Vendas de remédios receitados para redução de peso mas não aprovados para esse fim aumentaram desde 2011
Ganho de mercado foi acentuado após o veto da Anvisa à venda dos inibidores derivados de anfetamina, há um ano
Após o veto à venda de inibidores de apetite do grupo das anfetaminas e derivados (femproporex, mazindol e anfepramona), a partir de dezembro de 2011, médicos e pacientes podem ter migrado para alternativas "off-label" -remédios usados para fins diferentes daquele para o qual foram aprovados.
É o que indica um levantamento do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo), com dados da consultoria IMS Health, que mediu a venda de três drogas usadas como alternativa para perda de peso.
O Victoza (para o tratamento da diabetes tipo 2) teve o maior percentual de aumento entre os três. Saltou de 7.800 caixas vendidas em agosto de 2011 para 35,3 mil em setembro -mês em que, em meio às promessas da Anvisa de retirar os inibidores do mercado, a revista "Veja" abordou o emprego do Victoza para a redução do peso.
Em dezembro, quando os inibidores saíram de vez do mercado, 58,5 mil caixas de Victoza foram vendidas.
Outro crescimento foi registrado na venda do antidepressivo bupropiona, que aumentou 21,4% de novembro de 2011 a agosto deste ano.
Também foram analisadas as vendas do topiramato (anticonvulsivante).
Nos meses anteriores à vigência da proibição, o crescimento foi de 20%; de novembro de 2011 a agosto desse ano, subiram 26,8%.
Como comparação, diz o Sindusfarma, o mercado cresceu cerca de 9% em número de unidades de janeiro a setembro de 2012.
Para o sindicato, é possível fazer a relação da explosão nas vendas do Victoza com o veto aos inibidores.
"Quando você diminui o arsenal terapêutico, os médicos procuram se utilizar de outros, mesmo que indicações 'off-label' ", afirma Nelson Mussolini, do Sindusfarma. Por não acompanhar as prescrições, a entidade evitou, porém, fazer a relação direta do aumento dos outros remédios com o veto da Anvisa aos inibidores.
Já Alfredo Halpern, professor de endocrinologia da USP, diz não ter dúvidas de que o crescimento das vendas tem a ver com a proibição. "O topiramato está aí há anos, a bupropiona também. O que aconteceu, por causo houve um surto de depressão? E a venda desses remédios tende a aumentar ainda mais, a não ser que venham outros."
Rosana Radominski, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), concorda.
"Ficamos órfãos e estamos usando 'pais substitutos'."
A retirada dos inibidores foi criticada em audiência pública ontem na Câmara. Para especialistas e deputados, o veto aumentou contrabando, uso "off-label" e teve impacto no aumento de peso e das cirurgias bariátricas.
A Anvisa disse saber que existe o uso "off-label", mas afirmou não ter avaliado aumento dessas prescrições.
Veículo: Folha de S.Paulo