A procura das médias e grandes empresas brasileiras por veículos que façam o transporte de seus produtos e colaboradores deve crescer cerca de 60% nos próximos três anos. A título de comparação, na Europa a expansão projetada de tal demanda para o mesmo período é de 7% apenas. As companhias que no Brasil atuam com terceirização de frotas podem comemorar, portanto, mas precisam também vencer o patrimonialismo do empresariado local, o qual geralmente quer ser dono dos carros e caminhões que seu negócio usa.
"O meio adotado para a locação de carros é o leasing, muito comum na Europa, onde corresponde a 39% das operações. Já no Brasil, 56% das companhias compram os veículos de suas frotas", conta Cleber Kouyomdjian, diretor-comercial da Arval, uma das grandes players do setor no País. Esta diferença, explica ele, acontece porque o empreendedor nacional pensa no veículo como um bem, um ativo da companhia - quando de fato deveria avaliá-lo enquanto despesa. "Afinal, com o passar dos anos a desvalorização do veículo aumenta e quem arca com o prejuízo é a empresa", argumenta ele. A paixão do brasileiro por carros é um complicador adicional neste estado de coisas. "Mas, ao terceirizar sua frota, o cliente tem uma economia que pode chegar a 30% de seus custos", garante Kouyomdjian.
Fármacos e laboratórios
Para dar uma ideia, um automóvel comprado para frota, em 36 meses, terá custado em média R$ 2,3 mil por mês a uma companhia. Se o veículo for locado o total cai para R$ 2,1 mil por mês na maioria dos casos. A Arval calcula ser capaz de fazer tal custo girar em torno de R$ 1,9 mil a cada 30 dias.
Existe uma frota locada no Brasil, hoje, de aproximadamente 232 mil veículos, o que corresponde a cerca de 5,4% do mercado potencial de terceirização de frotas no País. A maior pesquisa mundial a respeito, a Corporate Vehicle Observatory - na qual são analisados globalmente o mercado de frotas de empresas em mais de 15 países - acaba de divulgar seus resultados para 2012, os quais dão o Brasil como uma das nações mais promissoras para esta atividade. "A região do País mais forte para a terceirização de frotas é São Paulo, seguida por Rio de Janeiro e Curitiba. O restante está pulverizado em Minas Gerais e na Região Nordeste. Os setores que mais usam veículos terceirizados são os de fármacos e laboratórios", relata o executivo da Arval. "Também temos o segmento de frota executiva [transporte de funcionários]. Nele, o perfil das empresas clientes é difuso, com algum destaque para bancos e agências de publicidade."
Investimentos
A Arval é uma empresa francesa do Grupo BNP Paribas que está presente no Brasil desde 2006. Os números globais da companhia, apurados em junho de 2012, dão conta que ela possui 689.000 veículos terceirizados em 38 países (entre filiais e parceiros), 210.000 veículos comprados em dezembro de 2011 e 191.900 veículos vendidos, fruto do trabalho de todas as filiais.
A Arval tem no Brasil uma carteira de clientes que deve encerrar 2012 com 250 companhias. A maior parte é de empresas do setor de alimentos, fármacos, energia e petróleo e gás. Laboratório Servier, Accenture, AES Eletropaulo, Shell, Sky e Grupo Edson Queiroz.
Total Fleet, Locamerica e Unidas são algumas das competidoras locais da empresa. A Arval almeja, via investimentos, atingir a liderança do mercado local nos próximos anos.
"Os aportes da organização no Brasil de 2006 a 2011 giraram em torno de R$ 580 milhões. Nossa previsão para 2012 é investir R$ 216 milhões em ações de inovação e tecnologia. Até 2014, a Arval pretende injetar no setor nacional mais de R$ 850 milhões e chegar à marca de 18 mil veículos", informa Kouyomdjian.
Ruas e estradas ruins
Um dos grandes desafios das companhias nacionais do setor é a questão das más condições de ruas e estradas no País, a qual onera a manutenção dos veículos que compõem as frotas. "Temos mais de 200 mil quilômetros de rodovias, sendo 56% em mau estado de conservação. Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a qual avaliou 92,7 mil quilômetros de estradas do Brasil, considerou que o estado geral das vias é preocupante", conta Kouyomdjian. O levantamento a que ele se refere apontou que apenas 12,6% de nossas estradas estão em ótimas condições de uso, 30% estão em boas condições - e 30,5% se encontram regulares, 18,8% ruins e 8,8% em péssimo estado.
Há duas semanas o governo federal lançou um pacote para concessão de rodovias e ferrovias à iniciativa privada, no valor de R$ 133 bilhões. O mesmo é parte do programa para melhorar a infraestrutura logística do País. Ainda são aguardadas parcerias com a iniciativa privada que objetivam injetar recursos nas áreas de energia, aeroportos e hidrovias. Anteontem a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que a intenção do governo é "fazer com que os gargalos [logísticos] sejuam uma coisa do passado".
"Depois de anunciar concessões de rodovias e ferrovias o governo pretende trabalhar com a iniciativa privada em portos e aeroportos", adiantou a ministra, em evento ocorrido em Brasília.
Veículo: DCI