 2011". O resultado de julho indica que o segundo semestre deverá ser desafiador para a Lib. Isso porque, na comparação com junho, o resultado mensal declinou 60%, o que fez do período, segundo ele, "um dos mais fracos dos últimos tempos".

Alves atribui a derrocada a fatores como o endividamento da população e os incentivos governamentais que favorecem o consumo de bens duráveis, como carros, eletrodomésticos e móveis. "Agora, as pessoas estão com o orçamento mais comprometido e, por isso, começam a cortar do orçamento gastos supérfluos, o que naturalmente prejudica o comércio varejista e a indústria de modo geral", avalia.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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