Para reduzir custos fixos, uma das tendências do setor varejista internacional, que busca alternativas para minimizar a crise financeira, o varejo supermercadista brasileiro começa a reforçar uma estratégia recente, a de abrir redes distintas no mesmo espaço físico, como é o caso da parceria entre a varejista de materiais para construção Leroy Merlin com o Grupo Pão de Açúcar, além da Dicico, parceira no Brasil do Carrefour e do BIG (Wal-Mart). Agora, a nova onda é concentrar o maior número de serviços no ponto-de-venda, ao inaugurar pólos atacadistas colados ao varejo - ação adotada pelo sócio majoritário da rede Pão de Açúcar, Abilio Diniz.
Nesta segunda-feira (8), Diniz abre uma unidade da bandeira de atacado e varejo (atacarejo) Assai integrada à operação do hipermercado Extra João Dias, na zona sul da capital paulista, separados apenas por uma parede transparente de acrílico. A idéia de conceber o "power center" - como foi batizado esse conceito de duas lojas no mesmo espaço físico - surgiu após viagens de Diniz, para conhecer operações varejistas no mundo. "Tivemos como benchmark operações conduzidas pelas redes norte-americanas Wal-Mart com o Sam's Club e a Costco", diz José Roberto Tambasco, vice-presidente Comercial e de Operações da holding.
Ocupar um mesmo site (como é chamado o local em que as lojas estão instaladas) é uma ação que ganha fôlego diante de uma necessidade do mercado de reduzir gastos e compartilhar consumidores. "Os supermercadistas não sobreviverão se não diversificarem suas operações, agregando mais serviços aos clientes, pois o mercado evolui de maneira muito rápida", pontuou Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da consultoria especializada em varejo Gouvêa de Souza & MD (GS&MD).
A meta do Pão de Açúcar para o Assai no próximo ano é avançar no Estado de São Paulo e chegar às capitais Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG). Mês passado, a rede inaugurou sua primeira filial em Fortaleza (CE), local que também receberá investimentos. Na semana passada, foi entregue a Abilio Diniz o plano de expansão da rede presidida por Luiz Kogashi - que ainda tem nas mãos 40% do capital da companhia. O orçamento será submetido ao conselho de administração e anunciado ao mercado no primeiro trimestre de 2009.
"As novas lojas contemplarão o modelo tradicional e o power center. Já identificamos potencial para as cidades de Campinas (SP), Belo Horizonte e Brasília comportarem este modelo, já que os hipermercados instalados naquelas áreas têm uma boa área disponível, sendo que na capital mineira precisaríamos abrir um centro de distribuição", diz Tambasco. O Assai fechará este ano com o dobro de lojas frente a 2007, totalizando 28, e lucro bruto 40% maior até o terceiro trimestre, com R$ 50,1 milhões.
Estratégia
Para criar o Assai João Dias, o grupo varejista identificou em uma pesquisa que os clientes transformadores (pizzaria, lanchonetes e restaurantes) e pessoa física complementam as compras do "atacarejo" no hipermercado, devido ao maior sortimento de itens não-alimentares. "O consumidor utiliza até três lojas de bandeiras diferentes para comprar alimentos. Esta constatação reforçou o ideal de abrir uma loja com este formato", afirmou o vice-presidente de Operações.
Para despertar a curiosidade do cliente, a divisão entre as lojas é feita com uma parede de vidro: o cliente que estiver em uma das lojas conseguirá visualizar a outra. A estimativa é que 50% da base de clientes do Extra freqüentem o Assai, e vice-versa. O investimento na unidade consumiu R$ 6 milhões, sendo que a média de uma loja deste formato está entre R$ 8 e R$ 10 milhões.
De acordo com Luiz Kogashi, presidente do Assai, a estratégia complementa os serviços oferecidos pela rede, mais focada em produtos básicos, com os clientes complementando os serviços necessários no hipermercado. A expectativa para este Natal é que a venda sazonal seja 20% maior que a do ano anterior.
Wal-Mart
Nesta semana, a rede Wal-Mart Brasil trouxe à Grande São Paulo as bandeiras Todo Dia e Maxxi Atacado, as primeiras em seu formato na região. Com foco nas classes C, D e E, as novas unidades possuem uma plataforma de negócio desenvolvida para atender aos consumidores de baixa renda, sejam pessoa física ou jurídica. Os Municípios de Carapicuíba e Diadema foram os primeiros a receber estes formatos no estado. Cada unidade do Todo Dia e Maxxi é construída com investimento de R$ 5 milhões a R$ 15 milhões, respectivamente.
A respeito da chegada do concorrente a São Paulo, o vice-presidente comercial e de operações do Pão de Açúcar disse que "ele [o Wal-Mart] demorou a avançar com este modelo. Isto não altera nossos planos".
Varejistas como o Grupo Pão de Açúcar têm buscado fora do País tendências que ganham fôlego em momentos de crise, como dividir custos fixos de locação, com a abertura de unidades de redes distintas, no mesmo espaço físico. Depois de parcerias com lojas de material de construção, a empresa de Abilio Diniz abrirá, em São Paulo, semana que vem, uma loja da atacadista Assai separada apenas por uma parede de acrílico em uma unidade do Extra. A estratégia é avançar com esse modelo em Campinas, Belo Horizonte e Brasília.
Veículo: DCI