O atraso na entrada de café da nova safra (2012/13) no mercado deve contribuir para reduzir as exportações brasileiras do grão este ano mesmo com a estimativa de safra recorde, projetada em 50,45 milhões de sacas no último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estimativa é que o recuo fique entre 14,9% e 10,5% em relação aos volumes de 2011.
O problema foi causado pelas chuvas atípicas que atingiram as principais regiões cafeeiras em junho e início de julho. As precipitações contribuíram para a redução da oferta de produtos de melhor qualidade, embora ainda não existam números precisos sobre as perdas. O Conselho Nacional do Café (CNC), por meio de pesquisas com cooperativas, informou em julho que cerca de 30% a 40% do café produzido deve apresentar qualidade baixa. A atual safra também sofreu com a estiagem entre o fim do ano passado e os primeiros meses de 2012.
Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), acredita que os embarques totais em 2012 (grão verde e industrializado) devem somar entre 28,5 milhões e 30 milhões de sacas (60 quilos) ante a expectativa inicial de 31 milhões. Se concretizados os números, representarão queda de 14,9% e 10,5% respectivamente ante as 33,5 milhões de sacas exportadas no ano passado. O primeiro semestre também apresentou queda em virtude da oferta menor do grão colhido no ciclo de baixa 2011/12 na comparação com o anterior.
O Cecafé considera que, diante do resultado fraco na primeira metade do ano, o país precisaria embarcar no segundo semestre pelo menos um volume semelhante ao mesmo intervalo de 2011 - de 18 milhões de sacas -, o que resultaria em 3 milhões de sacas ao mês.
Em julho, por exemplo, os embarques somaram 2,077 milhões de sacas. "Em agosto, nos últimos dias, os embarques cresceram, e podem ser próximos de 2,4 milhões de sacas", observa Braga. Dados da Secretaria de Comércio Exterior divulgados ontem apontaram que as vendas externas no mês passado somaram 2,28 milhões de sacas, aumento de 25,2% sobre julho, embora levem em conta apenas o grão verde que perfaz o maior percentual das exportações.
A esperança é de embarques maiores a partir de setembro até o fim do ano, quando aumenta a demanda pelos cafés arábicas brasileiros em função do fim da safra na América Central e na Colômbia. O clima adverso e a incerteza sobre a oferta de grãos mais finos provocaram também retração das empresas para firmar contratos de exportação de mais longo prazo.
Braga explica que normalmente em períodos de início da safra os produtores são mais resistentes em vender o produto, e comercializam os cafés mais "fracos". Então, sob sua ótica, fica difícil de mensurar os prejuízos na qualidade do grão, ao mesmo tempo que não existe a certeza de que esta tendência continue neste ciclo, no qual o produtor está mais capitalizado.
Thiago Cazarini, proprietário da corretora Cazarini, pondera que o volume de negócios nos mercados interno e externo recuou de 30% a 40% nesta safra em relação ao mesmo intervalo do ano passado, apesar dos valores mais altos pagos pelo grão brasileiro em relação a outras origens. E acrescentou que o mercado se mantém lento há cerca de seis meses.
Cazarini avalia que o mercado terá de resolver este impasse: ou o produtor vende a um valor que não considera interessante, ou o torrefador vai ter de postergar compras, pagar mais alto por uma origem que sempre era mais barata ou buscar outras alternativas no mercado. "Ele pode comprar menos e colocar menos café do Brasil no 'blend'. Mas somando todas as origens, terá de adquirir o produto brasileiro", acredita.
Veículo: Valor Econômico