O Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) anunciaram ontem a terceira etapa do programa para redução de sódio em produtos processados no País. O compromisso prevê a diminuição do uso de sal nas formulações de caldos, temperos, margarinas e cereais matinais.
As modificações começam a ser postas em prática para esse grupo a partir de 2013 e a expectativa é a de que, até 2020, pelo menos 8,8 mil toneladas de sódio deixem de ser consumidas. Nas duas etapas anteriores foram definidas metas de redução de sódio em produtos como massas instantâneas, pães de forma, batatas fritas e biscoitos.
A medida é considerada essencial para prevenir doenças cardíacas e renais, problemas associados ao consumo excessivo do sal de cozinha - que tem entre seus componentes, o sódio, o causador da pressão alta.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo máximo de sal não ultrapasse 5 gramas diárias - uma colher de chá. A dieta do brasileiro, no entanto, tem 12 gramas.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, diz que a medida anunciada ontem vai ajudar a tornar mais saudável a comida ingerida por pessoas que trabalham fora. Temperos prontos e caldos são usados com frequência em restaurantes em geral.
Com o novo anúncio, sobem para 13 as classes de alimentos cujos índices de sal deverão ser reduzidos nos próximos anos. O acordo geral foi firmado entre Ministério da Saúde e Abia em abril do ano passado e prevê a redução de até 20 mil toneladas de sódio até 2020. O convênio, no entanto, está com sua implementação atrasada.
Pelo cronograma inicial, em dezembro de 2011, o ministério e associação já deveriam ter fixado os limites de redução dos 16 tipos de alimentos considerados prioritários. Quatro foram anunciados ontem.
Para os três produtos restantes dessa lista - laticínios, embutidos e alimentos prontos - não há nem mesmo data para a definição dos novos valores de redução. O Ministério da Saúde afirma que o atraso é provocado por problemas encontrados pela indústria para implementação de novas tecnologias.
Metas baixas. Embora bem-vindas, as metas são consideradas tímidas. "Claro que, com o acordo, os teores de sal vão se reduzir. Mesmo assim, eles ainda estão bem acima do que seria considerado ideal", afirma a professora de Nutrição da Universidade Federal de São Paulo Anita Sachs. Ela cita como exemplo os cereais matinais. A meta fixada para 2015 é de 418 miligramas de sódio a cada 100 gramas do produto. "O ideal seria que fossem 150 gramas, para a mesma quantidade", diz Anita.
O mesmo ocorre com os valores da margarina. O acordo prevê que, até 2015, cada porção de 100 gramas do produto contenha, no máximo, 750 miligramas de sódio. Para Anita, o ideal seriam 150 gramas. "Não deve ser fácil fazer as adaptações para o produto manter as características - principalmente o sabor", pondera. "Mas se o processo vai ser feito, o ideal seria que ele já alcançasse níveis mais baixos de sal", acrescenta.
Os produtos industrializados brasileiros, quando comparados com os de outros países, apresentam teores de sal bem mais elevados. É o caso do macarrão: cada porção de 100 gramas do produto apresentava entre 2 mil e 4 mil miligramas de sódio. No Canadá, a média de sódio para a mesma quantidade do produto é de 926 miligramas.
Isoladamente, o sódio não tem sabor, o que confunde o consumidor. Em 2010, uma pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia com 1.294 hipertensos mostrou que 93% deles não sabiam fazer a relação entre o sal e o sódio descrito nas embalagens de alimentos. O sódio não está apenas em alimentos salgados, mas também em conservantes (nitrito de sódio e nitrato de sódio), adoçantes (ciclamato de sódio e sacarina sódica), fermentos (bicarbonato de sódio) e realçadores de sabor (glutamato monossódico).
Veículo: O Estado de S.Paulo