Segunda maior varejista do setor de papelaria e escritório do mundo, a americana Office Depot deu o primeiro passo para entrar no mercado brasileiro. Após um ano de negociações, a empresa fechou um acordo com a brasileira Gimba, que passa a integrar o conjunto de companhias parceiras da Office Depot no mundo. Segundo o contrato de exclusividade entre as partes, ficou determinado que a Gimba poderá atender no Brasil filiais de multinacionais que já são clientes da Office Depot.
Com US$ 11,5 bilhões em vendas em 2011, a americana tem parcerias com cerca de 400 varejistas no mundo. Além do comércio eletrônico, a Office Depot opera em 61 países e soma 1.680 lojas no mundo. A empresa Gimba, que opera no mesmo segmento apenas com vendas pela internet, tem receita prevista de R$ 240 milhões para 2012 e é comandada pela família Zaninotto, dona do grupo Remaza, dos consórcios de mesmo nome.
O acordo vai evoluir para outras parcerias comerciais. A Gimba deverá vender produtos da marca própria Office Depot, provavelmente a partir de 2013, segundo o diretor comercial da Gimba, Amauri Gennari.
Pelo já acertado entre as partes, a cadeia americana recebe a demanda das multinacionais e encaminha o pedido à Gimba, que será responsável pela venda. O valor será faturado pela brasileira, que hoje tem 1,2 mil empresas em sua carteira de clientes. A Office Depot não terá contrapartidas em termos comerciais, como uma parte da margem da operação ou participação nas vendas da rede brasileira, diz o executivo da Gimba. A Office Depot não se manifestou sobre o acordo, mas confirma a parceria.
"A vantagem para eles é que se resolve um problema. Antes, o país não fazia parte da cobertura da rede e eles não podiam atender o cliente estrangeiro com operação no país. Acabavam não tendo um pacote global para todos os mercados", explica Gennari. "Agora, podem incluir o Brasil no conjunto de países onde atuam, ainda que por meio de uma parceria", afirma.
Especialistas acreditam numa expansão na atuação da Office Depot no Brasil, com o início desse acordo. A varejista tem lojas na maioria dos países onde vende pela internet. "É pouco provável que eles [Office Depot] fiquem só nisso e não ganhem nada com esse acordo. Deve ser o primeiro passo de algo maior", diz Eugenio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria. Sobre a possibilidade de uma associação ou venda do controle da Gimba ao grupo americano, a empresa nega a intenção. "O objetivo nunca foi esse. Não é que a gente vá dizer que sempre terá essa posição, mas a ideia é continuar crescendo sozinho", afirma Gennari.
Analistas também acreditam num aumento da concorrência da Office Depot com a sua maior rival, a também americana Staples, maior varejista de material de escritório e papelaria do mundo, com US$ 25 bilhões em vendas em 2011. A Staples tem crescido no Brasil, em parte, invadindo de forma mais agressiva o mercado corporativo - o principal negócio da Gimba hoje, responsável por 65% das vendas da brasileira. "Há um espaço enorme para o crescimento dessas redes no Brasil. Este é um setor altamente pulverizado no país", diz Foganholo.
A Staples entrou no mercado brasileiro em 2005, com a aquisição do site Officenet, que na época vendia menos do que a Gimba hoje, cerca de R$ 140 milhões. Dados do Ibope Inteligência mostram que o varejo de papelaria deve faturar R$ 6,1 bilhões neste ano no país, uma alta de 13% sobre 2011.
O projeto entre a Gimba e a Office Depot começou a ser implementado em junho e, desde então, a Gimba fechou 20 contratos com apoio da americana. "Nossa previsão de crescimento do ano, de expansão de 10%, passou para uma alta de 20% depois do acordo", afirma Gennari. A expectativa é que, com a parceria, a carteira de 1,2 mil clientes da Gimba atinja até 1,4 mil em um ano. A varejista é presidida por Ricardo Simões Zaninotto, irmão de Alexandre Zaninotto, presidente do grupo Remaza. Em 2011, a Gimba cresceu 5%, enquanto a Office Depot encolheu 1,3%, afetada pelo encolhimento dos mercados desenvolvidos.
Veículo: Valor Econômico