A intolerância alimentar abre mercado à indústria

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O crescimento do número de brasileiros que convivem diariamente com algum tipo de intolerância alimentar vem estimulando pequenas empresas a investir nesse novo nicho de mercado. Criada há sete anos como uma organização não-governamental (ONG), a Associação Fartura Alimentos tinha o objetivo de auxiliar pequenos agricultores com a armazenagem de alimentos. Mas uma visita às comunidades agrícolas mostrou que seria mais importante auxiliá-los no desenvolvimento de uma produção industrial. O diretor-presidente da associação, Ricardo Assumpção, conta que o milho foi definido como matéria-prima básica, por ser a cultura mais plantada, e o macarrão, o alimento mais consumido, surgindo, assim, o macarrão de milho.

Em outra frente, a Comarroz, localizada em Cerquilho (SP), iniciou sua produção com o beneficiamento de arroz e posterior fabricação de farinha e de flocos de arroz, o que levou à produção do macarrão de arroz. "Percebemos uma mudança no mercado, com uma busca maior por produtos", conta o diretor Sérgio Flora. Segundo ele, foram investidos cerca de R$ 15 milhões nos anos de aprimoramento do produto, chegando a uma farinha diferenciada, que permite a utilização de máquinas comuns, reduzindo custos. Patenteado o processo, o produto logo chamou a atenção dos consumidores.

Diagnosticado como celíaco (palavra pela qual se definem intolerantes a glúten) aos 50 anos, Paulo Brueckheimer começou a fabricar seus próprios pães por não encontrar o produto e isso abriu um novo mercado para a indústria de pães Aminna.


Milhares de brasileiros convivem diariamente com a intolerância ao glúten, proteína presente em cereais como o trigo e a cevada. Esses consumidores, sujeitos a pouca atenção da indústria de alimentos, acostumaram-se a privar-se de produtos que causam os desagradáveis sintomas da doença, ou a pagar caro por alternativas disponíveis apenas em poucos pontos de venda. Motivados pelo senso de oportunidade ou pela convivência pessoal com a doença, pequenos empresários perceberam aí um novo nicho de negócios e resolveram apostar no segmento de alimentos considerados especiais.

Assim, multiplicam-se pelo Brasil indústrias voltadas para consumidores com algum tipo de restrição alimentar. Muitas dessas empresas apostam na inovação para responder às demandas de seu público e criam soluções criativas até mesmo para vencer as barreiras à distribuição.

Macarrão de milho

Criada há sete anos como uma organização não-governamental (ONG), a Associação Fartura Alimentos tinha como proposta inicial auxiliar pequenos agricultores com a armazenagem de alimentos. Com a visita a comunidades agrícolas, percebeu-se a necessidade de ajudar os produtores a desenvolver uma produção industrial. Assim, a entidade começou a ser procurada para assessorar produtores de culturas diversas, como banana, café, cogumelo, mel e até peixe.

"Percebemos que não tínhamos estrutura para atender a todos esses ramos de conhecimento, então decidimos ter um carro-chefe para atuar nisso", conta o diretor-presidente da associação, Ricardo Assumpção. "Pensamos: O que todo pequeno agricultor planta? Milho. O que se consome no mundo inteiro, quase sem restrição? Macarrão. Então decidimos fazer macarrão de milho."

A organização investiu cerca de R$ 3 milhões, em cinco anos, para desenvolver um processo fabril para o produto. Mais R$ 1,5 milhão foi aplicado ao maquinário, adaptado à matéria-prima diferente. Há quatro meses, a indústria entrou no mercado com a marca Tivva. "Na Itália, onde existe produto semelhante, o macarrão sai do fubá após dois processos, conseguimos reduzir isso para um", conta o empreendedor, que patenteou a inovação obtida.

Localizada em Sorocaba (SP), a indústria piloto possui capacidade para a produção de 50 toneladas de massa ao mês, em um turno, utilizando hoje 20% disso. O milho é fornecido por cerca de 40 produtores, que recebem de volta o produto processado. A organização já conta com 22 distribuidores e 300 pontos de venda, que oferecem o alimento ao preço de marcas de macarrão premium. A expectativa é de que o negócio comece a dar lucro em cinco meses.

