Fundada há 70 anos em Recife, a Rapidão Cometa, a maior empresa privada de logística e transporte de cargas do país, vai abandonar a marca para adotar a bandeira americana FedEx, uma da maiores transportadoras aéreas de remessas do mundo. A aquisição da empresa pernambucana pela FedEx, anunciada em maio deste ano, foi concluída em julho, mas os valores não foram divulgados.
O negócio chamou a atenção do mercado pois a Rapidão, em infraestrutura, é muito maior do que a FedEx. Sua folha de pagamento, por exemplo, é quase 15 vezes superior: 9 mil ante 622 pessoas.
Após o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em setembro, executivos das empresas revelam que a integração deverá ser concluída entre 18 e 24 meses. E será nesse período que a marca Rapidão deverá sair do mercado.
Quatro meses após anunciar a venda da empresa fundada por sua família, e se tornar presidente da FedEx Express Brasil, Américo Pereira Filho e o diretor comercial da Rapidão, Ricardo Araújo, que passa a exercer a mesma função na FedEx, contaram ao Valor os planos da empresa, que faturou mais de R$ 1 bilhão em 2011.
Investir na capacidade de atendimento dos clientes do comércio eletrônico e oferecer um serviço para pessoas físicas são alguns dos planos, já em curso.
"O e-commerce cresce com a FedEx. No médio prazo, as tecnologias de rastreamento da FedEx vão ser incorporadas e poderemos avançar muito nesse negócio", disse Américo Filho. Segundo ele, o rastreamento de encomendas ainda tem alcance limitado no Brasil. "Hoje é a unidade que enxergamos maior potencial de crescimento", acrescentou.
Antes de comprar a Rapidão, a FedEx, no Brasil, estava entre as 25 maiores operações globais. A empresa tinha 622 funcionários, com frota de 156 veículos terrestres, dois aviões e 84 centros autorizados de remessas. Com o negócio, a filial brasileira passou a ser uma das cinco maiores do mundo. Por meio da Rapidão, herdou 6 mil funcionários, 770 veículos, 145 pontos de distribuição e 17 mil clientes.
FedEx e Rapidão passam por um intenso processo de integração. Antes de concluir essa etapa, já estão oferecendo soluções combinadas para clientes, especialmente os de maior porte.
"Do fim de julho para cá, centenas de oportunidades de novos negócios já vieram para a mesa. Tanto para o lado internacional quanto para o doméstico", afirma Araújo. Segundo ele, após a aquisição, a FedEx aprovou "o maior investimento da história da Rapidão", em ampliação de frota, não divulgado. Somente no ano passado, a Rapidão aplicou R$ 17 milhões para comprar 150 veículos terrestres.
"Estamos desenvolvendo uma rede específica para pessoa física", diz Américo, ao lembrar que, muitas vezes, esse cliente não tem quem receba a encomenda no seu endereço. A área voltada a pessoas físicas é uma das que mais deve receber investimentos em capacitação e sistemas, segundo Américo, que não revela as cifras envolvidas.
Com o aparato da Rapidão, a empresa americana pretende avançar no segmento conhecido por "ponta a ponta", pelo qual não apenas traz as mercadorias para o Brasil, como distribui em todo o território nacional, ganhando competitividade.
Outro foco será o setor de pequenas e médias empresas, no qual há clientes queixosos com o serviço da Rapidão. Um importador pernambucano que preferiu não ter o nome publicado disse que a empresa é competitiva em preço, mas que perde na agilidade para concorrentes menores.
A adequação dos serviços para o "padrão FedEx" é justamente o que vai determinar a mudança da marca da empresa pós-aquisição. De acordo com Américo, o nome só será alterado definitivamente para FedEx quando os serviços estiverem em linha com o que é praticado pela empresa americana.
No início de 2009, a fim de profissionalizar a gestão, a Rapidão vendeu uma participação minoritária ao fundo de private equity GG Investimentos, do ex-ministro do Planejamento Antonio Kandir. Pouco tempo depois, começaram as negociações com a FedEx, que duraram dois anos.
No momento em que a negócio foi anunciado para o mercado, todos os executivos da divisão América Latina da FedEx estavam no Recife, diante de um auditório lotado com 2 mil funcionários da Rapidão, a quem explicaram o negócio, cujo valor é guardado a sete chaves.
Américo acredita que o setor de transportes e logística ainda está muito pulverizado no Brasil, e que a tendência é de consolidação. O executivo vê a FedEx como um agente consolidador do processo mas, questionado sobre possíveis aquisições, se esquiva: "O foco é a integração".
Foco está no segmento de comércio eletrônico
Com 1 milhão de entregas processadas mensalmente no mercado paulista, ou 12 milhões por ano, a infraestrutura da Rapidão Cometa, que se tornará FedEx, em São Paulo é uma das maiores do país, superando sua terra natal, Recife, segundo o diretor comercial da FedEx, Ricardo Araújo.
Eu um galpão com 25 mil metros quadrados, espaço suficiente para abrigar três campos de futebol iguais aos do Maracanã, 1 mil trabalhadores se revezam em três turnos, sob rigoroso sistema de segurança. Só no refeitório, são produzidas 1,3 mil refeições por dia.
De área total, são 65 mil metros quadrados, em Guarulhos. Lá, circulam, todos os dias, 200 veículos. Para empilhar caixotes em prateleiras que quase chegam ao teto, com 12 metros de altura, o equivalente a um prédio de quatro andares, são usadas 15 empilhadeiras.
A infraestrutura em Guarulhos reserva parte do espaço para entregas de clientes do comércio eletrônico. A transferência do conhecimento dos americanos no segmento de entregas expressas, fracionadas e de pequeno porte será fundamental para o lançamento de um serviço competitivo nesse mercado, que ainda tem presença discreta na Rapidão.
É por isso que a FedEx tem na expansão do comércio eletrônico uma prioridade para os próximos anos, segundo o presidente da Fedex Express no Brasil, Américo Pereira Filho. Segundo ele, o comércio eletrônico cresce acima de 30% ao ano, no país. Atualmente, grande parte das vendas eletrônicas operacionalizadas pela Rapidão está concentrada em eletroeletrônicos, tendo como clientes os principais varejistas do país.
O executivo negou que tenha conversado com representantes da Amazon, gigante americana que prepara sua chegada ao Brasil para 2013, parceria aventada pelo mercado. "A Amazon está fazendo uma aposta no país, mas não conversei com ninguém. Se houve alguma conversa por lá [Estados Unidos], eu não estou sabendo."
Araújo, diretor comercial da FedEx, afirmou que não teve informação sobre a parceria da Amazon com a FedEx. "Eu não estou envolvido nisso. É um absurdo? Não. Se eu fosse a Amazon olharia o mercado brasileiro com carinho e conversaria com a FedEx", disse
O Valor enviou um questionário à FedEx sobre a sua relação com a Amazon, nos EUA, e uma possível parceria, no país.. A FedEx informou que não se pronunciaria porque "existem acordos de confidencialidade em vigor".
Veículo: Valor Econômico