Cultura de orgânicos é pouco difundida em Minas

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Desde o ano passado o governo mineiro planeja a criação de uma lei para organizar a produção no Estado.


A demanda crescente por alimentos orgânicos e os preços mais lucrativos têm incentivado alguns agricultores mineiros a adotar a técnica. Apesar disso, mesmo com o mercado demandador, o ritmo de crescimento em Minas Gerais é bem aquém do potencial. A falta de política específica para o setor e a burocracia no processo de certificação vêm desestimulando o ingresso de novos agricultores.

O principal gargalo apontado pelos representantes do segmento, a falta de uma política para a agroecologia e produção orgânica no Estado, deverá ser resolvido ao longo do próximo ano. De acordo com o coordenador de Apoio à Agroecologia da Subsecretaria de Agricultura Familiar da Secretaria de Estado da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Seapa), Eugênio Martins de Sá Resende, desde o ano passado o governo estadual vem planejando a criação de uma lei estadual para organizar a produção orgânica.

"Em 2011, foi criado em Minas Gerais um grupo temático para auxiliar na criação de políticas estaduais para o setor. Pretendemos, com o lançamento do decreto de criação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), desenvolver o projeto regional, respeitando as peculiaridades de Minas. O objetivo é lançar o projeto em 2013", observa.

Com a criação de uma política específica para o segmento, a expectativa é alavancar a produção de orgânicos e produtos sem agrotóxicos no Estado. Em Minas Gerais os principais itens cultivados no sistema são o tomate, morango, beterraba, cenoura, jiló, abobrinha e verduras diversas como alface, cebolinha e salsa.


Potencial - De acordo com os dados do Mapa, até maio deste ano existiam no país cerca de 1,553 milhão de hectares destinado ao cultivo de produtos orgânicos. Em Minas Gerais são 363 mil hectares ocupados pelas culturas. Enquanto no país existem em torno de 11,5 mil unidades certificadas, no Estado são apenas 250 áreas classificadas como de produção orgânica.

"O que percebemos é que o Estado tem grande potencial para desenvolver a produção orgânica, porém o volume produtivo é bem menor e depende de incentivos para ser ampliada", disse Martins.

Outro desafio para o incremento da produção mineira de orgânicos é o processo de certificação. A grande maioria das empresas certificadoras é da rede privada, demandando alto investimento por parte dos agricultores, que são em maior volume da agricultura familiar. Além disso, o processo é classificado como burocrático.

De acordo com os dados do Mapa, das 250 áreas certificadas em Minas Gerais, apenas em 19 a certificação foi concedida pelo Mapa, através da Organização de Controle Social (OCS). As demais foram certificadas pelo Instituto Biodinâmico (IBD Certificações).


Experiência pioneira para o cultivo de tomate em Arcos



Um dos principais projetos em desenvolvimento no Estado para migrar a produção convencional para a orgânica é o do tomate, em Arcos, na região Centro-Oeste. De acordo com dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Unidade Arcos, o programa de implantação foi definido após um minucioso estudo técnico feito na cultura.

O que chamou a atenção dos pesquisadores foi a alta escala de utilização de produtos químicos como agrotóxicos e adubos no plantio do tomate. O objetivo é incentivar a migração para o sistema orgânico, eliminando, assim, o uso de agrotóxicos químicos. Com isso a qualidade e preços do fruto devem melhorar substancialmente.

Segundo o engenheiro agrônomo e extensionista da Emater-MG Zenaido Lima da Fonseca, os trabalhos atuais estão focados no desenvolvimento de técnicas para a produção orgânica, como a produção de mudas, adubo e defensivos verdes. Além do tomate também são cultivadas hortaliças e legumes.

"Estamos no início do projeto e criando unidades demonstrativas. Após a conclusão dos trabalhos vamos utilizar as áreas para a capacitação e divulgação da agricultura orgânica. Acreditamos que os resultados serão positivos, além de contribuir para a saúde e meio ambiente também irá gerar maior renda para os agricultores", diz Fonseca.

Atualmente os produtos cultivados com auxílio técnico da Emater-MG são comercializados com a identificação de "sem agrotóxicos". A expectativa é investir na certificação de produto orgânico já em 2013. Uma das principais vantagens obtidas com o cultivo livre de produtos químicos são os preços mais valorizados no mercado. Enquanto o tomate convencional é vendido em média a R$ 3, o sem agrotóxico pode ser comercializado a R$ 6 o quilo.


Convencional - Segundo a Emater-MG, Arcos tem cerca de 150 tomaticultores. Por ano, o município chega a produzir 3,2 mil toneladas do fruto. A cultura é praticamente toda desenvolvida no método convencional, em que há aplicação de agrotóxicos.

Outros municípios que são destaques na produção de orgânicos são Capim Branco e Matozinhos, ambos na região Central do Estado. Na região são produzidas diversas variedades de legumes, verduras e frutas, como o morango. O principal mercado atendido é Belo Horizonte, onde os produtos comercializados chegam a ter preços até 60% maiores que os convencionais.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Orgânicos do Estado de Minas Gerais (Asproem) e da Associação dos Produtores de Orgânicos de Capim Branco e Matozinhos (Asprocam), Carlos Eduardo Boaz Martins, investir em orgânicos é vantajoso, porém existem gargalos como a falta de mão de obra e de políticas que impedem o maior desenvolvimento do setor.

"A rentabilidade obtida com a produção de orgânicos é vantajosa, porém é necessário que o governo invista em meios para estimular a ampliação da mão de obra, gargalo que vem freando o desenvolvimento do sistema na região. Uma das possíveis soluções seria o incentivo das prefeituras em capacitar os estudantes", ressalta Martins.

Na região de Capim Branco e Matozinhos existem cerca de 20 produtores de orgânicos, desse total apenas seis são associados. A produção é certificada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através da Organização de Controle Social (OCS). Segundo Martins, os associados estão buscando a certificação do Instituto Biodinâmico (IBD Certificações). (MV)



Veículo: Diário do Comércio - MG


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