"Desenvolvida totalmente a tecnologia, planejamos levá-la para cooperativas de pequenos agricultores, num modelo de franquia industrial, para que eles não vendam sua produção in natura, mas alimentos processados, de maior valor", conta. Os consumidores com restrição a glúten não são o único público-alvo. O objetivo é vender também para prefeituras, que precisam, por lei, destinar parte da verba federal para a merenda escolar a produtos de pequenos agricultores. "Só a agroindústria pode mudar a realidade do meio rural", acredita.

Macarrão de arroz

Localizada em Cerquilho (SP), a Comarroz iniciou sua produção com o beneficiamento de arroz, e posteriormente, a fabricação de farinha e de flocos de arroz. "Em certo momento, percebemos uma mudança no mercado, com uma busca maior por produtos práticos. Assim criamos a massa de arroz, primeiro em formato de grãozinho e, depois, de macarrão", conta o diretor Sérgio Flora.

O empresário conta que foram investidos cerca de R$ 15 milhões nos anos de aprimoramento do produto, chegando a uma farinha diferenciada, que permite a utilização de máquinas comuns, reduzindo custos. Patenteado o processo, o produto logo chamou a atenção dos consumidores intolerantes a glúten. "Abandonamos o ensacamento e nos tornamos uma empresa de produtos à base de arroz", conta.

Segundo Sérgio, a principal dificuldade para a empresa hoje são o alto custo do arroz e a distribuição do produto acabado. Como solução para isso, o empresário busca um investidor para criar uma loja virtual de produtos livres de glúten e saudáveis. Segundo ele, um aporte de R$ 100 mil viabilizaria o projeto.

A produção da empresa está em 30 toneladas mensais, entre massas e biscoitos, com utilização de 5% da capacidade instalada. A distribuição é feita principalmente através de lojas de produtos naturais e o preço seria o dobro da média do macarrão comum. "Nos esforçamos para que o valor não ultrapasse os dos produtos premium, sacrificando margens para ganhar o conhecimento do consumidor", diz. A empresa conclui em 2013 um ciclo de investimento de cinco anos, com R$ 10 milhões aplicados, e planeja no ano que vem ampliar sua rede de distribuição.

Panificação

Diagnosticado celíaco - como são chamados os intolerantes a glúten - aos 50 anos, Paulo Brueckheimer começou a fabricar seus próprios pães por não encontrar o produto pronto no mercado. Então franqueado de uma rede de frango frito, o empresário passou a receber pedidos pelos seus pães sem farinha de trigo, percebendo, assim, a oportunidade de criar uma indústria. Aposentou-se, voltou à escola para aprender gastronomia, formando-se em 2006. Os clientes foram se multiplicando e a Aminna fabrica hoje 45 toneladas mensais, entre pães, bolos, biscoitos, torradas e mistura para pães. "Nossa capacidade está no limite", diz Brueckheimer. O plano agora é obter R$ 5 milhões, através de linhas de financiamento, para em dois anos aumentar em oito vezes o potencial produtivo da planta em Blumenau (SC).

Com distribuição própria, através de frota contratada com exclusividade, a companhia chega atualmente a 200 pontos de venda em todo o País. O varejo de produtos naturais é o maior comprador, mas em São Paulo, por exemplo, já há uma parceria com o grupo Pão de Açúcar. "No varejista comum tem muito mais clientes, embora os naturais sejam um mercado muito importante", avalia.

Segundo o gastrônomo, a maior dificuldade na panificação sem glúten é obter, com substitutos como arroz, milho, mandioca e batata, textura, gosto e aparência similares àquelas dos produtos com trigo. Além disso, é preciso adaptar o maquinário comum às necessidades específicas da empresa. Com faturamento de cerca de R$ 2 milhões em 2011, a Aminna espera crescer até 45% este ano, segundo seu proprietário, após um incremento na receita de 60% no ano anterior.



Veículo: DCI


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