O sabor é salgado, mas não é sal

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Para uma vida saudável, livre de hipertensão, o consumidor deve ingerir, no máximo, cinco gramas de sódio por dia. O brasileiro consome 12 gramas diárias, a maior parte delas embutida em produtos industrializados. Para adaptar esse consumo aos patamares ideais, como quer o Ministério da Saúde (ver matéria abaixo), a fabricante de ingredientes Duas Rodas Industrial, de Santa Catarina, acaba de investir R$ 5 milhões para lançar o NA Less, produto que substitui até 80% do sódio em uma fórmula alimentícia. A maioria dos concorrentes disponíveis hoje no mercado brasileiro substitui entre 20% e 30% do sal nos produtos, apurou o Valor.

"O NA Less confere a sensação de salgado e pode ser utilizado em sopas, caldos, biscoitos, salgadinhos, pães, temperos, embutidos, entre outros produtos", diz Antônio Carlos Figueiredo, diretor de tecnologia da Duas Rodas. Segundo ele, a empresa já estava estudando o produto, cuja fórmula é mantida em segredo, há quatro anos. Uma versão final do NA Less foi mostrada há 60 dias ao setor de alimentos e já começou a ser usada. Por uma questão contratual, a Duas Rodas, sediada em Jaraguá do Sul (SC), não divulga quais são essas fabricantes. Mas, entre os seus principais clientes estão multinacionais como Nestlé, Danone, Unilever, PepsiCo e Coca-Cola.

"Em temperos de macarrão instantâneo, 'snacks' e molhos, a substituição do sal pode chegar a 80%", diz Joseane Leone, diretora de marketing da Duas Rodas. "Tudo depende da fórmula: se o custo dela comporta a substituição e também se o seu sabor não fica diferente",diz. Segundo ela, a troca é mais bem sucedida em produtos de sabor mais intenso.

Se dependesse só da indústria alimentícia, dificilmente o sal seria substituído. "O sal é o segundo produto mais barato para a indústria, só perde para a água", diz Figueiredo. Ou seja, com um item como o NA Less, os fabricantes de alimentos terão que aumentar os gastos de produção. "Mas a ideia é que, por se tratar de produtos com alta demanda, esse custo seja diluído e o preço dos produtos continue competitivo", diz Figueiredo.

Diferentemente do sal, o açúcar é a matéria-prima mais cara de alguns produtos, como o refrigerante, respondendo por 26% do custo do produto. Este ano, a suíça Firminich lançou o Sweetgem, que funciona como realçador do sabor do açúcar promete reduzir em até 30% a quantidade da matéria-prima consumida pela indústria de refrigerantes.

De acordo com Joseane, 5% do faturamento da Duas Rodas, que foi de R$ 400 milhões em 2011, é voltado para pesquisa e desenvolvimento de produto. "Cerca de 200 novos itens são lançados todos os anos, e respondem por 6% a 10% das vendas anuais", diz ela. Hoje, o portfólio tem 2,5 mil itens. Os principais são aromas (usados para bolos, biscoitos, refrigerantes, sucos, snacks etc) e ingredientes para sorvetes. Entre os seus maiores concorrentes, estão a suíça Givaudan e a americana IFF.

Além da fábrica em Jaraguá do Sul (SC), a Duas Rodas tem duas unidades fabris no Brasil, em Manaus e Estância (SE), e três no exterior (Argentina, Chile e Colômbia). "No exterior, estamos em 25 países, que respondem por 11% das nossas vendas", diz Joseane. Este ano, a empresa espera faturar entre R$ 450 milhões e R$ 480 milhões.

A Duas Rodas foi fundada em 1925 por um casal de imigrantes alemães - Rudolf e Hildegard Hufenüssler. Ele era químico e, ela, física. O nome da empresa teve origem na cidade dos fundadores, Mainz, em cujo brasão estão estampadas duas rodas. A companhia se apresenta como a primeira fábrica de óleos essenciais do país.


Indústria se compromete a retirar sódio dos alimentos

   
O Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) assinaram ontem um acordo que estabelece metas nacionais de redução de sódio em temperos, caldos, cereais matinais e margarinas vegetais até 2015. A estimativa é retirar do mercado brasileiro de alimentos processados 8,8 mil toneladas de sal até 2020.

Essa é a terceira etapa de um conjunto de acordos firmados desde 2011 que já estabeleceram a redução de sódio em diversos alimentos: macarrões instantâneos, pães de tipo bisnaga, de forma e francês, mistura para bolos, salgadinhos, batata frita e palha, biscoitos e maionese. Somadas todas as etapas, a previsão é que mais de 20 mil toneladas de sódio estejam fora das prateleiras nos próximos oito anos.

Segundo o Ministério da Saúde, boa parte do consumo de sódio no país está associado ao uso de temperos prontos em residências e restaurantes. O ministro Alexandre Padilha lembrou que o acordo assinado com a Abia está inserido no Plano Nacional de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis. "Você conquista a adesão voluntária da indústria a partir de um modelo de monitoramento e garante para o cidadão a opção de ter produtos mais saudáveis", explicou.

Segundo Padilha, a própria OMS tem até outubro para estabelecer ações de enfrentamento a doenças crônicas como a hipertensão, que é provocada, entre outros fatores, pelo excesso de sódio na alimentação. "Esse modelo [brasileiro] pode, inclusive, ser o modelo recomendado pela OMS", disse. "É um modelo de adesão voluntária da indústria e que pode surtir efeito mais imediato", completou.

Para o presidente da Abia, Edmundo Klotz, os acordos assinados já apresentam resultados significativos. Os números, entretanto, só devem começar a ser quantificados a partir de 2013, já que a indústria tem dois anos para se adequar às novas metas. "Estamos falando de grande quantidade de empresas. Não pode haver discordância", ressaltou. "Com paciência, temos conseguido".

A lista completa das metas de redução para cada grupo de alimentos pode ser acessada no Portal da Saúde (www.saude.gov.br). Com relação à margarina vegetal, por exemplo, o acordo prevê redução de 19% ao ano na quantidade de sódio, até 2015. Já o sal presente nos cereais matinais deve ser reduzido 7,5% ao ano até 2013 e em 15% ao ano até 2015.



Veículo: Valor Econômico


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